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Tropa de Choque barra protesto de índios em PE

OESP, Nacional, p. A10
13 de Jan de 2004

Tropa de Choque barra protesto de índios em PE
Grupo ameaçava depredar Funai e tinha feito um refém; três índios foram presos e levados à PF

ANGELA LACERDA

RECIFE - Cerca de 30 índios pancararus, de Petrolândia, no sertão, invadiram ontem pela manhã a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Recife e fizeram um funcionário como refém. Eles ameaçavam depredar o prédio, em protesto pela exoneração do chefe do posto da Funai na região, Gilberto Manoel Freire, e reivindicavam investimentos. A Tropa de Choque da Polícia Militar interveio e, ao final do tumulto, três índios foram presos e levados à seda Polícia Federal, onde se encontrava até o início da noite de ontem.
Chamada pela diretoria da Funai, a PM enviou 30 homens do Choque e tentou convencer os invasores a deixar o prédio e liberar o refém. De acordo com o comandante da PM, Coronel Luiz Moura, eles se negaram a sair e ameaçaram depredar o imóvel. Foi chamado um reforço de mais 20 homens e um trecho da rua foi interditada. Os policiais entraram no prédio e jogaram gás de pimenta. Assustados, os índios saíram do prédio e três foram detidos por desacato à autoridade e cárcere privado.
De acordo com a PM , os índios estavam pintados e armados com pedaços de pau. O assessor de Comunicação da PF-PE, Geovani Santoro, disse que o administrador da Funai, Manoel Lopes, afirmou, em seu depoimento, que os pancararus eram intransigentes e a Funai não tinha dinheiro guardado para aplicar na área, como eles acusavam. Segundo o administrador, manifestações semelhantes já haviam ocorrido anteriormente.
'Vergonha' - Para o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) o grupo que promoveu o protesto "não representa e envergonha o povo pancararu". De acordo com o missionário Roberto Santos, um dos índios presos, conhecido como Zé Índio é irmão do chefe da Funai exonerado e tem promovido bagunça não somente na Funai, mas também na Fundação Nacional de Saúde (Funasa). "Esse grupo não é decente e é integrado por pessoas agressivas, que defendem interesses próprios", afirmou.
Os pancararus têm uma área de 8,1 hectares distribuídas em três municípios -- Petrolândia, Tacaratu e Jatobá. O território já foi demarcado e homologado, mas ainda não foi concluída a retirada dos posseiros. O processo de retirada foi iniciado pela Funai em 1999, mas paralisado dois anos depois, sob o argumento de falta de verba.
Segundo o Cimi, com a demarcação as terras indígenas foram reduzidas e parte dos 8 mil pancararus que vivem na região ficaram fora da área delimitada. O Cimi também aponta a falta de projetos de desenvolvimento sustentável nas terras indígenas.

OESP, 13/01/2004, p. A1 e A10.

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