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Tráfico de cocaína, roubo de madeira, índios sem terra: o Alto Juruá está fervendo

Voz do Norte-Cruseiro do Sul-AC
17 de Nov de 2001

A região fronteiriça do Alto Juruá é problemática e vai exigir das autoridades medidas enérgicas para que a situação não fique sem controle. Os traficantes de cocaína, os contrabandistas de madeira, os índios Apolima-Arara, até hoje sem direito a uma terra demarcada, o aliciamento de ribeirinhos para o transporte de droga todos trazem o potencial necessário para evoluir para uma situação explosiva na região. Na semana passada o Ibama, a Funai, o 61o BIS e a Polícia Federal foram até o marco 40 da fronteira com o Peru e puderam constatar muitas anormalidades. Segundo informa o responsável pela Funai em Cruzeiro do Sul, Fernando Katukina, participante da expedição, existem muitos varadouros na mata utilizados por traficantes, chegando a Thaumaturgo de onde segue com destino a Cruzeiro do Sul. Outra denúncia grave é de que os ribeirinhos estão ficando viciados na pasta base de cocaína e para manter seu vício trocam a droga por couros de animais abatidos na floresta que são contrabandeados para o Peru. Além disso, informa Fernando Katukina, há muitos estrangeiros irregulares no Rio Amônia.

Apolima Arara

Embora fornecesse as informações Fernando Katukina ressalva que participou da expedição a trabalho da Funai e portanto apenas lhe cabe atuar em assuntos referentes aos povos indígenas. E, no Alto Juruá, a polêmica está em torno da demarcação de uma terra indígena para os Apolima Arara. Este grupo indígena morava dentro da Terra Indígena Ashaninka do rio Amônia, no entanto os Ashaninka não permitiram outras etnias dentro de suas terras e então os Apolima Arara mudaram-se para uma região próxima. Posteriormente o Incra arrecadou aquela área e transformou-a num assentamento, denominado Gleba Amônia, onde residem 40 parceleiros. O que querem os Apolima/Arara? Querem a demarcação de suas terras dentro da Gleba Amônia. Eles hoje formam uma população de 200 indivíduos e tem o apoio da Funai que vai criar o grupo de trabalho para identificar a terra. No entanto, segundo Fernando Katukina, a prefeitura de Thaumaturgo e os ribeirinhos são contra a demarcação da nova terra indígena.

Contrabando de madeira

Segundo Fernando Katukina, os Ashaninka estão muito preocupados com a retirada de madeira na região do Rio Amônia. Além de estarem retirando madeira na fronteira, peruanos estão invadindo a terra ashaninka em busca de madeiras nobres. O pior é que agora até mesmo os Ashaninka que habitam no Peru estão sendo cooptados pelos peruanos para invadirem o Brasil e tirar madeira. Outra preocupação é que do lado peruano está sendo aberta uma estrada cortando os igarapés, inclusive o Amoninha e os Ashaninka temem a poluição de suas fontes de água e ate mesmo a possibilidade de a água dos igarapés serem envenenadas.

Preocupação

Em vista de todos estes problemas, Fernando Katukina conta que todos os órgãos participantes da expedição estão preocupados com a região e pretendem reforçar a vigilância da fronteira. em dezembro vai acontecer reunião em Brasília, envolvendo todos os órgãos de segurança, para formulação de estratégias. O presidente do Ibama, Hamilton Casara, que também visitou a região na semana passada, segundo informa Fernando Katukina, declarou que o órgão vai reforçar o Ibama no Juruá, tornando-o uma base e ainda vai manter o helicóptero na região. Outra possibilidade aventada foi a de fazer uma picada em toda a extensão da fronteira com o Peru iniciando em Assis Brasil e chegando até o Parque Nacional da Serra do Divisor. Fernando Katukina conta que o marco 40 foi adiantado cerca de 50 m dentro das terras brasileiras, enquanto o marco 31 não foi encontrado.

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