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Terra 'franco-alemã' do Brasil é muito cara

OESP, Economia, p. B10
04 de Jun de 2008

Terra 'franco-alemã' do Brasil é muito cara
Culturas de soja e de cana em outras regiões levaram criadores de gado para o norte do País

João Domingo

Os 77 milhões de hectares de terras agrícolas de fora da Amazônia, que ainda não foram usados e cuja área corresponde a quase os territórios da França e da Alemanha juntos, citados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem, na reunião do Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), compõem uma área em que a terra se tornou muito cara. Ficam nas Regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e numa pequena parte do Nordeste, na Bacia do Rio São Francisco.

A alta valorização que tiveram nos últimos anos, principalmente em razão do aumento do preço dos grãos e do etanol, explica em parte o avanço do tão temido desmatamento na Amazônia a partir da chegada do gado. Gado que, de acordo com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, é responsável por entre 70% e 80% do aumento do desmatamento.

Sem condições de competitividade com a cana-de-açúcar, a soja e o milho, o gado deslocou-se da região centro-sul para o oeste da Bahia, do Tocantins, sul do Pará e de Mato Grosso - estas últimas três áreas dentro da Amazônia Legal.

Na Amazônia, a terra é muito mais barata e os criadores de gado que usam o ultrapassado método extensivo (gado solto no pasto) podem comprar áreas muito maiores que nas regiões onde ficam os terrenos agricultáveis de nossa "França e Alemanha".

Segundo Jacqueline Bierhals, analista de mercado para commodities e terras da AgraFNP, empresa de São Paulo que trabalha na análise do preço de terras de todo o País, o hectare mais caro hoje está na região de Cascavel e Toledo, no Paraná. Sai por cerca de R$ 21 mil. A segunda região mais valorizada é a de Ribeirão Preto e Sertãozinho, em São Paulo, com o hectare avaliado em R$ 20,6 mil.

Em compensação, na Amazônia, o hectare da área de cerrado agrícola em Nova Ubiratã, em Mato Grosso, vale R$ 1,5 mil. Pode ser usada tanto para pasto quanto para soja e outros grãos. Já uma área de mata em Boca do Acre, no Amazonas, custa R$ 115 o hectare. Trata-se de mata fechada e, para virar pasto, perpetuaria outro crime ambiental, que já foi cometido principalmente no sul do Pará, em Rondônia e no norte de Mato Grosso, onde há um desmatamento descontrolado e ilegal.

De acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o rebanho de São Paulo caiu de 14 milhões de cabeças em 2003 para 12,8 milhões em 2006. Em compensação, na Amazônia Legal, em 1990, todo o gado da região correspondia a 18% do rebanho brasileiro; hoje já é 36%, ou 76 milhões de cabeças. Foi o maior crescimento verificado no País. O gado da Amazônia, principalmente o do sul do Pará, é exportado também em navios, em pé, para países como o Líbano, a Síria e a Venezuela.

"O gado cresceu na Amazônia em função do deslocamento forçado por outros produtos, muito mais competitivos, como a soja e a cana, e agora se consolidou pelo aumento do preço da carne e do leite", disse Paulo Barreto, do Imazon. O maior número de cabeças de gado num único município, hoje, está localizado em São Félix do Xingu, no sul do Pará.

O rebanho lá é de 1,5 milhão de cabeças. Em Santana do Araguaia, que tem pouco mais de 20% da mata em pé, são cerca de 600 mil cabeças. Para se ter uma idéia da dimensão do rebanho, em Uberaba (MG), tradicional dono do melhor zebu do País, há 220 mil cabeças.

OESP, 04/06/2008, Economia, p. B10

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