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Temperaturas batem recordes às vésperas de acordo climático global

O Globo - http://oglobo.globo.com/
Autor: Renato Grandelle
21 de Abr de 2016

Acordo de Paris será assinado na sexta; Março foi o mês mais quente desde 1880

Dois novos estudos sobre as mudanças climáticas aumentam a pressão sobre os chefes de Estado que assinarão amanhã, em Nova York, o Acordo de Paris - conjunto de medidas estabelecidas no fim do ano passado para limitar o aumento da temperatura global em até 2 graus Celsius. De acordo com um relatório divulgado esta semana pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA (Noaa), o mês passado foi o março mais quente desde o início dos registros históricos, em 1880, repetindo o observado em janeiro e fevereiro deste ano. Entre os cientistas, é praticamente consenso que 2016 será o ano mais quente da História.

Outro estudo alerta que, até 2100, 88% dos americanos viverão em regiões onde o tempo será pior do que o registrado atualmente. Publicado na edição desta semana da revista "Nature", o levantamento combate as avaliações positivas sobre o aquecimento global. Hoje, 80% da população dos EUA moram em localidades onde a temperatura é melhor do que a vista 40 anos atrás - os invernos são mais amenos e o crescente calor do verão não é desagradável. Este cenário, porém, será modificado se for mantido o crescimento das emissões de gases de efeito estufa.

Desde 1974, a temperatura em janeiro, no ápice do inverno do Hemisfério Norte, tem crescido 0,58 graus Celsius por década. Em julho, no auge do verão, os termômetros registraram um aumento de apenas 0,07 graus Celsius a cada dez anos.

- O aumento da temperatura é um sintoma ameaçador das mudanças climáticas, mas os americanos estão experimentando seus efeitos em partes do ano em que dias mais quentes são bem-vindos - lembra Patrick Egan, coautor do estudo, coordenado pelas universidades Duke e de Nova York.

- Os EUA estão entre os países mais influentes na definição de políticas no planeta, mas também entre os maiores emissores de gases de efeito estufa - explica Joacim Rocklöv, que assina a pesquisa. - Os americanos podem não reconhecer como os efeitos benéficos do aquecimento global mudarão no futuro.

Amanhã, os diplomatas e governantes de 195 países reunidos na ONU formalizarão os compromissos assumidos voluntariamente pelas nações na Conferência do Clima de Paris (COP-21). Se todas as metas forem cumpridas, o planeta aquecerá pelo menos 3 graus Celsius. Analistas acreditam que as grandes potências não modificarão os termos que apresentaram no ano passado, mas alguns países cuja economia é movida por combustíveis fósseis, como Arábia Saudita e Venezuela, podem retroceder e adotar projetos mais tímidos.

METAS VOLUNTÁRIAS

Cada país traçou seu plano para reduzir a liberação de poluentes a partir de 2020, ano em que o Acordo de Paris entra em vigor. Para garantir a transparência das políticas públicas, a ONU acompanhará o cumprimento das metas - durante a COP-21, esta medida chegou a ser vista como uma violação à soberania nacional, mas esta polêmica foi superada porque não haverá punições aos governos que não seguirem seus projetos.

O Acordo de Paris, no entanto, não aponta soluções para uma questão fundamental: como arrecadar até US$ 200 bilhões por ano para patrocinar medidas de adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento.

Presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, Suzana Kahn explica que o Acordo de Paris é uma carta de intenções, e não um documento legalmente vinculante - ou seja, com poder de lei. O único tratado sobre mudanças climáticas que teve força legal - e, por isso, acabou amplamente boicotado - foi o Protocolo de Kioto, em 1997, que obrigava apenas os países desenvolvidos a cortarem emissões de poluentes.

- Os países precisam adotar os mesmos cálculos para averiguar como absorvem e liberam gases de efeito estufa. E unificar esta conta é um procedimento caro - avalia Suzana, que também é coordenadora executiva do Fundo Verde da UFRJ. - A criação de um fundo internacional só será resolvida em outras conferências. A partir daí, as nações poderão adotar metas mais ambiciosas e, enfim, será possível revisar os planos atuais, evitando o aquecimento global superior a 2 graus Celsius.

Secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl pondera que as nações não devem esperar quatro anos para colocar seus projetos em prática. As metas enviadas a Paris, defende, precisam ser revisadas ainda em 2018. E o setor privado é considerado fundamental para garantir uma relação saudável entre desenvolvimento econômico e meio ambiente.

- Não existe incompatibilidade entre a retomada do crescimento econômico e a sustentabilidade - enfatiza. - Poucos anos atrás, o meio ambiente só era tratado como algo que gerava custos. Agora, já se tornou evidente que a retirada de carbono da economia pode gerar oportunidades. A adoção dos objetivos do Acordo de Paris pode reduzir os impactos econômicos causados pelas mudanças climáticas a setores importantes, como a agricultura.

Henrique Lian, superintendente executivo de Políticas Públicas e Comunicação Externa do WWF-Brasil, ressalta que assinar o documento francês não é suficiente:

- Como a base do acordo é voluntária, podemos voltar ao ponto zero daqui a alguns anos, a não ser que as metas sejam incorporadas à legislação nacional. Além de ratificarmos o Acordo de Paris, nossas medidas devem ser transformadas em lei - reivindica.

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