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Transgênicos: a evolução do conhecimento

JT, Artigos, p. A2
Autor: VACCAREZZA, Claudio
06 de Jan de 2004

Transgênicos: a evolução do conhecimento

Cândido Vaccarezza

Os avanços alcançados pela ciência e tecnologia para melhoria da qualidade de vida são irreversíveis. Boa parte dessas conquistas deve-se aos estudos e técnicas desenvolvidos pela Engenharia Genética que, através da transgenia, abriu possibilidades infinitas e deu um grande salto no conhecimento.
Desde que foram divulgados pela mídia, os transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGMs) começaram a provocar discussões acirradas em todo o mundo. Em meio à polêmica, campanhas de oposição, especulações e a desinformação, muitos mitos foram criados na tentativa de levar a um retrocesso na aplicação da biotecnologia.
Como todas as descobertas, o debate sobre os transgênicos ultrapassou a questão científica para dar lugar aos interesses político, econômico e ideológico. O principal desafio hoje é explicar de forma clara e objetiva a tecnologia dos OGMs.
Transgênico é um organismo que contém um gene de uma espécie diferente, com o objetivo de alcançar determinadas características. Isto representa um salto de qualidade no que já vinha sendo feito de maneira aleatória no processo de melhoramento convencional de plantas e animais. A maioria das espécies cultivadas e dos animais domesticados, hoje, é completamente diferente de suas matrizes silvestres.
A despeito dos protestos, os OGMs são realidade na agricultura, na pecuária e na medicina e vêm ganhando cada dia mais aceitação e espaço de produção. A área cultivada com organismos geneticamente modificados, em todo o mundo, saltou de 1,7 milhão de hectares em 1996 para 52,6 milhões em 2001 e continua crescendo rapidamente.
O comércio de sementes transgênicas também alcançou o patamar de bilhões de dólares e já é muito mais rentável que a venda de sementes convencionais. De olho nesse mercado, cerca de 80% dos associados à Confederação Nacional da Agricultura querem a liberação do cultivo comercial de OGMs. O motivo é simples: diminuição de custos e aumento de produtividade.
No momento, centenas de pesquisas estão sendo feitas, em vários países, para geração de produtos mais nutritivos e benéficos para a saúde, com a introdução, até mesmo, de vacinas na alimentação. Um estudo para extrair substâncias (fator VIII e IX do sangue humano) do leite de porca transgênica está sendo realizado em Cuba. O cientista responsável pela pesquisa, dr.
Manuel Limonta, afirma que o resultado do trabalho científico pode solucionar o problema da hemofilia nos países pobres, porque o tratamento custará apenas 10% do que seria gasto com a utilização de métodos tradicionais.
Um outro bom exemplo é a pesquisa, feita por cientistas das Universidades da Carolina do Norte e de Penn State (EUA), que identificou um gene que controla a retenção de água nas plantas. Esta descoberta poderá contribuir no futuro para o desenvolvimento de plantas resistentes à seca, um objetivo perseguido há muitas décadas.
Nenhuma outra variedade alimentar tem sido tão detalhadamente pesquisada, principalmente em relação à segurança para o consumo humano, quanto os OGMs.
Só para se ter uma idéia, um novo tipo de soja geneticamente modificada foi submetido a 1.800 análises para comparação com a soja convencional.
No Brasil, os procedimentos para análise da segurança dos alimentos geneticamente modificados estão sob controle da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), criada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
Como deputado estadual, elaborei o Projeto de Lei no 371/2001, em tramitação na Assembléia Legislativa de São Paulo, que regulamenta a pesquisa, a produção, a comercialização e a rotulagem de produtos geneticamente modificados e proíbe quaisquer pesquisas em seres humanos.
O PL tem como proposta construir uma política pública sobre transgênicos para que a população se beneficie dos aspectos positivos trazidos por essa nova tecnologia. O projeto prevê vários mecanismos direcionadores. Entre eles, manter programas de aperfeiçoamento científico, tecnológico e de formação de recursos humanos voltados para capacitação na atuação, monitoramento, desenvolvimento e avaliação de OGMs. Nas disposições sobre comercialização e rotulagem, obriga que os consumidores sejam informados, de forma clara, sobre os alimentos e outros produtos biológicos ou industrializados que possuam em sua composição OGMs.
Qualquer programa de desenvolvimento para um país terá de incorporar, como um dos elementos fundamentais, a biotecnologia. A qualidade de vida do seres humanos dependerá cada dia mais da nova ciência.

Cândido Vaccarezza é deputado Estadual do PT-SP

JT, 06/01/2004, Artigos, p. A2

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