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Turbinas de hidrelétricas podem parar com reservatórios a 10%

O Globo, Economia, p. 24
23 de Jan de 2015

Turbinas de hidrelétricas podem parar com reservatórios a 10%
Ministro cita risco, mas diz que país 'está longe disso'. Nível hoje está em 17%

CRISTIANE BONFANTI, DANILO FARIELLO, MÔNICA TAVARES E RAMONA ORDOÑEZ
economia@ oglobo.com.br

Segundo o ministro Braga, as turbinas das hidrelétricas vão parar se o nível dos reservatórios chegar a 10%. Hoje, está em 17%. -BRASÍLIA E RIO- Em meio a uma grave crise do setor elétrico, na qual o país passou a recorrer à energia da Argentina para atender ao aumento da demanda, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse ontem que as usinas hidrelétricas podem parar caso o nível dos reservatórios atinja os 10%. Atualmente, os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste estão em 17,43% e os do Nordeste, em 17,18%.
- Nenhum reservatório de hidrelétrica pode funcionar com menos de 10% de água. Ele tem problemas técnicos que impedem que as turbinas funcionem - explicou.
De acordo com Braga, o país enfrentará "problemas graves" no fornecimento de energia, inclusive um possível racionamento, caso os reservatórios das principais hidrelétricas caiam a este nível. O ministro ponderou, porém, que o país ainda está longe deste patamar, embora possa estar diante de um ritmo hidrológico que pode se comprovar até mais severo que o de 2001:
- Mantido o nível que nós temos hoje dos reservatórios, nós temos energia para abastecer o Brasil. É óbvio que, se tivermos mais falta de água, se passarmos do limite prudencial de 10% nos nossos reservatórios, aí estamos diante de um cenário que nunca foi previsto em nenhuma modelagem. O limite de 10% é o limite estabelecido pelo Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica) para o funcionamento das nossas usinas. A partir daí, teríamos problemas graves, mas estamos longe disso.
IMPORTAÇÃO DA ARGENTINA É 'ROTINEIRA', DIZ BRAGA
Na avaliação de Braga, o país tem energia, mas ainda está sujeito a algumas "intercorrências":
- Hoje mesmo tivemos uma em São Paulo. Árvores caíram, provocaram (um problema). Aqui em Brasília, aconteceu outro problema.
Ontem, dois apagões atingiram o Distrito Federal. De manhã, 257 mil consumidores ficaram sem luz em seis localidades - Ceilândia, Taguatinga, Guará, Estrutural, Lúcio Costa e Vicente Pires. A energia só foi religada mais de 40 minutos depois. No fim da tarde, também houve queda de energia na região central e na Asa Norte de Brasília.
Segundo a Companhia Energética de Brasília (CEB), o problema foi causado pelo desligamento em duas subestações de Furnas. A assessoria de Furnas disse que a origem da ocorrência foi um "curto-circuito em um equipamento de conexão associado a um dos transformadores de 345/138 kV da Subestação de Brasília Sul". A causa do curto-circuito ainda estava sob apuração.
À tarde, o problema ocorreu em uma subestação da própria CEB próxima ao estádio Mané Garrincha. Até o início da noite, não havia ainda uma causa precisa do apagão, mas ele ocorreu durante forte tempestade na região. Segundo nota da CEB, o desligamento da tarde durou apenas dez minutos a partir das 17h35m. Depois, "a subestação foi religada remotamente e o fornecimento de energia para a região foi normalizado".
Sobre a importação de energia da Argentina, Braga disse ontem que ela é "rotineira" e que não é "extraordinária". Ele afirmou que o Brasil tem um acordo com o país desde 2006 e um sistema interligado para a troca de energia.
- Isso sequer é tratado como compra de energia. O que temos é compensação de energia e isso funciona desde 2006 - disse, ao chegar de uma reunião na Casa Civil.
Indagado sobre o fato de ter concedido entrevista sobre soluções para a crise sem mencionar a importação de energia da Argentina, Braga disse que não estava a par naquele momento, apesar de a operação ter sido realizada naquele mesmo dia, segundo dados do Operador Nacional do Sistema (ONS).
- Não sabia. Muitas vezes, o que acontece é que, numa determinada região, temos que remanejar (energia) através das linhas de transmissão que estão podendo passar com energia adicional naquele momento. Isso não quer dizer que esteja faltando energia - disse.
ANEEL ESTUDA MAIS PRAZO PARA DISTRIBUIDORAS
Enquanto o governo ainda tenta encontrar uma solução para a crise, o país registrou novo recorde de consumo nas regiões Sudeste e Centro-Oeste na quarta-feira, no horário de pico às 14h32m, com um total de 51.894 megawatts (MW), superando o recorde anterior do dia 19, de 51.596 MW.
Com a combinação de temperaturas elevadas e consumo em alta, o país recorreu pelo segundo dia à importação de energia da Argentina. No dia 20, foram 165 MW médios do país vizinho. No dia seguinte, mais 90 MW médios. A importação foi necessária para atender à demanda total do país, de 73.780 MW, segundo dados do ONS. Desde dezembro de 2010, o país não recorria à energia argentina para atender a demanda doméstica.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) avaliará, na próxima terça-feira, um novo cronograma para pagamento de dívidas das distribuidoras de energia com o mercado de curto prazo. O prazo já havia sido adiado do dia 13 para o dia 30, à espera de uma negociação entre as empresas e os bancos para levantar novo empréstimo de R$ 2,5 bilhões, intermediado pelo governo. Segundo fontes próximas à negociação, os bancos públicos e privados relutam em ampliar seus empréstimos ao setor, alegando risco excessivo de concentração em um único mercado. No ano passado, as empresas contraíram empréstimos de R$ 17,8 bilhões.
A dívida das distribuidoras referente ao mês de novembro soma R$ 1,6 bilhão e venceria no dia 30 de janeiro. O empréstimo de R$ 2,5 bilhões leva em conta também o pagamento referente à compra de energia no mercado de curto prazo em dezembro, que só vence em fevereiro. O eventual atraso no cronograma de pagamento deve significar reajuste da dívida, de acordo com a taxa básica de juros ou algum índice de inflação. Comercializadores de energia já pressionam a Aneel a aplicar correção monetária nos pagamentos postergados, alegando prejuízo a todo o mercado.
O eventual reajuste da dívida deve aumentar a necessidade de financiamento das empresas, que ainda tentam negociar com o governo um prazo mais longo de pagamento dos empréstimos de R$ 17,8 bilhões, obtidos no ano passado. Elas querem pagar em quatro anos, e não em dois anos.

O Globo, 23/01/2015, Economia, p. 24

http://oglobo.globo.com/economia/petroleo-e-energia/turbinas-de-hidrele…

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