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A surpresa de Furnas: hidrelétricas no Madeira

Jornal Pessoal-Belém-PA
30 de Abr de 2003

O rio prioritário para abrigar novas grandes hidrelétricas no governo Lula não é mais o Xingu, no Pará, onde a Eletronorte imaginava construir Belo Monte, uma usina que só seria inferior à de Itaipu. Agora o foco de interesse passou a ser o Madeira, entre Rondônia e o Amazonas.

Furnas Centrais Elétricas, uma das subsidiárias da Eletrobrás, anunciou no mês passado que examina a possibilidade de construir, numa primeira etapa, duas hidrelétricas no rio Madeira, para a geração de até sete mil megawatts (ou sete milhões de quilowatts). Essa potência, que transformaria o vale num dos grandes produtores energéticos do país, poderia chegar a até 10 mil MW, se a empresa conseguir viabilizar uma parceria com a Bolívia.

O interesse de Furnas foi estabelecido a partir de uma nova posição assumida em relação às fontes de energia. A empresa entende que o Brasil ainda tem um grande potencial hidrelétrico a ser explorado e não precisa de termelétricas funcionando de forma continuada. As termelétricas só deveriam ser acionadas no momento de pique do consumo, atuando como usinas complementares das hidrelétricas, que continuariam a ser a base da produção energética. Por isso, o Brasil deveria dar prioridade aos investimentos em hidrelétricas, invertendo as prioridades defendidas pelo governo anterior, do presidente Fernando Henrique Cardoso. Daí a investida no Madeira.

Com essa mudança de prioridade no planejamento energético na Amazônia, ao invés de investir no projeto de Belo Monte, com potência de 11 mil megawatts e custo 6,5 bilhões de dólares (incluindo o sistema de transmissão, de US$ 2,8 bilhões), em conturbado andamento desde 1989, o governo implantaria um complexo de usinas no Madeira. Inicialmente previsto para 7 mil MW, esse complexo poderia se tornar um mega-empreendimento binacional de 13 mil MW, quase do tamanho de Itaipu.

O presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, é um dos que defendem a opção pelo complexo do rio Madeira, que prevê inicialmente a construção das usinas de Girau e Santo Antonio. Segundo ele, "o empreendimento tem a cara do Eliezer Batista", o ex-ministro e ex-presidente da Companhia Vale do Rio Doce, um especialista em projetos de desenvolvimento estratégico.

A decisão entre um e outro projeto sairá de uma discussão democrática, conforme o próprio Pinguelli, em um seminário que será promovido, nos próximos meses, em Brasília, reunindo representantes do Ministério de Minas e Energia e da Eletrobrás, da iniciativa privada e da sociedade civil.

Ambos os projetos teriam impacto ambiental. A diferença entre eles, no entendimento da Eletrobrás, diz respeito tanto ao benefício para o sistema interligado quanto para a economia do país como um todo. O projeto do rio Madeira traria vantagens econômicas e, principalmente, estratégicas para o Brasil. Além de um complexo de usinas, o empreendimento prevê a navegabilidade do rio Madeira em um trecho hoje inviável, próximo ao Peru.

O projeto também inclui a abertura de um acesso da Bolívia ao Oceano Atlântico. Os defensores do complexo do Madeira o consideram um trunfo na disputa com o governo boliviano pela redução do preço do gás natural importado daquele país.

Os observadores, apanhados de surpresa pela revelação de um plano dessa magnitude num rio que até então não vinha sendo incluído no plano de aproveitamento energético, ainda tentam reunir informações para saber como avaliar corretamente a novidade. Originária, aliás, de um personagem novo no cenário amazônico: Furnas, a subsidiária da Eletrobrás para a região leste do Brasil.

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