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Testemunha viva da floresta

O Globo, Amanhã, p. 7
17 de Set de 2013

Testemunha viva da floresta
Pesquisadores da USP descobrem uma nova espécie de esponja continental em Linhares, no Espírito Santo, que ajudará a contar a história da Mata Atlântica e do clima da região

Um pequeno animal, descoberto em Linhares, no Espirito Santo, pode fornecer grandes informações sobre a história da Mata Atlântica. Encontrada por pesquisadores da USP, a nova espécie de esponja continental (Anheteromeyenia vitrea) tem formações de sílica em seu esqueleto. Por isso, seus fósseis podem ficar preservados durante milhares de anos. Nas escavações, os especialistas conseguem obter extratos muito antigos de terreno. A existência ou não de fósseis das esponjas nestas amostras ajuda a entender como era o ecossistema no local.
As esponjas, ainda vivas, foram coletadas numa área de campos nativos - cuja vegetação é menos densa - dentro da Reserva Natural da Vale. Os animais foram vistos pelo biólogo Antônio Álvaro Buso Júnior, doutorando da USP e um dos autores do artigo publicado no fim de 2012 no periódico científico brasileiro "Neotropical Biology and Conservation", mantido pela universidade gaúcha Unisinos. Ele encontrou cinco esponjas, que, juntas, mediam 20 cm.
- Sabemos que a espécie gosta deste tipo de ambiente. Podemos inferir, portanto, que nos locais onde encontramos fósseis o ambiente era no passado semelhante ao de hoje - diz Buso Júnior. - A descoberta de uma espécie nova é muito importante, e ressalta a necessidade de conhecermos melhor a biodiversidade da Mata Atlântica. Podem existir muitas outras que não conhecemos ainda. Imagine o número das que já foram perdidas sem que tivéssemos sequer a oportunidade de estudar.
A pesquisa está em andamento, mas análises prévias - e ainda não publicadas - indicam que há esqueletos dessa nova espécie de esponja no subsolo de Linhares. Entretanto, na parte mais profunda, e, portanto, mais antiga, não foram encontrados os fósseis. Os especialistas continuam os trabalhos para datar este solo, mas já podem observar com segurança a mudança do ecossistema local. - Ainda estamos formulando as hipóteses para explicar essa mudança e entender as razões pelas quais há campos com vegetação mais baixa numa área marcada pela Mata Atlântica densa - ressalta Buso Júnior.
A nova espécie foi achada durante os trabalhos de campo do projeto Estudos Paleoambientais Interdisciplinares na Costa do Espírito Santo, liderado pelo Laboratório de Carbono 14 do Centro de Engenharia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo.
A pesquisa é coordenada pelo físico Luiz Pessenda, professor da USP, que conta com uma equipe de 25 especialistas de cinco universidades brasileiras. Um dos principais objetivos é determinar a vegetação e o clima naquela região nos últimos 50 mil anos.
- O estudo desse material fóssil, associado ao conhecimento atual da Biologia e Ecologia desses animais, permite a reconstituição das condições ambientais passadas, o estudo das mudanças do clima, dos solos e da vegetação de uma determinada região ao longo do tempo - conta Pessenda.

O Globo, 17/09/2013, Amanhã, p. 7

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