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Termelétricas substituirão energia de Tapajós

O Globo, Economia, p. 24
06 de Ago de 2016

Termelétricas substituirão energia de Tapajós
Para especialistas, fontes renováveis devem voltar a perder espaço na matriz, que ficará mais poluente

BRUNO ROSA
bruno.rosa@oglobo.com.br

A recusa do Ibama em conceder a licença ambiental para a construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Pará, vai repercutir no futuro da matriz energética brasileira. Se desde 2014 as fontes renováveis vinham ganhando participação, a tendência é que, a partir dos próximos anos, o Brasil volte a ter uma geração de energia mais suja, com o aumento das usinas termelétricas, que deverão substituir em parte os 8 mil megawatts (MW) previstos para a usina que ficaria na Região Amazônica.
A matriz energética brasileira ficou mais suja, ou seja, poluente, a partir de 2012, quando a falta de chuvas começou a reduzir drasticamente o nível dos reservatórios. Em 2013, o governo baixou artificialmente os preços da conta de luz, gerando um aumento da demanda. E isso forçou o governo a ligar todas as termelétricas do país, inclusive as mais poluentes, movidas a óleo diesel. Assim, as fontes renováveis viram sua fatia cair de 88,9% em 2011 para 75,5% no ano passado. A expectativa para este ano, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), é que a soma de hidrelétrica, eólica e biomassa chegue a 82,9%.
Para o especialista Erik Eduardo Rego, diretor da Consultoria Excelência Energética, apesar do crescimento da energia eólica (a partir dos ventos) e da promessa da solar, as fontes renováveis dificilmente voltarão ao nível superior a 90% da matriz, como era comum até a década passada. Para que isso aconteça, afirma ele, a recessão econômica precisaria se prologar ao ponto de o consumo de energia não reagir.
- Nos anos mais recentes, a expansão da matriz tem sido promovida por eólicas e com a conclusão dos projetos hídricos estruturantes. Mas, a longo prazo, de forma a garantir a segurança energética, dado que as novas hidrelétricas não têm reservatórios e que não se pode estocar vento, não vejo caminho melhor do que expandir a base de termelétricas a gás natural - explica Rego.
ATENÇÃO PARA A FISCALIZAÇÃO DE PROJETOS
A economista e especialista do setor elétrico Elena Landau destaca ainda que, depois da polêmica envolvendo a Usina de Belo Monte, também no Pará, novas hidrelétricas dificilmente sairão do papel por questões ambientais.
- O Brasil vai voltar a crescer, e as termelétricas a gás serão inevitáveis. Hoje, já vemos avanços com essa discussão ganhando força. Nos últimos anos, houve um erro de política energética. O governo deveria ter feito racionamento, não ter deixado baixar o nível dos reservatórios e acionado as térmicas. Agora, temos a recessão e uma redução do consumo. Isso permitiu o desligamento de muitas termelétricas, deixando a matriz mais limpa - afirma Elena.
Fábio Cuberos, gerente de regulação da consultoria Safira, ressalta que a diversificação da matriz energética é primordial. Por isso, ele acredita que a matriz elétrica deve ganhar novas termelétricas, sobretudo a gás, como forma de se preparar para um cenário de escassez de água. Segundo ele, mesmo com os leilões de fontes renováveis nos últimos anos, como eólica e solar, as termelétricas tendem a "garantir a segurança energética":
- Por isso, é difícil manter a matriz mais limpa. O ideal é ter uma mescla de fontes. Para 2017, tudo vai depender do volume de chuvas do próximo período úmido, que começa em outubro. O mais importante, independentemente da agenda de leilões, é a execução de uma fiscalização mais eficiente. Por exemplo, alguns projetos de termelétricas a gás que venceram um leilão promovido pelo governo recentemente já dão sinais de problemas econômicos entre seus acionistas. Então, como esses projetos devem apresentar problemas, é preciso haver um plano B para que essa energia seja substituída o mais rápido possível.
Apesar da expectativa de uma matriz mais suja no futuro, as renováveis vêm crescendo. Segundo dados do MME e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a fatia das hidrelétricas deve ficar em 69,6% este ano, contra 65% em 2015. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) cita o início das operações da polêmica Usina de Belo Monte neste ano e a entrada gradual de novas turbinas de Santo Antônio, no Rio Madeira, até dezembro. Somente em maio deste ano, os dois projetos já geraram mais de 2 mil MW médios. A previsão é que as eólicas passem de 3,5% para 4,6%, e a biomassa, de 8% para 8,7%.
- A biomassa aumentou porque a safra foi boa. A eólica é competitiva, e a solar, que está começando, tem potencial para ficar economicamente viável. Mas as termelétricas vão continuar operando na base do sistema - destaca Rui Altieri, presidente do Conselho de Administração da CCEE.

'Vamos tentar alternativas'
Secretário de Minas e Energia diz que, sem Tapajós, governo terá de usar termelétricas por mais tempo

EDUARDO AZEVEDO

Eduardo Azevedo, secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), ressaltou que, por conta de o Ibama ter negado a licença ambiental da hidrelétrica de Tapajós, a alternativa é usar usinas termelétricas por mais tempo. Ele destaca ainda que as termelétricas ficarão ligadas até o início do próximo período de chuvas, em 2017.
Como fica o cenário sem Tapajós? A usina estava no nosso planejamento. E, diante de uma sinalização negativa do ponto de vista ambiental, não vamos em frente. E vamos tentar alternativas, como usar as termelétricas por mais tempo para segurar os reservatórios e ter um espaço para poder cobrir essa variação. Há outros empreendimentos ainda que temos de trabalhar, como a transmissão.
Então, as termelétricas ficarão operando na base do sistema até quando?
Esse número ainda não está fechado. Mas acredito que as térmicas vão ficar ainda por um tempo, 2016 com certeza, e 2017 até o início do período úmido. Abrir mão de termelétricas não é razoável, para ter garantia. Mas temos o compromisso com a COP 21, com a redução de emissões. E obrigatoriamente temos de continuar investindo nas renováveis, como biomassa, biogás, eólica, solar e hidrelétrica. Vai ser um mix. A gente acredita que a solar vai ter uma participação mais importante na geração distribuída, com indústrias e grande comércio. Teremos de contornar os problemas com as empresas que não conseguiram entregar seus projetos. E corrigir os atrasos. Tudo isso está sendo tocado, e estamos identificamos as áreas mais críticas. (Bruno Rosa)

O Globo, 06/08/2016, Economia, p. 24

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