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Tráfego noturno em reserva indígena provoca reação

A Crítica - www.acritica.com.br
10 de Nov de 2008

A pressão externa pela liberação do tráfego noturno de veículos dentro da reserva uaimiri-atroari será tema de audiência pública no Senado. A informação é do senador João Pedro (PT-AM) que ontem retornou de uma viagem de dois dias à Terra Indígena Waimiri Atraoari (TIWA), localizada na BR-174, a cerca de 250 km de Manaus.

O senador disse que diante da crescente pressão pela abertura da estrada, a audiência se faz necessária, para que as autoridades conheçam e se sensibilizem com esse pleito. "Não podemos deixar que a abertura dessa estrada comprometa a vida dessa comunidade que sempre lutou pela própria sobrevivência. Não estamos tratando apenas sobre a defesa da floresta, os uaimiris são tão brasileiros quanto nós. Eles querem apenas viver em paz, com respeito aos seus direitos adquiridos", alertou João Pedro.

A visita do senador à terra indígena atendeu a convite de lideranças indígenas da própria etnia, que se declaram ameaçadas pela possibilidade de o Governo Federal liberar o tráfego noturno de veículos nos 125 km de reserva cortados pela rodovia. "Abrir totalmente a estrada para o tráfego noturno seria um atentado à vida desse povo, que luta para preservar suas raízes e sua dignidade ao mesmo tempo em que preserva o meio ambiente", disse João Pedro, primeiro senador convidado a pernoitar na reserva.

Atualmente, entre 18h e 6h da manhã, só podem trafegar dentro da reserva ônibus, caminhões com carga perecível ou ambulâncias conduzindo enfermos. A medida evita que carros de passeio ou caminhões em alta velocidade atropelem animais de hábitos noturnos, muito comuns às margens da estrada. Só em 2008, mesmo com a proibição do tráfego noturno de veículos, cerca de 400 animais silvestres foram atropelados nesses 125 km de rodovia. "Cada vez que um animal é atropelado nós retiramos da estrada e anotamos. Está tudo registrado. Imagine se os carros passassem também de noite", diz Mário Parywe, líder uaimiri-atroari, mostrando catálogos com o atropelamento de todos os animais: 4.442 desde agosto 1997, numa lista que inclui gaviões, cobras, mucuras, macacos, cutias e até tamanduás-bandeira.

BR-174 abriu portas para os impactos

Com o asfaltamento da BR-174, que corta exatamente o meio da reserva, os uaimiri-atroari tiveram que lidar com os impactos gerados a partir do aumento do fluxo de veículos e do contato entre a população indígena e os não-índios. Os possíveis danos causados pela pavimentação da estrada foram contornados com um Plano de Proteção Ambiental e Vigilância Territorial, elaborado pela própria comunidade, que conseguiu alcançar resultados muito satisfatórios.

"Hoje, após 40 anos de contato e de terem quase sido exterminados, os uaimiri- atroari são um povo alegre, saudável, que afirma sua auto-gestão junto à sociedade externa ao mesmo tempo em que mantém intactas suas tradições", explica o indigenista Porfírio Carvalho.

Todas as noites, a partir das 18h, os postos do Programa 'Waimiri Atroari' no início e no fim da terra indígena fecham a estrada com correntes doadas pelo próprio Exército há mais de uma década. "Foi o próprio Exército Brasileiro que começou a fechar a estrada com essas mesmas correntes. Quando eles deixaram seus postos de vigilância ofereceram as correntes aos uaimiris, que aceitaram e cuidam desse trecho da estrada até hoje", recorda Carvalho.

Povo viveu sob ameaça de extinção

Os uaimiri-atroari, que estiveram muito próximos da extinção na década de 1980 - eram 374 em 1986 - somam hoje uma população de 1.287 índios, divididos em 19 aldeias, a vigésima em construção. Sua terra indígena tem 2.595.911 hectares, foi demarcada em 1987 e homologada em 1989.

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