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Troca de agendas nos Fóruns Econômicos e Social

O Globo, Economia, p. 42
22 de Jan de 2012

Troca de agendas nos Fóruns Econômicos e Social
Davos discute fracasso do capitalismo, enquanto Porto Alegre quer debater desenvolvimento sustentável

Deborah Berlinck*, Tatiana Farah e Naira Hofmeister**
economia@oglobo.com.br

PARIS, SÃO PAULO e PORTO ALEGRE. Esta semana têm início o Fórum Econômico Mundial, que reúne a nata dos líderes e empresários globais, e o Fórum Social, em Porto Alegre, que surgiu como um contraponto a Davos. Mas as agendas dos dois eventos, à primeira vista, parecem trocadas: Davos, em um discurso mais próximo do dos ativistas, decreta o fracasso do capitalismo. Já o Fórum Social Mundial (FSM) admite que um novo mundo é possível, mas é preciso antes salvar o atual. Na pauta, o desenvolvimento sustentável e as mudanças climáticas, de olho na Rio+20, conferência da ONU que será realizada em junho no Rio.
Em Davos, o tema é "A grande transformação: criando novos modelos". Criador do Fórum, Klaus Schwab, que há 41 anos defende com unhas e dentes as ideias do capitalismo, agora diz:
- O capitalismo, na sua atual forma, não serve para o mundo à nossa volta. Fracassamos em aprender as lições da crise financeira de 2009.
Risco de perder a confiança das futuras gerações
Ao apresentar o programa, Schwab disse que o mundo vive uma "síndrome do esgotamento". Ele se queixou ainda de uma "lacuna de moralidade" e de um descaso generalizado:
- Não investimos o bastante no futuro, não demos bola suficiente para a coesão social. E estamos diante do perigo de perder completamente a confiança das futuras gerações.
Segundo Schwab, as pessoas perderam confiança nos líderes e veem a vida apenas como um sacrifício, o que pode gerar conflitos sociais, protecionismo, nacionalismo e, com isso, "precipitar a espiral de queda da economia global".
O Fórum de Davos, que começa no dia 25, reunirá 2.660 pessoas, 40 chefes de Estado e governo e 18 presidentes de bancos centrais. A crise europeia deve dominar boa parte dos debates, mas também será discutido um novo modelo para o capitalismo. Schwab definiu o que acha que deve substituir o capitalismo: o "talentismo", um modelo baseado em talento.
- O futuro não será determinado pela escassez de capital, mas sim pela falta de talento. O modelo antigo era o capitalismo. O novo é o talentismo.
O encontro será aberto pela chanceler alemã, Angela Merkel. Dilma Rousseff, inicialmente esperada, não irá - estará no FSM, que começa na terça-feira. Mas o Brasil vai oferecer a grande festa de sábado do Fórum. Lá estarão o chanceler Antonio Patriota e o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.
FSM defende mudança
nos hábitos de consumo
Estarão presentes ainda o premier britânico, David Cameron, e o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner. E não faltarão protestos: um braço do Ocupem Wall Street já montou iglus em Davos.
A crise europeia também se reflete no FSM. Segundo o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, que participa do Fórum desde sua criação, em 2001, a crise fez com que desaparecesse o debate sobre as mudanças climáticas.
- A discussão passou a ser o crescimento econômico, em um mesmo modelo que resultou nessa grande crise.
Oded Grajew, um dos fundadores do FSM, diz que os governos falam em combater a pobreza sem citar a desigualdade. Ele defende mudança de valores e hábitos, freando o consumo.
- Da forma como o consumo é imposto hoje, reduzi-lo seria colocado como um "sacrifício", mas estamos falando de mudança de valores. E, se falamos em sacrifício, vamos lembrar quem tem feito o sacrifício com a crise econômica na Europa. Quem está pagando a conta? Os pobres, com os cortes sociais.
Opinião reforçada pelo educador Sérgio Haddad, um dos organizadores do FSM:
- Estamos chegando a um limite de produção e consumo. Esse caminhar desenvolvimentista é suicida.
O FSM também quer dialogar com movimentos como Ocupem Wall Street, Indignados e Primavera Árabe. Haverá um espaço para depoimentos desses manifestantes.

(*) Correspondente
(**) Especial para O Globo

O Globo, 22/01/2012, Economia, p. 42

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