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Traficantes e madeireiros agem soltos na fronteira com o Peru

Tribuna de Imprensa-Rio de Janeiro-RJ
Autor: Ana Carolina Diniz
18 de Ago de 2003

Graves ameaças ao patrimônio natural e à soberania nacional brasileira pairam na fronteira entre o Estado do Acre e o Peru. Traficantes de drogas e madeireiros peruanos entram livremente no Brasil nas terras demarcadas dos índios ashaninkas (Kampas) e dos índios Arara junto ao Rio Amonêa e na área sul do Parque Nacional da Serra do Moa, no município Marechal Thaumaturgo, no Acre. Não há delimitação entre os países nem policiamento na fronteira.

A retirada ilegal de vegetação brasileira já causou perda de mais de US$ 450 milhões. O metro cúbico de mogno é comercializado nos países importadores a US$ 1.600. A Polícia Federal calcula que foram retirados 300 mil metros cúbicos de mogno do território brasileiro.

Os madeireiros extraem o mogno e o exportam para o Japão, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Holanda e República Dominicana. Informações da Polícia Federal indicam que a principal madeireira seria japonesa e teria se instalado no território peruano durante o governo Alberto Fujimori. A madeira é retirada no Brasil e recebe certificação legal no Peru.

O mogno é cortado em pranchas, colocado em carroças montadas sobre rodas de motocicletas e escoado até o rio ou igarapé mais próximo. De acordo com a deputada federal Perpétua Almeida (PC do B- AC), que foi ao local em junho, o motivo para as invasões é a inexistência de delimitação entre os dois países. Além disso, não há policiamento na fronteira, deixando o caminho livre para traficantes e madeireiros.

Até 1987, o 7o Batalhão de Engenharia e Construção do Exército mantinha no município de Marechal Thaumaturgo um pelotão de fronteira. A deputada tenta incluir no Orçamento de 2004 a construção de um batalhão no local, o que segundo ela, intimidaria o tráfico ilegal de madeira e drogas.

Outro problema é a falta de uma legislação ambiental no Peru, diz a deputada. Eles não consideram o desmatamento um crime e, por este motivo, presume-se que o mogno no território peruano esteja extinto.

"Daí, a investida voraz das empresas madeireiras instaladas no Peru sobre a fronteira com o Brasil, onde ainda há incidência de mogno", denuncia Perpétua. Ela lembra que a legislação brasileira não permite que esse tipo de árvore seja derrubada.

"O que revolta é que estrangeiros levam toda nossa vegetação por falta de fiscalização", afirma a parlamentar, que encaminhou denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) e defende que seja cobrado do governo do Peru todo o prejuízo causado com a ação dos madeireiros estrangeiros. Segundo a deputada, o Itamaraty está trabalhando em conjunto com o governo peruano para tentar fazer uma legislação local.

Tráfico de drogas
Além da exploração ilegal de mogno nas terras da tribo dos índios Ashaninkas (Kampas) e dos índios Arara do Rio Amonêa, traficantes aproveitam a falta de
fiscalização na fronteira Brasil-Peru para transportar drogas.

Segundo relatório da Polícia Federal, o tráfico é feito através do sistema "formiguinha", onde pessoas que moram no local atravessam a floresta carregando as sacas de drogas nas costas. O carregamento é recebido por um traficante brasileiro, seguindo para os municípios de Cruzeiro do Sul, Marechal Thaumaturgo, Manaus e abasteceria também o eixo Rio-São Paulo.

Os traficantes aliciam índios e a população local, os homens da floresta, para fazer o transporte da droga. "As ações do narcotráfico, que corrompe os habitantes da região e causa intranqüilidade às autoridades municipais e estaduais, têm se tornado quase que diárias", afirma Perpétua.

Para a parlamentar, o Brasil tornou-se um centro estratégico no processo de distribuição de drogas. "Nossas fronteiras com precária fiscalização transformam nosso País em um corredor privilegiado para as ações criminosas dos narcotraficantes colombianos e de outros pontos da América Latina".

A deputada do PC do B do Acre comprova as acusações citandoa identificação pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico de ações de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e contrabando de armas na fronteira do Paraguai com o Brasil, ou a utilização de terras indígenas na divisa do Acre com o Peru para escoamento de entorpecentes, denunciada por lideranças da tribo Ashaninkas do Rio Amonêa.

Pérpetua diz que é preciso uma ação agressiva do estado brasileiro para coibir a transformação do País em rota do tráfico internacional, ou pior, em uma "colombianização".

Ela relata que o comandante da Polícia Militar no Acre, coronel Alberto Camello, disse que o consumo de drogas entre a população indígena e ribeirinha vem aumentando. "Grande parte da população que nunca havia ouvido falar em drogas, hoje é usuária e dependente, estando nas mãos dos traficantes. Eles fazem o que querem. Em certas missões que realizamos, não abordamos a população, pois podemos colocar em risco sua integridade física, e também porque, com medo,
não nos ajudarão", afirmou o comandante.

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