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Trilhas para esquecer do caos urbano

OESP, Viagem & Aventura, p. V4-V5
28 de Out de 2008

Trilhas para esquecer do caos urbano
Pertinho de São Paulo, há opções boas até para quem está fora de forma

Camila Anauate e Natália Zonta

Caminhar por trechos preservados de mata atlântica, atravessar rios e cachoeiras, chegar a praias intocadas. Não é preciso ir longe para garantir uma revigorante dose de natureza. A poucos quilômetros de São Paulo, há trilhas capazes de fazer você se esquecer do caos urbano. Algumas podem ser seguidas até por quem não está lá muito acostumado a aventuras.

Para incentivar as caminhadas, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente lançou no mês passado o projeto Trilhas de São Paulo (www.trilhasdesaopaulo.sp.gov.br), em parceria com a Fundação Florestal. Trata-se de um guia com 40 trilhas de vários níveis de dificuldade, espalhadas em 19 Unidades de Conservação e totalizando 200 quilômetros de percurso.

No "passaporte", o aventureiro tem informações de parques, mapas e rotas. Ao fim de cada trilha, recebe um carimbo - e ganha brindes como squeeze e mochilas ao completar cada nível (baixo, médio e alto). O guia custa R$ 5 e é vendido nos parques. Testamos três trilhas de níveis diferentes: no Parque Estadual da Serra do Mar, no Parque Estadual da Cantareira e no Pico do Jaraguá.

No primeiro fica a mais fácil das três, a Trilha do Passareúva, que sai do núcleo Itutinga Pilões. Chegar lá é simples. Entre no km 49 da Rodovia Anchieta (pista sul) e, na primeira bifurcação, vire à esquerda. Na segunda, dobre à direita e siga por mais três quilômetros. Depois de passar pela segunda guarita, abandone o carro. Pegue seu cantil, passe doses generosas de repelente e observe as orientações nas placas. As indicações são fáceis de seguir. Por isso, os três quilômetros de percurso (ida e volta) podem ser feitos sem auxílio de guia.

O início do caminho é bem marcado: pedrinhas de cascalho cobrem a estrada e, mesmo depois de uma noite inteira de chuva, há pouca lama. Nesse trecho, o Poço do Rio Pilões. Se o dia estiver quente, aproveite para se refrescar. A pista antiga da Imigrantes marca a paisagem na primeira parte da caminhada. Mas é só andar um pouquinho para perder de vista qualquer sinal da rodovia.

Agora, sim, parece que você está em uma trilha. Tire os sapatos e dobre a calça até o joelho: para continuar o percurso, é preciso atravessar o Rio Pilões. São cerca de 5 metros até a outra margem. Uma pedra escorregadia aqui, um pouco de lama ali e pronto. Se puder, leve uma sandália papete, que facilita a caminhada pelo leito do rio.

Do outro lado do Pilões, a trilha fica mais íngreme, e aparecem corrimões de bambus nos trechos mais inclinados. Tome cuidado para não escorregar. Mais alguns minutos de trekking e o visitante chega ao ponto alto: a Cachoeira do Passareúva. Só admire (e tire justificadas fotos). A força da água e a profundidade do poço não permitem mergulhos.

Núcleo Itutinga Pilões: Estrada Elias Zarzur, km 8. Informações: (0--13) 3377-9154

Passeio família na Serra da Cantareira
Cachoeiras são a grande atração deste percurso de 3 quilômetros

Adriana Moreira

Inclua a família inteira neste passeio. Afinal, ninguém precisa ser aventureiro para cumprir as trilhas do Núcleo Engordador do Parque Estadual da Cantareira. Dos três percursos abertos ao público, o da Cachoeira, de nível médio, é o único a constar no passaporte da Secretaria do Meio Ambiente.

Mesmo assim, não exige tanto fôlego do visitante - para quem está acostumado a caminhar, o trajeto é bem fácil. Em uma hora e meia você consegue concluir a trilha de três quilômetros. Mas gastará mais tempo para curtir o visual das três quedas d'água existentes por lá.

Mais difícil é não se perder para chegar ao parque. Pela Rodovia Fernão Dias ou pela Avenida Coronel Sezefredo Fagundes, o motorista deve ficar atento para não passar da entrada, escondida em meio às casas de um loteamento irregular.

Uma vez no parque, tudo é mais simples, com trilha larga e bem marcada. Em alguns pontos, florzinhas enfeitam o percurso. Vá sem pressa: árvores centenárias, como uma bela figueira, e um cedro rosa envolvido por um enorme cipó chamam a atenção. Os bugios estão sempre por ali e há grandes possibilidades de encontrar famílias inteiras. Ágeis, eles atravessam pelo alto da copa das árvores e é preciso atenção para vê-los.

Há regras para aproveitar o que a natureza criou. Biquíni e sunga são proibidos, assim como subir nas pedras escorregadias das cachoeiras. "Temos medo de acidentes", explica o guarda-parque Adão Pereira Barbosa, de 55 anos, que há 9 trabalha no local.

