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Tupinambá de Olivença: começam os trabalhos de identificação

Cimi-Itabuna-BA
03 de Dez de 2001

Os trabalhos de levantamentos preliminares para identificação de demandas e reinvidicações
do povo Tupinambá de Olivença tiverem inicio nesta quinta feira, 28. Durante 15 dia serão
realizadas visitas as comunidades, conversas e levantamentos da história oral do povo com
lideranças tradicionais.O Antropólogo Jorge D´Paula e técnico António Agrícola ambos da
Funai, serão os coordenadores deste trabalho e terá o acompanhamento dos representantes
da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme),
Wilson de Jesus e Luís Thitiá (Pataxó Hã-Hã-Hãe).
Vale ressaltar que mal os trabalhos começaram, alguns índios já começaram a receber
ameaças por parte de proprietários de terras que estão dentro do território reivindicado pelos
Tupinambá.
Este trabalho preliminar tem a tarefa de subsidiar a Funai com elementos e dados necessários
para a criação de um Grupo Técnico de Trabalho, mais efetivo, que deverá iniciar o processo
de identificação territorial e os passos necessários para a identificação étnica oficial do povo
Tupinambá de Olivença.
Olivença se situa a quinze quilômetros do sul da cidade de Ilhéus, que se localiza no sul da
Bahia, a cerca de 470 km de Salvador. Na época colonial Ilhéus e Olivença integravam-se na
Capitania de São Jorge de Ilhéus criada em 1534.
Segundo a antropóloga portuguesa, Susana Viegas, no seu relatório de trabalho de campo
denominado de "Índios que não querem ser índios" de 1997, trabalho para inserção no projeto
Poder e Diferenciação na Costa Sul da Bahia, conta que o povoamento de Olivença sempre se
constituiu enquanto um aldeamento jesuítico indígena e mesmo depois da expulsão dos
jesuítas do Brasil, em 1759, esta caracterização se manteve por algum tempo. O príncipe
Wied-Neuwied, que chefiou a expedição naturalista de 1816 - 1817 ao sul da Bahia, estima que
entre os mil habitantes de Olivença na época quase não se encontravam portugueses. No
entanto, a partir de meados do século XIX as referencias a Olivença começam a realçar a
assimilação da população à sociedade nacional, designando-a "cabocla". Em 1855 os
relatórios da Comarca de Ilhéus descreviam Olivença como uma povoação habitada por "200
índios civilizados que se ocupam da pesca e corte de madeira". Esta tendência para
caracterizar os Tupinambá de Olivença como índios civilizados e misturados explica-se em
parte pela forma como o próprio aldeamento jesuítico misturava índios de várias origens
étnicas, destacando-se as etnias Tapajara, Camacã, Botocudo e Tupinikim.
De acordo com Susana Viegas, Olivença tem vocação de lugar de veraneio iniciando-se nos
anos 30, com a compra de casas pelos coronéis, que viam na aquisição de uma residência
para férias um aumento de prestigio social. Por outro lado, a fuga da população do núcleo
costeiro da vila para regiões do interior rural do distrito de Olivença resulta em um série de
lutas políticas entre coronéis que causaram pânico e insegurança entre os "caboclos",
levando-os a alienarem as terras e refugiarem-se nessas zonas de difícil acesso. Este
processo consolidou-se nos finais dos anos trinta com a "revolta do caboclo Marcelino". A
partir desta época a vila de Olivença viria a lembrar a presença dos caboclos na festa anual de
devoção a São Sebastião, onde mantiveram durante algum tempo a sua participação
tradicional. Entretanto, Marcelino ficou lembrado na memória local como o último herói
defensor da autonomia da população nativa de Olivença.
Segundo a antropóloga Maria Hilda Paraíso, já no inicio dos anos oitenta a atitude dos
"caboclos" de Olivença que viviam no interior rural se transforma, no sentido de uma vontade
de re-identificação como índios. Em 1989 a antropóloga afirma existir uma reorganização da
população na pequena aldeia da Sapucaieira, onde se realizam reuniões semanais e solicitam
insistentemente a presença de um funcionário da FUNAI para que forneçam um laudo
antropológico que reconheça e ateste a sua identidade indígena.
Após 13 anos de reivindicações, os Tupinambá de Olivença, começam a serem atendidos. A
equipe Itabuna do Conselho Indigenista Missionário, acompanha esta luta há 5 anos neste
período chamou atenção a determinação deste povo na busca do seu reconhecimento étnico e
pela recuperação de seu território, neste sentido expressam a sua alegria e confiança que
este trabalho possa apontar soluções que fortaleçam sua autonomia e garantam seus direitos
mais fundamentais.

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