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UE aposta em etanol para reduzir emissão de CO2

OESP, Vida, p. A18
23 de Jan de 2008

UE aposta em etanol para reduzir emissão de CO2
Europa anuncia hoje plano que custará mais de US$ 86 bilhões por ano; projeto enfrenta resistência

Jamil Chade

A Europa anuncia hoje seu novo plano de corte de emissões de CO2 e que custará mais de US$ 86 bilhões (cerca de R$ 155 bilhões) por ano para ser colocado em prática. O projeto provoca forte resistência entre governos, empresas e ativistas. Nos bastidores, o lobby dos diferentes grupos se intensifica.

A principal preocupação dás governos é a de que as novas limitações em emissões acabem afetando a competitividade da economia européia nas próximas duas décadas. O plano inclui também um maior uso do etanol, o que desperta o interesse de exportadores brasileiros. No ano passado, os europeus chegaram a um acordo de reduzir em 20% de suas emissões de CO2 até 2020. A taxa já era menor do que a esperada pelos cientistas, mas Bruxelas alegou que não poderia adotar um corte mais profundo enquanto as demais economias também não se comprometessem com a redução.

Agora, a Comissão Européia apresenta seu projeto de como quer que o corte ocorra até 2020. Um dos pilares da proposta é a adoção de uma meta para o uso de biocombustíveis. A UE quer que 10% dos carros até 2020 sejam movidos a etanol. Mas ativistas, o Parlamento britânico e até cientistas da comissão alertam que a meta pode ser um erro.

Na prática, países como o Reino Unido teriam de aumentar o uso do etanol em seis vezes para atingir a taxa pedida pela comissão. Para conseguir cumprir a meta, a UE admite que terá de importar cerca de 20% do etanol do Brasil e de outros países. E, para isso, anunciará hoje também a criação de um selo verde. 'Se o Brasil quiser exportar etanol terá de mostrar que o produto não foi resultado de devastação florestal', afirmou o porta-voz do Departamento de Energia da Comissão Européia, Ferran Tarradellas.

Cobrança por emissão

Outro pilar da estratégia será o de cobrar das indústrias pelas emissões. Cerca de 11 mil plantas industriais na Europa acabarão tendo de pagar ou reduzir de forma drástica suas emissões. Nesta semana, o setor privado alemão anunciou que a medida custará apenas à indústria do país cerca de 17 bilhões (perto de R$ 46 bilhões).

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, admitiu que indústrias pesadas poderão ter tratamento diferenciado. Sinal de que Bruxelas teria cedido ao lobby nos bastidores dos setores químicos e siderúrgico, entre outros. O que muitos governos alegam é que as novas medidas acabarão tendo efeito na capacidade de a Europa competir com outras economias que não contam com exigências ambientais, como os EUA. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, quer que setores que sofram com a concorrência externa sejam autorizados a manter taxas mais elevadas de emissão de poluentes, proposta atacada por ambientalistas.

Outro princípio é de que os países mais ricos dentro do bloco de 27 nações terão de cortar mais emissões do que os mais pobres. Isso significará que escandinavos terão de promover os maiores cortes, enquanto as economias do Leste Europeu ficariam praticamente isentas. Suécia e Dinamarca são contra.

Se não bastassem as crises internas na UE, ontem Bruxelas abriu nova polêmica. Barroso defendeu que impostos de importação fossem cobrados de países que não aderissem a pactos de redução de emissão de CO2, como EUA. O governo britânico e a Casa Branca reagiram, alertando que Bruxelas não deve usar mudança climática como justificativa para o protecionismo .

Usineiros se fixarão em Bruxelas

Jamil Chade

Os usineiros brasileiros vão abrir um escritório em Bruxelas, capital da União Européia, e prepararam uma campanha de marketing para promover o etanol do País como uma solução ecológica. A Unica (entidade da agroindústria canavieira) escolherá uma espécie de 'embaixador' para cuidar dos interesses dos exportadores de etanol ao mercado europeu.

O objetivo é conter a reação cada vez mais forte da opinião pública européia e de autoridades que colocam em xeque os benefícios do etanol. Representantes da UE têm alertado sobre o uso dos biocombustíveis como alternativa ao petróleo.

Bruxelas vai apresentar a proposta de criação de um certificado ambiental para o etanol. O projeto, obtido pelo Estado, prevê o rastreamento das commodities antes de serem levadas às usinas para serem transformadas em etanol. O governo brasileiro já se reuniu com a Comissão Européia para dizer que não aceitará uma política que discrimine o produto nacional.

OESP, 23/01/2008, Vida, p. A18

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