CB, Opinião, p. 18
13 de Jan de 2007
Tragédia evitável
Há tragédias imprevisíveis e, por isso, inevitáveis. E o caso do tsumani ocorrido há dois anos no litoral asiático. Ondas gigantescas invadiram praias paradisíacas freqüentadas sobretudo por turistas europeus. Varreram casas, cidades e vidas. 0 horror pegou a todos de surpresa. 0 mesmo não se pode dizer da catástrofe provocada pela Mineração Rio Pomba Cataguases.
Em março do ano passado, 400 milhões de litros de lama resultante da lavagem da bauxita atingiram rios da Zona da Mata de Minas Gerais. Além de interromper o abastecimento de água em cidades do Rio de Janeiro, causaram sérios danos ambientais. Multada em R$ 75 mil, a empresa contestou a penalidade na Justiça. Aguarda a sentença até hoje.
Na quarta-feira, o desastre se repetiu. A mesma barragem se rompeu e aproximadamente 2 milhões de litros de lama vazaram. 0 município mineiro de Miraí sofreu estragos imediatos - a destruição de casas e o desabrigo de cerca de 2 mil pessoas. Avizinha Muriaé, que padece os efeitos de impiedosas enchentes, está cercada de rejeitos. No Rio, a previsão é que 100 mil pessoas de cinco localidades fiquem sem fornecimento de água.
0 governo de Minas anunciou que a reincidência vai custar R$ 75 milhões à minera
dora. A punição não significa, porém, que novos acidentes deixarão de ocorrer. Depois da primeira tragédia, a Rio Pomba Cataguases fumou termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público e o governo do estado. Em novembro, depois de sete inspeções técnicas feitas pela Fundação Estadual do Meio Ambiente, as obras foram concluídas. Menos de dois meses depois, cederam.
A empresa responsabiliza o excesso de chuvas pela repetição da desdita. Mas a alegação não convence. Há técnicas e técnicos capazes de prever e prevenir desastres dessa natureza. Embora não se saiba se deve a falhas de projeto ou de execução, o segundo rompimento da barreira impõe repetir o já sabido. As agressões ao meio ambiente causam danos não raro irreparáveis. Punir os responsáveis é importante. Mas não suficiente.
Deve-se trancar a porta antes do arrombamento da casa. Significa intensificar as medidas preventivas para reduzir ou impedir a ocorrência de tragédias. Sem a ampla visão de futuro - que antecipa e evita cenários indesejáveis-os brasileiros estarão condenados a reprisar cenas anacrônicas, incompatíveis com o avanço da ciência ambiental. E o caso dos rios de lama, dos depósitos de munha de carvão da Ciplan, dos lixões nas cidades, da destruição das matas ciliares.
CB, 13/01/2007, Opinião, p. 18
As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.