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Tecnologia contra a seca

O Globo, Opinião, p. 17
Autor: BAHIENSE NETO, Miguel
24 de Ago de 2013

Tecnologia contra a seca

Miguel Bahiense Neto

O governo federal, dentro do esforço de erradicar o risco hídrico no semiárido até o próximo ano, assumiu o desafio de distribuir 750 mil cisternas para a captação de água da chuva. Para o cumprimento desta meta, as autoridades perceberam que precisavam agregar práticas difundidas em países que também enfrentam sérios desafios hídricos. Dentro desta perspectiva, em dezembro de 2011 teve início a utilização das cisternas de polietileno em políticas sociais. Até o fim deste ano, mais de 200 mil unidades devem
ser produzidas.
A produção das cisternas utiliza a tecnologia da rotomoldagem do plástico polietileno, a mesma empregada para a fabricação de mais de 80% das caixas d'água do Brasil. O sistema permite o rápido acesso dos sertanejos à água, já que uma cisterna de polietileno é produzida em apenas 45 minutos e a instalação pode ser feita em até três horas.
Os reservatórios são resistentes e duráveis.
Sob os cuidados corretos, podem durar até 30 anos, com a vantagem de ter baixo custo de manutenção, já que basta o uso de pano e água sanitária apenas uma vez por ano para a limpeza interna.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, evidenciam a importância da política. Metade das 6,4 milhões de residências sem sistema interno para abastecimento de água fica nas comunidades rurais do Nordeste. Situação semelhante acontece com a falta de banheiros. Atualmente, 1,3 milhão de famílias vive sem banheiros, sendo que 55% delas estão na área rural nordestina. Destaque-se, ainda, que, segundo a Organização Mundial de Saúde, para cada R$ 1 investido em saneamento básico se economiza outros R$ 4 na área da saúde.
A experiência mostra que as cisternas estão ajudando milhares de brasileiros a enfrentar a pior seca das últimas cinco décadas. Antes, eles dependiam de pequenos tanques e baldes para armazenar água. A presença das cisternas nas casas reduz a necessidade de caminhadas por quilômetros para acessar açudes degradados pela falta de chuvas. Pesquisas apontam que essa rotina pode consumir mais de 4 horas diárias, sendo cumprida principalmente por mulheres.
Uma pesquisa da ONU em comunidades africanas mostrou uma correlação direta entre falta de água e abstenções na escola.
Na falta de água apropriada, a incidência de doenças gastrointestinais aumenta e postos de atendimento ficam lotados de pessoas com diarreia e outros males. Isso sem falar dos casos de desnutrição infantil e algumas vezes óbitos. Em muitos casos a maternidade é prejudicada, com mulheres do campo precisando se mudar para a casa de parentes na cidade para cuidar do bebê nos primeiros meses de vida.
Há séculos os sertanejos sofrem com a falta de água. Por isso, todas as tecnologias disponíveis são bem-vindas. Somente assim será possível dotar cada família do semiárido com os recursos para conviver com as estiagens. Neste cenário, a cadeia produtiva dos plásticos cumpre seu papel de contribuir com o desenvolvimento social do Nordeste.

Miguel Bahiense Neto é presidente do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos

O Globo, 24/08/2013, Opinião, p. 17

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