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Titular do Meio Ambiente se sentiu desprestigiada

OESP, Nacional, p. A4
14 de Mai de 2008

Titular do Meio Ambiente se sentiu desprestigiada
Gota d'água foi Mangabeira no conselho

João Domingos e Marcelo de Moraes

Cinco anos, quatro meses e treze dias depois de assumir o cargo de ministra do Meio Ambiente, a senadora Marina Silva (PT-AC) cumpriu a previsão de que perderia a cabeça, "mas não o juízo". Numa carta enviada ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela pediu demissão do cargo (leia a íntegra na página A7). Nesse caso, perder o juízo, na avaliação de assessores de Marina, seria continuar no governo tendo de conviver com o ministro da Secretaria de Ações de Longo Prazo, Mangabeira Unger, como coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS).

Com a ministra saem dois auxiliares de sua absoluta confiança: Basileu Aparecido, que acumula as funções de chefe de gabinete de Marina e presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Meio Ambiente e presidente do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade.

Oficialmente, a assessoria de Marina informou que a saída ocorreu por causa de uma série de desgastes provocados por ações do governo com as quais não concordava e uma seqüência de insatisfações com as atitudes do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o que pode ser qualificado como "gota d'água" foi, de fato, a escolha de Mangabeira Unger para a chefia do conselho gestor do Plano Amazônia Sustentável.

Marina sentiu-se desprestigiada pelo presidente Lula por não ser a responsável pelas ações que teriam como prioridade garantir a proteção ambiental da região. No fim de semana, reunida com assessores e aliados na sua casa, comunicou que voltaria ao Senado. A declaração de que preferia perder a cabeça, mas não o juízo foi relembrada.

Na solenidade de lançamento do plano, o presidente Lula chegou a dizer que Marina seria a "mãe do PAS", numa referência ao fato de a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ter sido chamada por ele de "mãe do PAC", o Programa de Aceleração de Crescimento. Segundo um amigo da ministra, a reação dela foi do tipo "sou a mãe do PAS, mas quem vai criar o filho é outra pessoa".

O PAS era visto como uma ação estratégica dentro do ministério, já que que dados preliminares apontam o crescimento acentuado do desmatamento na Amazônia. Com o lançamento antecipado do plano, o ministério esperava atenuar críticas à política ambiental.

Mangabeira Unger disse ontem que "jamais" teve divergências com Marina. Segundo sua assessoria, o ministro lamentou a demissão. "Nada abalará o compromisso do governo Lula e do Brasil com o desenvolvimento sustentável da Amazônia, que se confunde com o próprio engrandecimento do País", afirmou.

Por conta da questão do controle do desmatamento, Marina já vinha esgarçando sua relação dentro do governo. A ministra ficou aborrecida com o silêncio de Lula diante de críticas à sua gestão feitas pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), durante reunião com o presidente.

Marina também ficou muito insatisfeita com o fato de Lula ter decidido não comparecer à abertura da 3ª Conferência do Meio Ambiente, evento promovido pelo ministério no início do mês.

O presidente recusou o convite por ter na lembrança a péssima impressão de sua participação na conferência de 2003. Na ocasião, provocado por ambientalistas, que usavam nariz de palhaço e o vaiavam da platéia, Lula fez um duro discurso contra os manifestantes.

Quem ganha

Dilma Rousseff
A ministra-chefe da Casa Civil vivia em conflito com Marina, cobrando mais rapidez na concessão de licenças ambientais para obras do PAC. Também discordava da posição sobre transgênicos

Reinhold Stephanes
O ministro da Agricultura discordava de Marina sobre transgênicos e batia de frente com o ministério por não aceitar o diagnóstico de que o agronegócio era responsável pelo avanço do desmatamento

Governadores
São aliados de Dilma na cobrança de licenças. Um grupo, liderado por Blairo Maggi (MT), defende que o aumento da produção de alimentos sacrificará o ambiente

CTNBio/Ciência e Tecnologia
Tinham na ministra adversária dos transgênicos

Transposição do S. Francisco
Ministra exigia mais estudos ambientais para as obras, apoiadas pelo deputado Ciro Gomes (CE)

Mangabeira/Alencar
O ministro de Assuntos Estratégicos, cujo "padrinho" é José Alencar, virou espécie de "pai do PAS"

Sérgio Cabral e PMDB
Apesar de o secretário de Meio Ambiente do Rio, Carlos Minc, ser do PV, para Cabral é mais um nome do Estado no Planalto (o outro é José Gomes Temporão, na Saúde)

Quem perde

Governo Lula
Imagem externa sai arranhada. Aumentarão pressões internacionais e serão maiores as cobranças contra desmatamento. Marina funcionava como um seguro-garantia de que o Brasil tinha voz em favor da preservação do ambiente

Petismo
Marina estava no governo desde 2003 e representava o discurso histórico do PT pró-ambiente. Era uma figura mais identificada com "petismo" do que com "lulismo"

Movimentos ambientais
Os movimentos vão se ressentir da perda de interlocução que estabeleceram na gestão Marina

Sibá Machado (PT-AC)
O senador é suplente da ministra, que volta ao Legislativo

CPT
Perde militante histórico no Congresso, o senador Sibá

OESP, 14/05/2008, Nacional, p. A4

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