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Tecnologia pode viabilizar exploração de reservas fósseis

Valor Econômico, Internacional, p. A9
Autor: CHIARETTI, Daniela
26 de Set de 2016

Tecnologia pode viabilizar exploração de reservas fósseis

Daniela Chiaretti

Ambientalistas não gostarão da notícia, mas há uma luz no fim do túnel para parte das reservas mundiais de combustíveis fósseis já conhecidas e que ainda não foram exploradas.
A longo prazo, a adoção em larga escala das tecnologias que procuram capturar e estocar o carbono que seria lançado na atmosfera - conhecidas pela sigla em inglês CCS -, pode fazer com que sejam utilizadas reservas de combustíveis fósseis que hoje estão na berlinda, diz um estudo conduzido pelo Sustainable Gas Institute (SGI), do Imperial College London, a que o Valor teve acesso. O SGI foi criado há dois anos em parceria com o BG Group, adquirido pela Royal Dutch Shell.
Se essas reservas forem 100% exploradas, o limite de 2oC de aquecimento da temperatura, acertado no Acordo de Paris e que procura assegurar impactos climáticos menos fortes, será ultrapassado, quadro que as CCS poderiam alterar.
Cientistas do IPCC, o painel climático ligado à ONU, advertem que 80% dos combustíveis fósseis têm que permanecer onde estão para manter o aquecimento global abaixo de 2oC até 2100. Pesquisadores da Agência Internacional de Energia (AIE) indicaram que dois terços das reservas comprovadas de carvão devem permanecer no solo. Estas reservas de combustíveis fósseis receberam a alcunha de "carbono incombustível".
"Mas de hoje a 2050 se decidirmos adotar de maneira ampla as CCS, teremos acesso a 11% a mais de reservas do que se não adotarmos a tecnologia", diz a engenheira química Sara Budinis, que lidera o estudo. Este percentual pode alcançar 32% até 2100.
Hoje há três tecnologias de CCS em estudo. Os sistemas servirão para sequestrar carbono de setores que produzem energia (como as usinas de carvão ou as empresas de exploração de petróleo e gás) e para setores industriais que geram CO2 em seus processos, como cimento, ferro e aço, papel e celulose e petroquímica. Não serve para fontes móveis como carros.
Em 2014 existiam 55 projetos em grande escala em todo o mundo, em diferentes estágios de implementação. "Há 13 projetos já em escala comercial", diz Sara Budinis, sendo sete nos Estados Unidos, dois no Canadá, dois na Europa, um na América do Sul e um na África do Sul. Ela virá ao Brasil esta semana para a conferência Sustainable Gas Research Innovation 2016, em São Paulo.
"Como todas as tecnologias novas as CCS têm custo alto. Mas com o tempo este custo irá diminuir e o de emitir CO2 ficará muito mais alto", estima a pesquisadora.
Segundo o estudo, os custos de emissão de CO2 usados nos modelos do IPCC ficam entre US$ 473 por tonelada de CO2 e US$ 1.100 por tonelada de CO2 até 2050 (considerando o valor do dólar em 2015).
"Aumentará mais em 2100", estima Sara. "Em contraste, o custo global de captar, transportar e armazenar uma tonelada de CO2 varia entre US$ 3 e US$ 160."
O estudo investiga o potencial dos CCS na utilização dos combustíveis fósseis, sempre mantendo o clima no limite dos 2oC.
Ambientalistas desconfiam da tecnologia, que injetaria CO2 no solo. Temem que o gás-estufa possa vazar novamente para a atmosfera - sendo que o combustível fóssil já foi queimado e a emissão lançada à atmosfera.

Valor Econômico, 26/09/2016, Internacional, p. A9

http://www.valor.com.br/internacional/4724569/tecnologia-pode-viabiliza…

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