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Transgenicos sao outra revolucao

OESP, Geral, p.A10
11 de Fev de 2004

"Transgênicos são outra revolução" Pai do remédio verde diz que Brasil tem tudo para ser potência agrícola do século 21
RENATO STANCATO
DOURADOS, MS - Para a maioria dos agrônomos, Norman Borlaug é um herói. Já os ambientalistas o consideram uma pedra no sapato. Nos anos 50 e 60, ele introduziu no México e na Ásia técnicas que ampliaram muito a produção de grãos. Usou melhoramento de sementes, fertilizantes e defensivos para afastar a fome em massa de países como Índia e Paquistão. Esse aumento constante de produção foi denominado Revolução Verde. Como pai desta "revolução", recebeu em 1970 o Nobel da Paz. Os ambientalistas argumentam que o modelo concentra a renda no campo, pois só os grandes produtores têm dinheiro para comprar agroquímicos. Para ver como evoluiu a Revolução Verde no Brasil, Borlaug, de 89 anos, está no País.
Estado - O sr. conhece a agricultura do Brasil há mais de 50 anos. Como avalia o que está vendo este ano? Norman Borlaug - O País mudou muito nestes 50 anos. Os empréstimos do Banco Mundial em 1972 e 73 foram muito bem usados na área. Foi formado um grande número de agrônomos, fisiologistas, fitopatologistas, entomologistas. Em termos científicos, o País é outro.
Estado - Como isso se reflete na agricultura?
Borlaug - Estou impressionado com o que estou vendo. O Brasil tem tudo para ser tão importante para a agricultura no século 21 como os EUA foram no 20. O nível de tecnologia é impressionante. O conhecimento do Brasil deveria ser oferecido à África.
Estado - O sucesso da Revolução Verde foi diferente nos vários países em que atuou.
Borlaug - Há dois problemas diferentes. Um é a produção de alimentos. Aumentar a produção era fundamental para impedir que continuasse a haver fome. Mas outro problema é a distribuição da comida. É muito mais complicado.
Estado - No Brasil, é forte a corrente que propõe a distribuição de terra para combater a pobreza. O sr. concorda?
Borlaug - Se você distribui terra para combater a pobreza, você terá agricultores pobres.
Estado - Um dos programas do governo, o Fome Zero, propõe a erradicação por meio da distribuição de recursos.
Borlaug - Sou velho o suficiente para ter presenciado a Depressão de 1929 a 1934 nos EUA. Os bancos quebraram, os fazendeiros perderam as terras e houve fome. Num primeiro momento, a distribuição de alimentos foi adotada. Mas o que resolveu foi a criação de empregos em frentes de trabalho.
Estado - Seu modelo ainda é criticado por ecologistas?
Borlaug - Essa gente vive nas nuvens. Ficam falando na academia, teorizando, não entendem como funcionam as coisas na prática. Se não tivesse havido a Revolução Verde, centenas de milhões de pessoas teriam morrido nesses anos. E 1 bilhão de hectares a mais teriam sido desmatados.
Estado - Como o sr. vê os transgênicos?
Borlaug - São uma grande revolução. A melhoria genética das plantas tem limitações. Com eles, é possível transferir características desejáveis de uma planta para outra que não seria possível transferir de outra forma. As possibilidades são ilimitadas. É outra revolução.

OESP, 11/02/2004, p.A10

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