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Tato chefiou grupo armado para expulsar colonos, diz entidade

FSP, Brasil, p.A15
02 de Abr de 2005

Denúncia contra o suposto intermediário foi enviada ao Incra antes do assassinato de Dorothy Stang
Tato chefiou grupo armado para expulsar colonos, diz entidade
Silvio Navarro
Da agência Folha, em Belém
Em um ofício enviado ao Incra dois dias antes do assassinato da missionária Dorothy Stang, uma associação de agricultores denunciou que Amair Feijoli da Cunha, o Tato, chefiou um grupo armado para expulsar moradores da região do PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança, que havia sido idealizado pela freira americana.
Tato é acusado de ser o intermediário do crime. Ele teria, segundo as investigações da polícia e do Ministério Público, contratado os pistoleiros Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, a mando do fazendeiro Vitalmiro Bastos Moura, o Bida. O fazendeiro nega.
No ofício, Maria Guzzo, coordenadora da Associação Solidária Econômica e Ecológica7 de Frutas da Amazônia, de Anapu (oeste do Pará), alerta o Incra que "Luiz Moraes de Brito e seus oito filhos tiveram de deixar a casa sob ameaça de armas de fogo empunhadas por Tato e seus homens".
Segundo a denúncia, Tato teria expulsado a família da área. O texto continua afirmando que Bida comprou as terras de Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão. Bida afirma ter sido sócio de Galvão.
Em depoimento, ontem, aos congressistas da CPI da Terra, Galvão negou que tenha sociedade com Bida.
Na denúncia, a associação de Anapu diz ainda: "Estamos cientes de que Tato tem homens armados e fomos informados que, na sexta-feira, dia 4 [de fevereiro], mais homens armados chegaram na sede desse lote que dizem ser do Taradão".
O documento, remetido na véspera da morte da freira, também cita o madeireiro Luiz Ungaratti.
Dominguinhos, no ofício, aparece como "capataz que lidera homens para o senhor José Ricardo Ferreira Andrade". Ambos são citados no depoimento de Bida à Polícia Federal.
Outro lado
A reportagem tentou telefonar para o advogado Oscar Damasceno, que defende Amair Feijoli da Cunha, mas ele não atendeu às ligações. O madeireiro Luiz Ungaratti não foi localizado em sua casa nem no celular. Ontem, ele seria ouvido pela CPI da Terra em Altamira, mas o depoimento foi adiado. Anteontem, Ungaratti havia negado conhecer Bida e ter tido problemas com a freira.

Bida cita à CPI envolvimento de delegado
O fazendeiro Vitalmiro Bastos Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do assassinato da freira Dorothy Stang, confirmou o envolvimento de delegado da Polícia Civil em esquema de proteção a madeireiro supostamente envolvido no crime.
A declaração foi feita em depoimento aos congressistas que compõem a CPI da Terra. O suposto esquema já havia sido revelado em depoimento de Bida à PF quando ele se entregou, no último domingo. Na ocasião, Bida disse ter pedido ao irmão Vander Bastos Moura que redigisse bilhete a Amair Feijoli Cunha, o Tato.
No bilhete, ao qual a Folha teve acesso, Bida diz a Tato "para falar à Justiça o compromisso que tinha com Dominguinhos". Segundo o deputado João Alfredo, relator da comissão, Dominguinhos "foi capataz de três fazendeiros: Délio Fernandes, José Ricardo Ferreira Andrade e Luiz Ungaratti".
Ungaratti é citado no bilhete, que diz que "o patrocinador era Luiz Ungaratti". À CPI, Bida confirmou o que disse à PF, que "Dominguinhos receberia R$ 20 mil pela morte e que Ungaratti seria o patrocinador do crime". Ontem, questionado pelos congressistas sobre quem seria o delegado, Bida disse "ter ouvido falar que era um delegado da Polícia Civil" da região de Anapu.
A cidade tem apenas um delegado, Marcelo Luz, que nega as acusações e diz não conhecer Ungaratti. O outro delegado da região é Pedro Monteiro, de Altamira (140 km de Anapu), que denunciou a freira em 2004 por incitar sem-terra a invadir propriedades. (SN)

FSP, 02/04/2005, p. A15 (Brasil)

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