VOLTAR

Tribo lança grife para perpetuar cultura de aldeia no Acre

O Globo-Rio de Janeiro-RJ
12 de Jun de 2005

Saias enfeitadas com sementes de jarina (o marfim da Amazônia) e palha de buriti, algodão 100% natural supermacio graças à lavagem de cupuaçu, tecidos tintos com lama, chá verde, urucum e jenipapo. São as roupas da coleção Yawanawa, que desfila depois de amanhã no Fashion Mall, com produção de Eduardo Roly, estampando nas peças os desenhos usados no corpo pelo povo yawanawa, uma tribo de 620 pessoas, localizada no Acre, que descobriu na moda uma forma de perpetuar sua cultura. A idéia foi do líder Joaquim Tashka Yawanawa que, estimulado pela Rain Forest Concern, uma organização inglesa que apóia a tribo há sete anos, chegou à artista plástica e estilista Adriana Aquino e ao designer Frederico Reis, apresentado pela empresária Ana Luísa Anjos.

Pinturas no corpo protegem contra os maus espíritos

Joaquim Tashka pertence ao povo da queixada, nome do javali brasileiro, yawa, na língua nuke tsai dos yawanawa. - Vivemos em quatro comunidades sobre 186 mil hectares de terra, sobrevivendo da caça, da pesca e tentando manter nossa língua e nossos ritos vivos. Para isso, temos projetos econômicos com o objetivo de manter a subsistência do povo. Em 93, começamos a vender urucum para a Aveda (empresa americana de cosméticos que apóia o desfile e para a qual a tribo vende cerca de quatro toneladas da semente por ano). Em 98, a Aveda me deu uma bolsa para estudar nos Estados Unidos e dessa forma atuar como uma ponte entre meu povo e o mundo - conta Joaquim, que ficou quatro anos nos EUA, onde se casou com uma índia zapoteca mexicana, Laura Soriano.

Em 2001, quando Joaquim retornou ao Acre, encontrou a tribo em dificuldade.

- Reuni os yawanawas para estudar o que haviam perdido. Nosso primeiro contato com o homem branco aconteceu no século XVI, com os seringueiros. Quando um seringal era vendido, o índio era dado como troco. O segundo, e mais traumático, foi com os missionários da New Tribe Mission, da Flórida, de 1972 a 85, quando os expulsamos da aldeia. Eles proibiram nossos rituais por mais de 50 anos.

O encontro virou um Festival Yawanawa, transformado no documentário "Yawa", dirigido por Tashka, que será exibido amanhã, às 17h, no Ateliê Apis, no Centro, pela designer Patricia Bowles. Foi nesse festival que nasceu a idéia da grife.

- Eram tão bonitos aqueles corpos pintados, que visualizei as pessoas usando aquilo de alguma maneira no mundo inteiro. Pensamos em criar roupa para a aldeia, mas lá ninguém usa muita roupa - conta Joaquim, que em 2002 fez os primeiros testes em camisetas, vendidas numa loja sofisticada em Rio Branco.

No dia do desfile, alguns índios da tribo desfilarão na passarela, enquanto nos bastidores, dez mulheres estarão pintando as modelos.

- Nossa pintura milenar protege dos maus espíritos. Uma pessoa pintada está de bem com a vida, se sente cool, diferente, como os ingleses gostam de dizer - diz Joaquim.

Ao som de cânticos dos yawanawa, mixados pelo cantor Leoni, 30 modelos da 40 Graus mostrarão, segundo Adriana Aquino e Fred Reis, uma mistura de tradição, novidade e glamour em roupas que contaram também com a interferência da artesã Monica Carvalho, que fez detalhes em sementes retiráveis.

A coleção estará à venda na Clube Chocolate e os modelos serão desfilados em seguida em Paris.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.