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Tuxaua diz que Igreja Católica se desviou da sua verdadeira missão

Brasil Norte-Boa Vista-RR
Autor: WIRISMAR RAMOS
29 de Out de 2004

"A Igreja Católica tem que se preocupar em pregar a Palavra de Deus e não com questões fundiárias, como vem fazendo", disse Gilberto Macuxi

O presidente Arikon, Gilberto Macuxi disse que não admite que pessoas de outros países ou alheias a Roraima, venham dizer como é que o Estado deve se comportar quanto à sua população

As declarações do presidente da Comissão Episcopal Para a Amazônia, Dom Jaime Chemello, afirmando que a Igreja Católica estará sempre ao lado das comunidades indígenas (no caso de Roraima, da facção que defende a homologação da reserva Raposa/Serra do Sol de forma contínua), não foram bem recebidas pelo presidente da Associação dos Índios do Rio Cotingo e Kinô (Arikon), Gilberto Macuxi.
O líder indígena também criticou a disposição da Comissão em ir a Brasília pressionar o Governo Federal para que a demarcação da reserva seja resolvida de uma vez e o mais depressa possível. Macuxi disse que a Igreja Católica se desviou da sua verdadeira missão (evangelizar) para se envolver em assuntos que não lhe dizem respeito.
"A Igreja Católica tem que se preocupar é com a missão dela, que é pregar a Palavra de Deus e não com questões fundiárias, como vem fazendo, principalmente em relação à demarcação de terras indígenas aqui em Roraima, patrocinada por organizações não governamentais estrangeiras", desabafou.
Gilberto Macuxi disse não admitir que pessoas de outros países ou alheias a Roraima e à causa indígena, venham dizer como é que o Estado deva se comportar em relação à sua população. "Dos nossos assuntos, cuidamos nós", enfatizou.
O presidente da Arikon afirmou que todas as organizações indígenas têm interesse que o Governo Federal resolva logo esse impasse que gira em torno da homologação da reserva Raposa/Serra do Sol.
"Defendemos que a demarcação seja em sete grandes ilhas e temos inclusive projetos de desenvolvimento sustentável para a reserva, depois que a homologação for concretizada", destacou. Segundo Gilberto Macuxi, entre esses projetos, está a parceria com o Governo Estadual e os setores produtivos do Estado (principalmente na área agrícola). Ele citou como exemplo, um projeto de agricultura mecanizada, irrigada com as águas do Rio Cotingo (Município de Uiramutã). Outro projeto citado por Macuxi se refere à construção de uma usina hidrelétrica na Cachoeira do Tamanduá. "Uma hidrelétrica construída ali terá condições de fornecer energia para a maioria dos municípios do interior e até a Capital Boa Vista", defendeu..(Brasil Norte, 29.10.04)
Macuxi prevê conflito sangrento caso homologação seja contínua
"O Governo Federal, a Igreja Católica e a Funai serão os responsáveis pelo derramamento de sangue que acontecer na área da Raposa/Serra do Sol, caso o presidente Lula decida pela demarcação em área contínua". O alerta é do presidente da Arikon, Gilberto Macuxi.
O líder indígena disse ontem ao Brasil Norte que as entidades que defendem a homologação em ilhas da reserva irão propor, nos próximos dias, um acordo de paz com o Conselho Indígena de Roraima (CIR) para tentar acabar com os conflitos.
"Vamos propor ao CIR, pacificamente, que parem de invadir fazendas e retirem a barreira montada na comunidade Pedra Branca, porque está atrapalhando a passagem das pessoas que moram nas vilas do Mutum, Água Fria e a sede de Uiramutã", adiantou.
Macuxi disse ainda que, mesmo depois disso os índios ligados ao CIR não aceitarem a proposta, os indígenas que defendem a demarcação em ilhas irão se preparar para agir, mesmo que seja de forma violenta.
"Se não houver acordo, vamos isolar de vez a maloca do Maturuca e transformar o posto de fiscalização da comunidade Cuaiputá (maloca do Contão) em barreira permanente", ameaçou.
Gilberto Macuxi elogiou a decisão do juiz Federal Hélder Girão Barreto, que determinou a desocupação das fazendas invadidas pelos índios no Município de Normandia. O prazo termina na próxima quarta-feira (3 de novembro) às 18 horas.
CIR
A reportagem tentou ontem à tarde falar com o coordenador do CIR, Jacir de Souza, para que ele comentasse as declarações do presidente da Arikon, Gilberto Macuxi. Mesmo insistindo por diversas vezes, ninguém atendeu ao telefone para marcar entrevista.(

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