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Três candidatos da Unifesp não provaram pertencer à etnia e perderam as vagas

Folha de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: FÁBIO TAKAHASHI
16 de Fev de 2005

Universidade desconfia de aprovado por cota indígena e barra matrícula

Três vestibulandos aprovados pelo sistema de cotas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) não conseguiram provar que são índios e, em decorrência disso, foram impedidos de se matricular ontem, data de inscrição da primeira lista de classificados. Eles se candidataram aos cursos de medicina, ciências biomédicas e fonoaudiologia.
Outros seis alunos cotistas não compareceram. A instituição criou 27 vagas (10% do total) para afrodescendentes e índios. A Unifesp é a primeira universidade pública de São Paulo a adotar cotas.
O critério exigido para os dois casos foi diferente. O afrodescendente tinha de provar que ele próprio ou um de seus ascendentes, até os avós, é negro (por meio de documentos como certidão de nascimento ou certificado militar). Já para os índios não é admitida a ascendência -eles próprios têm de ser da etnia, e também comprovar por documento.
A exigência comum a todos era que tivessem cursado o ensino médio na rede pública.
O aprovado em medicina Anderson Kretschmer, 25, foi um dos que conseguiram provar a ascendência negra -apresentou a certidão de nascimento da avó. "Eles foram muito exigentes. Fiquei vários dias atrás dessa certidão", conta ele, cujo avô é de descendência alemã.

Comparação
Os aprovados pelo sistema de cotas tiveram, proporcionalmente, mais matrículas efetivadas do que os do sistema universal: foram 66,7% do primeiro (18 inscrições em 27 vagas), ante 57,1% do segundo (156 inscrições em 273 vagas). O coordenador de ações afirmativas da Unifesp, Marcos Ferraz, afirmou que o resultado do regime universal seguiu a média histórica. "Já no sistema de cotas, como é novo, não dá para ter uma opinião fechada."
Segundo Ferraz, o sistema adotado é um "teste", que provavelmente terá mudanças no próximo vestibular. Uma possibilidade é permitir que apenas negros, e não afrodescendentes, sejam beneficiados -igualando a exigência feita aos índios. "Mas ainda estamos em fase inicial de análise dos dados", diz o coordenador. Segundo ele, o modelo adotado neste vestibular foi o acertado com entidades representativas das etnias -as de negros pediram o benefício a afrodescendentes.
Na tentativa de evitar eventual discriminação por parte dos alunos aprovados pelo sistema universal, a instituição abriu as vagas destinadas ao sistema de cotas. "Ninguém pode falar que perdeu sua vaga para um negro", diz o coordenador da ação.
A estudante Priscila Regina dos Santos, 21, teve problemas para fazer a matrícula. Ao chegar ao local de inscrição, a comissão exigiu que provasse a ascendência negra. Como ela não tinha o documento, teve de gastar uma hora e meia para ir da Vila Mariana (zona sul de São Paulo, onde fica a universidade) até um cartório em Guaianazes (zona leste), com a mãe, a dona-de-casa Josefina Carvalho, 56. Lá, Josefina conseguiu a certidão de nascimento da mãe, citada como parda. Meia hora antes de acabar o prazo de inscrição, Priscila conseguiu a matrícula para fonoaudiologia. "Ainda estou em pânico", disse a mãe da caloura.
Hoje será a vez da matrícula dos estudantes que ficaram na lista de espera, caso haja vagas.
A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) também adotou um sistema de ação afirmativa, mas com um método diferente do da Unifesp. A instituição deu um bônus em pontos na nota final para alunos da rede pública.

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