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Terra Arrasada

Jornal Pessoal-Belém-PA
06 de Mai de 2004

Araguaia nunca mais, era o que pensavam as pessoas de boa fé e inteligência depois de testemunharem, ao longo das décadas de 60 a 80, a destruição avassaladora do vale do Araguaia-Tocantins. A humanidade já devia ter avançado o bastante desde então para não tolerar mais a selvageria que marcou a expansão das frentes econômicas pela porta dos fundos da Amazônia (a legítima porta de entrada deveria ser a foz do rio Amazonas, o caminho multissecular dos exploradores da região).

Os dados sobre o desmatamento no ano passado, recém-divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de São Paulo, no entanto, mostram que o Xingu é o novo Araguaia no prosseguimento, rumo oeste, dessa ofensiva irracional de destruição de floresta. São Félix do Xingu foi o município onde mais houve desmatamento: 133 mil hectares de cobertura vegetal foram postos abaixo na safra (agosto/2002 a agosto/2003), o dobro da devastação no segundo município no ranking, que também foi paraense, Uruará (na Transamazônica), com 70 mil hectares. Dos 10 municípios mais desmatados na região, cinco (os outros são Novo Repartimento, Marabá e Novo Progresso) ficam no Pará. Entre os 25 campeões amazônicos de derrubadas, os paraenses são nove. Não se trata propriamente de um galardão.

São Félix já perdeu 14% da sua cobertura florestal (só em 2003 desapareceu quase 1,5% da extensão municipal). Os mais cínicos, que preferem atender pela designação de desenvolvimentistas, haverão de dizer que ainda é um percentual pequeno. No entanto, São Félix, sozinho, respondeu por 7% de todo o desmatamento da Amazônia no ano passado. A Amazônia Legal tem mais de 500 municípios.

Significa que, a despeito de tudo que já se disse e se prometeu sobre os crimes praticados quase impunemente no Araguaia-Tocantins, eles se repetem no vale seguinte na rota dos pioneiros. E já estão ocorrendo na próxima parada, o Tapajós, onde começam a se multiplicar casos de grilagem de terras, concentração da propriedade, conflitos possessórios, corrupção, estelionato. Permanece, assim, a lógica da terra arrasada, que serve de guia para a chamada "integração da Amazônia". Depois dela sobrará pouco para "entregar" ao cobiçador estrangeiro, contra cuja "entregação", a integração foi proposta.

Somos, para esses centuriões romanos (ou paulistas), nada mais do que uma Cartago tropical. Delenda, pois.

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