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Terras se valorizam até 687% em 3 anos

OESP, Economia, p. B12
07 de Jun de 2010

Terras se valorizam até 687% em 3 anos
Demanda futura por alimentos no mundo pressiona preço de ativos agrários no Brasil e aumenta interesse de investidores

Paula Pacheco

A procura crescente por terras brasileiras tem se refletido no preço dos ativos. Nos últimos 36 meses, por exemplo, terras no Amapá tiveram uma valorização de até 687,4%. Em Mato Grosso, a alta máxima registrada no mesmo período chegou a 636,2%.
Entre as razões que levam ao aumento do preço do ativo agrário está o potencial de valorização das commodities agrícolas.
Organismos internacionais, como a FAO, agência da Organização das Nações Unidas (ONU) voltada para a agricultura e alimentos, assim como as consultorias e os bancos, têm alertado para o fato de que o crescimento populacional nas próximas décadas vai criar uma demanda muito grande por alimentos - e, consequentemente, por terras agricultáveis. O Brasil aparece como grande aposta para quem pretende faturar com a demanda que vem por aí.
"A terra é um ativo concreto e tem a tendência de sempre se valorizar. Com a China e a Índia entrando fortemente no mercado consumidor, é inevitável pensar no crescimento do consumo de alimentos e na necessidade de aumento de produção", diz Jacqueline Bierhals, gerente de Agroenergia da consultoria Agra FNP.
André Pessoa, dono da Agroconsult, diz que o momento é de forte recuperação dos investimentos em terras - depois de uma procura arrefecida pela crise de 2008/2009. "Vemos de tudo, de produtores brasileiros que buscam aumentar as áreas de plantio a grandes grupos internacionais do agronegócio", comenta. Nesse jogo, o importante é sair na frente para mapear as melhores oportunidades, que conjuguem preço baixo do ativo, alta produtividade e boa logística na distribuição da produção.
Segundo Jacqueline, nos últimos 36 meses (de maio/junho de 2007 a março/abril de 2010), a valorização média das terras no Amapá, por exemplo, foi de 117,9%. No Piauí a alta chegou a 70,1% - nos dois casos não foi descontada a inflação (veja quadro ao lado).
Alta produtividade. Piauí, Maranhão e Tocantins formam a sigla Mapito (união das sílabas iniciais de cada Estado) e são a mais recente fronteira agrícola do País, que ganhou impulso nos últimos oito anos. Situação semelhante é a do oeste da Bahia, onde se concentram grandes propriedades com índice de produtividade mais alto do que o americano no caso da soja. Nos últimos 12 meses, por exemplo, o hectare no Maranhão valorizou, em média, 16,8% e, em alguns casos, chegou a 66,7%. Nos últimos três anos, em média, o preço da terra no País aumentou 42% ? mais que a maior parte das aplicações financeiras.
Os valores, segundo a gerente da Agra, até já tiveram altas maiores entre 2006 e 2007. Como os preços também são atrelados à cotação das commodities, já não têm aumentado na mesma proporção de outros tempos. "A saca de soja, por exemplo, vale hoje quase a metade na Bolsa de Chicago do que valia antes da crise, e isso reflete na avaliação da terra", explica a gerente da Agra.
Entrar para o grupo que investe em terras não é missão apenas para quem leva em consideração o valor do negócio, porque os preços variam muito. Um hectare no Acre ou no Amazonas pode sair por R$ 50, segundo levantamento da Agra FNP, e chegar a R$ 2,8 mil. O hectare do País mais caro está em Santa Catarina - R$ 37 mil.
Mas aqueles que procuram opções mais promissoras e ainda com uma boa relação custo/benefício, como o Mapito, podem começar a fazer as contas com o hectare custando a partir de R$ 100. Tudo depende das condições da terra (se é bruta, ou seja, sem nenhum tipo de benfeitoria, ou se já é preparada para o plantio) e dos benefícios nas proximidades (como estradas, distância dos portos).
Nova aposta. Além de culturas tradicionais, como soja, milho e algodão, tem crescido o investimento na cultura do eucalipto para reflorestamento. A Suzano Papel e Celulose, por exemplo, anunciou em março o plantio cerca de 145 milhões de mudas de eucalipto para suprir unidades de produção no Maranhão e no Piauí. Os produtores querem aproveitar a potencial demanda e começaram a seguir o caminho da companhia na cultura do eucalipto.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100607/not_imp562532,0.php

Em abril, investimento estrangeiro aumentou 225%
Dados do BC confirmam o interesse e a evolução constante do aporte de recursos em agricultura e pecuária

Dados do Banco Central mostram que em abril os ingressos de investimentos estrangeiros diretos em agropecuária foram de US$ 26 milhões, ante R$ 8 milhões em abril de 2009 - alta de 225%.
João Neto, sócio da Agrinvest, consultoria de análise de propriedades agrícolas, avalia que o Brasil seja o país que mais atrai estrangeiros: "Há muita terra disponível e a produtividade é alta." Para Marcos Araújo, outro sócio da Agrinvest, os negócios com estrangeiros estão só no começo. "As terras brasileiras serão como um porto seguro."
Na última década, o País viu a chegada de argentinos, australianos e americanos. Fala-se agora dos chineses. Recentemente, o governo baiano recebeu investidores da China interessados em conhecer as oportunidades agrícolas no oeste baiano, mas há muito pouco de concreto.
Destaque. Um dos maiores produtores de grãos no País é um grupo estrangeiro, o Los Grobo, da Argentina. A empresa, presidida por Gustavo Grobocopatel, tem 50 mil hectares, principalmente no Mapito, e faturou em 2009 US$ 267 milhões.
E há mais investidores de fora. A Tiba Agro, voltada à captação de recursos de estrangeiros para aquisição de terras, é dona de 320 mil hectares no Mapito. A Radar, do Grupo Cosan, voltada à compra e venda de terras, tem 80% do seu capital nas mãos de um fundo americano.
Há produtores contrários à invasão estrangeira porque temem a concentração de terras nas mãos de poucos e o efeito da especulação no preço do ativo agrário. Mas outros não se opõem à concorrência. "O Brasil não é uma ilha. Mas não acredito que haja o que temer, porque no campo ninguém faz melhor do que nós", diz o gaúcho Otaviano Pivetta, dono da Vanguarda do Brasil, com terras em Mato Grosso e no oeste baiano.
A Calyx Agro Brasil, dona de 47 mil hectares de terra no País, tem entre seus investidores a multinacional Louis Dreyfus Commodities. Para Harald Brunckhorst, principal executivo, o ritmo de negócios pode melhorar. "Os preços ainda estão altos e o câmbio não é favorável. Por enquanto, há muita especulação. É muita espuma e pouca cerveja", avalia Brunckhorst. / P.P.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100607/not_imp562533,0.php

OESP, 07/06/2010, Economia, p. B12

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