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Sustentabilidade corporativa: uma necessidade global

CB, Opinião, p. 11
Autor: LINS, Clarissa
19 de Fev de 2007

Sustentabilidade corporativa: uma necessidade global

Clarissa Lins
Diretora executiva da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS)

Não é por acaso que o Fórum Econômico Mundial dedica cada vez mais atenção à sustentabilidade corporativa. Em sua última edição, que reuniu no fim de janeiro, na Suíça, mais de dois mil empresários, foi divulgado um ranking de sustentabilidade com 1.800 empresas. A análise, realizada pela Innovest Strategic Value Advisors, julgou as melhores habilidades desenvolvidas para gerenciar riscos ambientais, sociais e de governança, e aproveitar oportunidades de novos negócios.

O tema tem cada vez mais espaço também entre os itens que analistas levam em conta para recomendar o investimento em um papel. A Bolsa de Valores de Nova York foi pioneira no lançamento de Índices de Sustentabilidade (Dow Jones Sustainability Indexes-DJSI), em 1999, e hoje é seguida pelas bolsas de Londres (Índice FTSE4Good), de Johanesburgo e até do Brasil.

Em 2005, a Bovespa criou o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), formado por 34 ações de 28 empresas de diferentes setores que seguem o conceito. A medida certamente ajudou a fomentar iniciativas consistentes nas esferas ambiental, social e de governança corporativa por parte das empresas com ações listadas em bolsa. As companhias que adotam práticas de sustentabilidade se destacam por atender critérios mínimos de saúde financeira, o que pode significar menor risco aos seus acionistas e, portanto, melhor desempenho de suas ações.

Outra prova de que o Brasil está alinhado com essa tendência mundial, e de que suas empresas estão mudando de postura muito rapidamente, é o resultado do ranking divulgado no final do ano passado sobre os 100 melhores relatórios de sustentabilidade. Figuram três brasileiras: Banco Real ABN AMRO, Natura e Aracruz.

Consumidores, financiadores, acionistas e potenciais investidores exigirão, cada vez mais, esse compromisso das corporações. É fato que os setores econômico e financeiro estão incorporando essas questões éticas às suas práticas. Trata-se de uma tendência mundial no mundo dos negócios.

Em uma pesquisa realizada no ano passado pela Fundação Brasileira pelo Desenvolvimento Sustentável, em parceria com a escola suíça de negócios, o International Institute for Management Development (IMD), ficou claro que os executivos brasileiros são sensíveis ao tema, mas a grande maioria ainda confunde ações de sustentabilidade com políticas assistencialistas.

O estudo analisou os setores de Energia Elétrica, Papel & Celulose, e Alimentos & Bebidas, e ouviu cerca de 100 executivos de empresas como Nestlé, AmBev, Sadia, Perdigão, Coca-Cola, Cemig, Neoenergia, CPFL Energia, Aracruz, Klabin e Suzano Papel e Celulose. Desses, 95% atestaram que o mercado financeiro tende a atribuir mais valor às empresas que adotam e evidenciam boas práticas de gestão voltadas para a sustentabilidade.

Uma das conclusões é que, mesmo nas empresas líderes, as etapas de entendimento e disseminação do conceito de sustentabilidade corporativa ainda estão em estágio inicial. Existem projetos em andamento, mas são restritos e específicos. Entre os executivos ouvidos, 54% disseram estar familiarizados com o tema, 60% declararam ter muita disposição de implementar o conceito.

Todavia, é necessário investir na implementação de ferramentas e processos que garantam não apenas a inserção do conceito na gestão e na estratégia de negócios, mas também a mensuração sistematizada de seus resultados econômicos. Fatores externos às corporações, tais como a possibilidade de escassez de recursos naturais e maior cobrança por parte da sociedade civil, podem ser fortes impulsionadores da agenda da sustentabilidade corporativa.

Por isso, um dos principais desafios para o mundo corporativo no Brasil é incorporar o conceito da sustentabilidade - um novo modelo de gestão capaz de trazer ganhos ao mesmo tempo econômicos, sociais e ambientais - no dia-a-dia dos negócios.

CB, 19/02/2007, Opinião, p. 11

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