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Transporte tem a 2ª maior taxa de aumento da emissão de gás-estufa

OESP, Vida, p. A24
06 de Mai de 2007

Transporte tem a 2ª maior taxa de aumento da emissão de gás-estufa
Relatório da ONU aponta preocupação com o setor, que apresentou crescimento de 120% em apenas 24 anos

Cristina Amorim

O setor de transportes é, atualmente, o quinto maior em emissão de gases do efeito estufa, que provocam o aquecimento global. Contudo, apresentou a segunda maior taxa de crescimento dessas emissões no período de 1970 a 2004. Frear esse ritmo exige a implantação de soluções complexas, algumas com alto custo político.

Os dados fazem parte do mais recente sumário para formuladores de política, escrito por membros do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e divulgado anteontem na Tailândia. O texto traz informações sobre medidas de mitigação das emissões.

Em 2004, transporte emitiu 6,4 gigatoneladas de CO2 equivalente, atrás dos setores de geração de energia, indústria, setor florestal e agropecuário. Apresentou um crescimento das emissões de 120% em apenas 24 anos, só atrás da taxa registrada na geração de energia (145% no período).

Para controlar o problema, existem muitas opções diferentes, que vão desde o incentivo ao uso de biocombustíveis, em vez de gasolina ou diesel, até a reformulação do zoneamento urbano, para reduzir o número de automóveis e estimular o uso de transportes públicos e deslocamentos a pé ou de bicicleta.

Contudo, o próprio IPCC admite que a eficiência de tais medidas é ameaçada pelo crescimento das emissões e outras barreiras, como as preferências do consumidor e a falta de políticas detalhadas sobre o tema. 'A solução nesse caso é complexa e tem de envolver uma série de grupos', afirma a pesquisadora Suzana Kahn Ribeiro, do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), co-autora do capítulo sobre o tema no relatório. 'Entre os envolvidos estão a indústria automobilística, o setor de fornecimento de biocombustíveis e o rodoviário, além das pessoas e de seu estilo de vida.'

ESTILO E ESCOLHA

Tome-se, por exemplo, o uso de carros nos Estados Unidos. No Estado do Texas, existe praticamente um veículo por pessoa - boa parte deles modelos utilitários, que exigem grande volume de combustível para rodar. 'Existem carros mais eficientes, mas eles preferem aqueles 4 por 4, pesados, que são usados muitas vezes apenas no perímetro urbano', diz Suzana.

Por esse motivo, a pesquisadora afirma que leis restritivas na compra ou na utilização de tais veículos dificilmente seriam levadas adiante, pois seriam muito impopulares. Foi o caso de Londres, que em 2003 estabeleceu um pedágio para quem circule de carro no centro da cidade. O objetivo inicial, a redução dos engarrafamentos, já é visto pelo governo britânico como exemplo de reordenação do tráfego urbano, como o recomendado pelo painel.

A tendência é de expansão, com aumento proporcional de emissões de gases-estufa caso não sejam tomadas ações de mitigação. 'Há uma expectativa de crescimento na taxa de 2% ao ano', diz Suzana. 'O setor está associado a um crescimento da população e da renda, não só o transporte de passageiros, mas também o de cargas.'

É o que se observa na China. O país se tornou, nos últimos anos, um dos maiores produtores de carros e grande consumidor. Ainda que eles exibam uma taxa de eficiência de consumo do combustível mais alta do que os modelos americanos, os números são muitos altos. A previsão é que, em 2009, a produção de veículos no país chegue a 15 milhões de unidades.

NO AR

Uma área dentro do setor de transporte que emite muito, porém com chances pequenas de controle num curto prazo, é a aviação. Tentativas de regulamentação foram imediatamente recusadas pela indústria. Estimativas indicam que a aviação responde, sozinha, por 3% das emissões européias de gases-estufa.

A tendência é de crescimento acelerado, pelo aumento de vôos e de companhias de baixo custo. O IPCC não vê alternativas para resolver o problema. A médio prazo, as emissões de CO2 podem sofrer corte por estratégias de redução do consumo de combustível, incluindo tecnologia e melhor gerenciamento de tráfego aéreo.

Contribuições

145% foi o crescimento
das emissões de gases do efeito estufa no setor de energia no
período de 1990 a 2004

120% foi o índice
registrado no setor de transportes no mesmo período, segundo o IPCC

65% foi quanto
aumentaram as emissões diretas na indústria, ou seja, sem contar a eletricidade consumida na produção e na distribuição

40% foi o crescimento
registrado no setor florestal por desmatamento, queimadas e
mudanças do uso do solo

27% foi o incremento
nas emissões m agropecuária entre 1970 e 1990; daqui vêm
grandes contribuições de metano e óxido nitroso

26% foi o aumento
de emissões dos gases-estufa em construções entre 1970 e 1990, que desde então se mantiveram; contudo, na conta não entra o
consumo de eletricidade

OESP, 06/05/2007, Vida, p. A24

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