VOLTAR

Tembé fazem três reféns no alto Guamá

O Liberal-Belém-PA
16 de Mai de 2003

Três funcionários da Funai, entre eles o chefe do posto da Funai no Guamá, Dilson César Cavalcante, estão presos desde a última terça-feira, 13, pelos índios tembé do alto Rio Guamá. Dilson César, Jucelino do Carmo Bessa e Davi Isaac chegaram à aldeia na manhã da terça-feira e logo foram impedidos de deixar o local, permanecendo presos na sede da aldeia, que fica no município de Santa Luzia do Pará.

Os índios prenderam os técnicos porque querem a expulsão imediata de cerca de 150 famílias de agricultores que invadiram a área conhecida como Vila Bacaba, que fica dentro da terra indígena, há 2 horas da sede. Os tembé também querem a substitução da administradora da Funai de Belém, Célia Valuá. Na área do Alto Rio Guamá moram 500 índios e na área do Gurupi mais 1.200.

Segundo Claudemir Monteiro, do Conselho Missionário Indígena (Cimi), os índios estão revoltados porque, há mais de 15 dias, vêm pedindo a presença de técnicos da Funai para resolver o problema dos invasores, mas somente esta semana o órgão se manifestou. Claudemir contou que, no início do mês, os índios tentaram enfrentar os agricultores e expulsá-los da Vila Bacaba, mas a reação foi frustrada e só serviu para acirrar ainda mais os agricultores que reuniram 80 homens e ameaçaram invadir a sede da aldeia.

Com a ameaça, todas as oito aldeias das áreas do Alto Rio Guamá e do Rio Gurupi estão reunidas na aldeia-sede, onde os funcionários da Funai estão presos. Ontem à noite, foi tentado contato com os índios, que estavam reunidos no posto de saúde de Ourém. Eles confirmaram a prisão dos técnicos, mas não quiseram falar com a imprensa. Hoje está marcada uma reunião entre o Ministério Público, a Funai e o Incra para tentar liberar os técnicos e resolver o conflito entre índios e agricultores.

Alguns funcionários da Funai, que não quiseram se identificar, se dizem temerosos pela vida de Jucelino, Davi e Dilson. O temor é porque desde 1996, quando 77 índios ficaram em poder de agricultores que não há paz na terra indígena. Naquele ano, a Funai e o Incra prometeram indenizar e dar lotes de terra fora da área indígena para as famílias (então mais de 150 famílias ) que estavam na vila. Algumas famílias nem chegaram a ser indenizadas e outras receberam lotes de terras inapropriados para o plantio e próximos a focos de malárias e outras doenças. São esses mesmos agricultores, que descontentes, estão voltando a invadir a área Tembé, requisitando inclusive a diminuição de reserva indígena, que hoje é de 279 hectares.

Ontem foi tentado contato com a Funai de Belém, mas, segundo um vigia, os funcionários foram liberados mais cedo por causa da greve de ônibus e a administradora de Belém, Célia Valuá, estava viajando e só volta hoje de manhã.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.