Concluída a trilha, carimbe o passaporte na portaria. Mas esse não precisa ser o fim do passeio. Passe na Casa da Bomba, de 1892, responsável por captar a água de nascentes e distribuir aos barões do café, na Avenida Paulista. Ou fazer outra caminhada. "A idéia do programa é estimular as pessoas a conhecer outras trilhas da região", explica Rafael Robles, da Secretaria do Meio Ambiente.

Antes de ir embora, curta a bela vista da Represa do Engordador, hoje desativada. O nome é uma referência ao passado da região - o gado trazido de Minas ganhava peso por lá antes de ser vendido em São Paulo.

Núcleo Engordador: km 79 da Rodovia Fernão Dias. Informações: (0--11) 2995-3254

Enfrente a subida íngreme do Jaraguá
Trajeto de 1.800 metros exige bom preparo físico, mas a vista compensa

Lucas Frasão

Um morro ainda coberto de verde, mas rodeado por um mar de casas e prédios. No topo, duas gigantes torres de transmissão. Aparatos que fazem o visitante se lembrar de que está em São Paulo. Nada, porém, que reduza a importância (e a vista privilegiada) do Pico do Jaraguá, o ponto mais alto da capital, a 1.135 metros de altitude. O turista pode chegar até lá de carro. Mas a experiência vai ficar mais emocionante se o caminho escolhido for a Trilha do Pai Zé, que passa por um trecho preservado de mata atlântica no Parque Estadual do Jaraguá.

A trilha começa com a subida íngreme de uma calçada de paralelepípedos de cerca de 200 metros. Apenas uma amostra do que virá na seqüência. É preciso ter bom preparo físico e muito fôlego para completar os 1.800 metros. Não à toa, o trajeto foi classificado como de nível alto e não deve ser seguido por quem tem menos de 10 anos.

O maior obstáculo no caminho é mesmo a subida - a trilha tem boa sinalização e pode ser vencida em uma hora. Com exceção do trecho inicial, o percurso é feito em chão de terra batida. À medida que avança, o visitante nota que a mata fica mais fechada. Mas nunca a ponto de bloquear a passagem.

A primeira atração da trilha surge depois de cinco minutos de caminhada. Trata-se de um antigo altar usado como local de culto antes de a reserva ser fundada, em 1961. O nome de Pai Zé lembra essa época.

A natureza se apresenta em boa forma na subida. Aqui ou ali, é possível reconhecer um ipê-amarelo, um pé de palmito. Mas o barulho dos carros, que acompanha o turista na trilha, não deixa ninguém esquecer que está no meio da cidade.

ESTRADA

Duas das principais vias de acesso a São Paulo passam lá por perto: a Anhangüera e a Bandeirantes. Além do Rodoanel, que pode ser visto depois de 1.500 metros de caminhada. Nesse ponto da trilha, o trajeto fica mais estreito e sem cobertura vegetal. Mas já é possível observar o bairro do Jaraguá.

A subida fica ainda mais íngreme. Um corrimão de madeira ajuda os visitantes a superar a inclinação desfavorável. Não desista. Em vez disso, tome fôlego para vencer os 300 metros finais, mais desafiadores. E tome cuidado para não escorregar no solo pedregoso.

As torres de transmissão estão logo ali, mas o fim da trilha não é o fim do passeio. Para chegar ao topo é preciso andar mais cinco minutos na Estrada Turística do Jaraguá. O esforço vale a pena: lá de cima, a vista pode alcançar a Serra do Japi, em Jundiaí, e a Serra do Mar, no caminho para Santos. São Paulo fica pequena. Panorâmica que faz você se sentir cercado de cidade por todos os lados.

Parque Estadual do Jaraguá: Abre diariamente, das 7 às 17 horas. Há visitas guiadas nos dias da semana. Informações: www.iflorestsp.br/jaragua,

EM GRUPO

Cia Ecoturismo (0--11-5571- 2525; www.ciaeco.tur.br): três dias na travessia da Ilhabela. Custa R$ 455 e inclui transporte, hospedagem e pensão completa

Filhos da Terra (0--11-3171- 2000; www.filhosdaterra.com): trilha de 7 quilômetros no Refúgio das Cachoeiras, em Catuçaba e São Luís do Paraitinga. Inclui transporte e almoço. Por R$ 177

Pisa Trekking (0--11-5052- 4085; www.pisa.tur.br): travessia do Saco das Bananas, em Ubatuba. Com direito a transporte e lanche de trilha. Por R$ 177

Terra Mater (0--11-3464-5100; www.terramater.com.br): trilha de 3,5 quilômetros em Bertioga. Por R$ 30, sem transporte

Trilhas & Trilhas (0--11-2231- 2933; www.trilhasetrilhas.tur.br): roteiro de 9 quilômetros na Serra da Cantareira, por R$ 55. Almoço pago à parte (R$ 27).

OESP, 28/10/2008, Viagem & Aventura, p. V4-V5

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