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Terra para índios sem raízes

JB, Pais, p.A3
27 de Nov de 2004

Terra para índios sem raízes

Uma área sem árvores, sem caça e sem peixes nas águas. Esta é a Terra Indígena Panambizinho, homologada ontem pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. A região havia sido demarcada pelo governo em 1995, mas a homologação demorou e a terra foi devastada pelos posseiros.
A demora obrigou o governo a comprar as áreas de alguns posseiros e devolver aos índios guarani-caiuás. Cerca de 130 índios vivem nas casas espalhadas pelos 1.240 hectares da reserva. 0 índio Valdelino Aquino lamenta a inexistência de cobertura vegetal na terra, que hoje está cercada por grandes plantios de soja e cilos dos grandes fazendeiros.
-A terra está pelada, só tem algumas árvores - disse Valdelino.
Aos 52 anos, o índio diz que vai ter muita dificuldade para reconstituir a produção no local. Ele pretende plantar mandioca, abóbora e milho, mas reclama que a tribo não tem um trator.
Representante do Conselho dos Direitos Indígenas da região, o índio caiuá Silvio Paulo lamenta que os fazendeiros desmataram toda Panambizinho. Ele disse que os 130 índios do local vão ter de "se virar":
-Aqui não tem nada, só terra.
Refém de um protesto recente dos índios, o motorista Eliseu dos Santos lamenta que os índios tenham perdido suas raízes. Segundo Eliseu, os índios andam pela cidade de Dourados como mendigos.
- Eles só bebem cachaça e pedem esmola. Estão iguais a mendigos. Chegam na feira no sábado e só saem no domingo à tarde.
Panambizinho fica a cerca de 5 km de Dourados, que está a 100 km da fronteira com o Paraguai e é a principal rota de narcotráfico do país. A área da terra indígena está toda coberta por capim e os índios disputam as melhores casas deixadas pelos colonos. Ontem, no entanto, receberam Thomaz Bastos com festa. (H.M.)

JB, 27/11/2004, p. A3

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