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Transgenicos geram terreno perigoso

OESP, Economia, p.B5
02 de Nov de 2004

Transgênicos geram terreno perigoso
Tailândia fez testes com mamão alterado e está pagando caro
Por Shawn W. Crispin
The Wall Street Journal
PROVÍNCIA KHON KAEN, Tailândia - Quando a Tailândia lidou pela primeira vez em 1995 com a genética de mamões, o debate científico quanto à segurança dos organismos geneticamente modificados, os transgênicos, mal havia começado.
0 governo da Tailândia associou-se a pesquisadores, da Universidade Cornell, dos Estados Unidos, e recebeu fundos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) para criar um mamão transgênico adaptado ao clima tropical da Tailândia.
Agora, quase uma década mais tarde, após milhões de dólares gastos em testes de laboratório, a Tailândia está envolta na polêmica dos transgênicos. 0 motivo: em julho, os mamões do país modificados para resistir a fungos virais escaparam de alguma maneira de um laboratório e brotaram em centenas de fazendas próximas.
0 vazamento espalhou o pânico entre produtores locais de frutas, depois que grupos ambientalistas afirmaram que os mamões modificados haviam "contaminado" as plantações. A confusão destacou a posição ambivalente da Tailândia quanto à tecnologia de modificação genética, com confusas políticas governamentais simultaneamente restringindo e promovendo os transgênicos.
Agora o país enfrenta pressão comercial para esclarecer essa atitude contraditória. No mês passado, a Alemanha anunciou a proibição da importação de enlatados de frutas produzidos na Tailândia que contenham mamão. Ameaças similares de diplomatas japoneses em Bangcoc forçaram autoridades agrícolas tailandesas a derrubar os cerca de 1.000 mamoeiros que haviam plantado como parte de um teste em campo aberto.
A experiência da Tailândia mostra como o crescente debate sobre os transgênicos está rapidamente fragmentando os mercados mundiais de alimentos e fazendo pressão sobre exportadores de produtos alimentícios para que escolham entre produzir alimentos naturais ou transgênicos. "É risco contra risco", diz uma autoridade agrícola americana baseada em Bangcoc sobre a opção de países em desenvolvimento quanto aos transgênicos. "Se países como a Tailândia não diversificarem, eles não tiram vantagem de sua vantagem geográfica comparativa."
Culturas de alimentos transgênicos fizeram poucos avanços nas fazendas da Europa e Japão, em meio a um debate sobre a segurança dessa tecnologia para o consumidor. Os EUA, sede das maiores empresas de biotecnologia do mundo, entre elas a gigante do agronegócio Monsanto Co., são os principais defensores de que se espalhe a tecnologia para os países do desenvolvimento.
Grandes, empresas de biotecnologia que lidam com transgênicos estão procurando novas oportunidades de crescimento na Ásia para compensar os problemas que encontram nos mercados europeus. Por exemplo, a Monsanto recentemente suspendeu o primeiro trigo geneticamente modificado do mundo, devido a receios de fabricantes de produtos alimentícios na Europa e Japão. A Bayer AG, da Alemanha, e a Syngenta AG, da Suíça, também reduziram recentemente suas operações com transgênicos na Europa.
Ano passado, quase um terço da área de produção de alimentos transgênicos do mundo estava em países em desenvolvimento, ante 25% em 2002, de acordo com estatísticas compiladas pelo Serviço Internacional pela Aquisição de Aplicações AgroBiotecnológicas, um grupo sem fins lucrativos de defesa dos transgênicos que têm membros setoriais, ambientais, governamentais e não-governamentais. Seis países respondem por 99%r da área total plantada com transgênicos: EUA, China, Brasil, Argentina, Canadá e África do Sul.
As políticas da própria Tailândia quanto aos transgênicos tiveram idas e vindas com o passar dos anos. Mas recentemente autoridades tailandesas, entre elas o primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, sinalizaram uma outra possível virada na política.

OESP, 02/11/2004, p. B5

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