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UE pode retaliar Brasil por importação de pneus usados

OESP, Economia, p. B3
26 de Dez de 2008

UE pode retaliar Brasil por importação de pneus usados
País perde prazo estabelecido pelo órgão para regularizar situação

Denise Chrispim Marin e Felipe Recondo

O Brasil corre o risco de sofrer uma retaliação da União Européia (UE) por não cumprir o prazo dado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) para uniformizar a proibição à importação de pneus usados. O período de 11 meses concedido pela organização se esgotou no último dia 17 e o governo brasileiro não conseguiu cassar as liminares concedidas pela Justiça que permitem essas importações, nem criar um regime comum no Mercosul sobre esse tema.

Nos próximos dias, o Itamaraty vai pedir aos europeus a extensão do prazo, mas já dá como certas a negativa de Bruxelas e a solicitação de um painel de implementação da OMC, que definirá se podem ser adotadas sanções contra produtos brasileiros.

O governo já decidiu que não abrirá mão da lei que proíbe o ingresso de pneus usados no mercado brasileiro, por conta de seu impacto no meio ambiente e na saúde pública.

O Itamaraty calcula que, eventualmente, será mais benéfico ao País arcar com a retaliação da União Européia do que abolir a proibição ou alimentar uma tensão com os sócios menores do Mercosul, Paraguai e Uruguai.

Os dois países são favorecidos por uma cota de importação de pneus reformados por determinação do Tribunal Arbitral do Mercosul.

A controvérsia sobre a importação de pneus se arrasta desde novembro de 2005, quando a União Européia pediu a formação de um painel de arbitragem sobre a questão.

Em dezembro de 2007, o Órgão de Apelação da OMC respaldou a argumentação brasileira de que a importação de pneus reformados teria sérias implicações ambientais e à saúde da população. Porém, os árbitros determinaram que o País eliminasse duas brechas discriminatórias - as liminares que driblam essa proibição e as cotas para o Paraguai e o Uruguai.

O pedido do governo de cassação de todas as liminares deverá ser julgado apenas em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O caso recebeu parecer favorável do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que o encaminhou à ministra Carmem Lúcia, do Supremo, no início de novembro.

Há dois anos, negociadores brasileiros tentam convencer o Paraguai e o Uruguai a adotar uma regra do Mercosul sobre o comércio de pneus reformados. Sem sucesso, o tema não entrou sequer na agenda da reunião de cúpula do bloco, na semana passada, na Costa do Sauípe (BA).

Cármen Lúcia informou que a ação já está liberada para ser julgada pelo plenário do Supremo. Na quinta-feira, ela pediu ao presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, para que o assunto seja incluído na pauta do tribunal. Como o STF entrou em recesso na sexta-feira, o assunto ficou para 2009.

Desde que chegou ao Supremo, em 2006, a ação teve de seguir um longo caminho. Inicialmente, a ministra teve de pedir a 22 juízes federais e a quatro tribunais regionais federais dados sobre todas as decisões judiciais que envolvessem a importação de pneus usados.

Nesse meio tempo, ouviu advogados, integrantes do governo e representantes de empresas em mais de 30 audiências. Diante da polêmica sobre o assunto, decidiu promover uma audiência pública, a segunda no Supremo. Na audiência foram ouvidos empresários, ecologistas e o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

No plenário, os ministros deverão decidir se a proibição imposta pelo governo para a importação de pneus vale para todo o País.

OESP, 26/12/2008, Economia, p. B3

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