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Tuxaua diz à procuradora que carregar jamaxim é sofrimento

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: REBECA LOPES
13 de Jun de 2003

O tuxaua Jonas Marcolino disse que não dá mais para viver primitivamente

"Queria poder colocar um jamanxim nas costas da subprocuradora. Isso seria bonito nos primeiros dias, mas, durante a vida toda, é sofrimento". A declaração foi feita pelo representante da Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima), tuxaua Jonas Marcolino, na Audiência Pública, coordenada pela Seccional de Roraima da OAB, no auditório do Palácio da Cultura.

Jonas Marcolino, que também representou as entidades Alidicir e Arikon, disse que apesar de alguns defenderem a demarcação em área contínua, como forma de preservar a cultura e tradições, eles dispõem de tecnologias, trator, celular e roupa.
"Não temos como ignorar a realidade. Não dá mais para viver primitivamente. Chega de sofrimento, o índio quer se desenvolver", comentou, argumentando que é preciso trabalhar racionalmente o solo e não somente preserva-lo, achando que dessa maneira pode estar compensando o que há séculos foi tirado do índio.

Na sua explanação, a assessora jurídica do CIR, Joênia, argumentou que o processo já está realizado, faltando apenas cumprir o que determina a portaria. Para ela, não existe amparo legal para se reverter o que a Constituição Federal garante.
"Não existe possibilidade jurídica de reverter a demarcação. Precisamos evitar precedentes negativos na regularização fundiária, e garantir ao povo indígena condições de sobrevivência física e moral. Nós desejamos o desenvolvimento sustentável e que respeitem os direitos garantidos pela Constituição", declarou.

O líder ianomâmi, David Kopenawa, abriu seu discurso falando na língua ianomâmi. Ele polemizou ao acusar o governador do Estado, Flamarion Portela (PT) de faltar com a verdade. "Quando o governo foi visitar nosso povo, voltou contando mentira", destacou.

Quase ao final da reunião, o governador se defendeu, alegando que foi à área ianomâmi acompanhando uma comissão vinda de Brasília, e suas declarações foram baseadas em informações repassadas por técnicos. "Posso ter todos os defeitos do mundo, mas não sou mentiroso", contra-atacou Portela.

As declarações às quais se referia Davi Kopenawa, diziam respeito ao trabalho desenvolvido pela Urihi - Saúde Yanomami. Segundo Portela, médicos contratados pela ONG faziam atendimento através de rádio fonia e quando outros profissionais queriam ajudar, a Urihi não deixava.

ATENTOS - O ministro, juntamente com o presidente da Funai, Eduardo Aguiar Almeida e a subprocuradora geral da República, Ela Castilho, ouviram atentamente os argumentos dos representantes de vários setores.

Márcio Thomaz Bastos encerrou a audiência dizendo que a partir de hoje, a comitiva que aqui esteve, se reunirá com a que ficou em Brasília. No menor tempo possível, entregará ao presidente Lula da Silva, um relatório para que ele possa tomar sua decisão. "Tenho esperança e fé que vai se encontrar uma solução boa para Roraima e para os índios, que não perpetue o estado de inquietação que hoje vive", declarou.

Por ter ouvido posições extremadas nos dois sentidos, Bastos frisou que há um ponto em comum entre elas. "Ouvimos todos e percebemos um ponto comum para todos: a necessidade de se resolver a questão com urgência", disse, acrescentando que não seria possível tomar qualquer atitude, se não tivesse vindo aqui para ouvir opiniões contrastantes e divergentes.

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