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UE reduz pela metade meta de consumo de etanol

OESP, Economia, p. B10
12 de Set de 2008

UE reduz pela metade meta de consumo de etanol
Decisão afeta objetivos do Brasil de exportar 4,9 bilhões de litros por ano até 2020

Jamil Chade, GENEBRA

O objetivo do Brasil de transformar o etanol em uma commodity internacional sofre um duro revés. Ontem, um dos principais comitês do Parlamento Europeu votou por modificar o pacote de leis para combater as mudanças climáticas e reduziu quase pela metade as metas de expansão do uso do etanol na União Européia até 2020. Pelo projeto original, a UE seria obrigada a importar biocombustível do Brasil para suprir a meta.

Com o corte, o comércio deve ser afetado. Os parlamentares acreditam que a Europa deve se focar em desenvolver carros movidos eletricidade e hidrogênio, e não com base no biocombustível. A idéia da UE era a de ter 10% de seus veículos movidos a etanol até 2020. O Brasil esperava ocupar pelo menos um quinto desse mercado.

Hoje, a Europa consome 20% das exportações brasileiras de etanol, com 2,1 bilhões de litros em três anos. Se a meta fosse mantida, a UE compraria do Brasil cerca de 2,8 bilhões de litros por ano até 2010 e 4,9 bilhões até 2020.

Mas o comitê alegou que a meta era inviável, geraria desmatamento e alta nos preços de alimentos. A votação ocorre depois de meses de pressão por parte de grupos ambientais e opositores ao etanol. O governo brasileiro chegou a alertar que parte do lobby tem sido apoiado pela indústria do petróleo.

A meta fazia parte de um pacote ambicioso da UE para reduzir a dependência do petróleo e emitir um volume menor de gás carbônico. E tinha como objetivo criar uma nova base energética. A esperança era de que o projeto entrasse em vigor no dia 1 de janeiro de 2009. Para 2020, a idéia seria de 20% de toda a energia européia vir de fontes renováveis - o dobro dos atuais. O comitê manteve a meta de 10% para energias renováveis no transporte.

Mas decidiu que pelo menos 40% sejam obtidos com eletricidade, hidrogênio e de biocombustíveis de segunda geração (fabricados a partir do lixo). Na prática, o etanol feito a partir de milho, cana e outros produtos agrícolas se limitarão a 4% do consumo europeu em 2020. Hoje, o etanol ocupa cerca de 2% dos veículos europeus.

Diplomatas brasileiros que acompanharam a decisão não escondiam a decepção.

A própria Organização das Nações Unidas (UNU) pediu que a meta fosse abandonada, alegando que somente seria atingida com amplos subsídios que distorceriam os mercados. Para o relator da ONU para o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, o impacto sobre o preço da comida seria alto. Cerca de 70% da alta nos preços dos alimentos nos últimos meses ocorreram por causa do etanol, principalmente nos Estados Unidos e Europa, afirmou.

A nova proposta de lei será submetida ao Parlamento. Se aprovada, segue para ser renegociada entre os 27 países da UE. A França, que preside o bloco, quer uma lei até o fim do ano. ONGs ambientalistas comemoravam. Adrian Bebb, da entidade Friends of the Earth Europe, afirmou que o voto "reconhece o sério problema associado ao uso do etanol". Usar produtos agrícolas para alimentar carros uma falsa solução, disse.

O comitê ainda decidiu que, até 2015, 5% por cento dos combustíveis do transporte rodoviário virão de fontes renováveis,sendo um quinto de fontes não agrícolas. Os biocombustíveis precisam emitir 45% a menos de gás carbônico em relação à gasolina para serem aceitos, até 2015, 60% menos, decidiram os países da UE.

OESP, 12/09/2008, Economia, p. B10

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