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A trilha da destruição na Teresópolis-Friburgo

O Globo, Rio, p. 18
29 de Jan de 2011

A trilha da destruição na Teresópolis-Friburgo
Deslizamentos na rodovia Teresópolis-Friburgo impedem o transporte da produção agrícola e deixam hotéis e pousadas isolados

Luiz Ernesto Magalhães

Os 68 quilômetros da rodovia RJ-130 (Teresópolis-Friburgo) um dos principais corredores turísticos da Região Serrana ainda exibem as marcas do temporal que arrasou a área há duas semanas. Nas duas cidades, os agricultores enfrentam dificuldades para escoar a produção porque há barreiras entre as fazendas e as estradas. Em muitos trechos, a energia para a irrigação ainda não foi religada. A distribuição precária já faz com que comerciantes tenham que comprar hortifrutigranjeiros em outro lugar. Foi o que fez César Martins, dono de uma quitanda no Campo do Coelho (Friburgo) que abastece hotéis da região:
- O agricultor não consegue que a produção saia de suas terras. Para manter os preços, eu passei a comprar na Ceasa do Rio, que recebe produtos de outras regiões, até a situação se normalizar.
Casas e posto de saúde foram destruídos
Em Vieiras, também em Teresópolis, casas de um loteamento popular estão em ruínas . Até mesmo um posto de saúde foi destruído. No local, foram abandonados no meio da rua formulários médicos e preservativos. Na tarde de quinta-feira, bombeiros ainda faziam buscas por corpos em um córrego.
A agricultora Jéssica da Silva Nogueira Marinho, de 20 anos, confirmou que em todos os povoados no entorno os produtores têm dificuldade de vender suas mercadorias.
- Para chegar até meu sítio, eu atravesso um rio a pé. Lá tem 110 mil pés de tomate sendo plantados, que só podem sair de trator ou se eu e meu marido carregarmos nas costas.
Na mesma localidade fica o Hotel Fazenda São Moritz que chegou a servir como refúgio para 23 desabrigados. A entrada principal pela Teresópolis -Friburgo foi destruída. Parte dos animais da fazenda morreu, incluindo três jabutis, 90 galinhas e 150 patos.
- A estrutura para o atendimento dos hóspedes (63 quartos) ficou intacta. Por isso pretendo reabrir em 17 de fevereiro com um novo acesso por uma rua lateral - disse o gerente de Operações, Edmilson Lima.
Mesmo quem sofreu pouco com as chuvas enfrenta as consequências. Em Venda Nova, segundo distrito de Teresópolis, apenas dois clientes apareceram desde os temporais para saborear a culinária francesa da Fazenda Genéve.
- Os turistas não sabem que nem toda a região foi afetada e há grandes trechos da estrada desobstruídos - diz a proprietária Rose Garcia.
A fazenda é uma das principais produtoras de queijo de cabra do Rio. No entanto, não consegue matéria prima para manter a produção, que chega a 500 quilos por semana. Hoje está em 250 quilos e tende a cair.
- Os caminhões não conseguem chegar até as fazendas de Friburgo para recolher o leite e chegar até nós - diz Rose.
O trecho mais problemático da estrada são os 10 quilômetros antes da entrada de Friburgo. Há grandes pedras na beira da estrada e o movimento de caminhões é intenso nos terrenos usados para colocar o entulho deixado pelo temporal. O motorista atravessa o trecho em meio a uma cortina de poeira.

O Globo, 29/01/2011, Rio, p. 18

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