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State Grid busca parceiros para linhas de Belo Monte

Valor Econômico, Empresas, p. B7
26 de Out de 2012

State Grid busca parceiros para linhas de Belo Monte

Por Rodrigo Polito | De Pequim

O atraso na realização dos leilões de geração e transmissão e a publicação da Medida Provisória 579, que trata da renovação das concessões, não diminuíram o apetite da chinesa State Grid por novos negócios no Brasil. Com planos de investir pelo menos US$ 5 bilhões no país até 2015 (pouco menos da metade dessa quantia já foi aplicada na aquisição de linhas de transmissão e de um prédio no centro do Rio de Janeiro), a estatal asiática tem como meta construir e operar o sistema de transmissão de Belo Monte e grandes hidrelétricas no país.

As primeiras linhas de transmissão de Belo Monte, que ligarão a usina ao Nordeste, devem ser leiloadas em novembro. As duas linhas restantes - as principais - com mais de 2 mil quilômetros de extensão cada, e que farão a conexão da hidrelétrica ao Sudeste, devem ser licitadas em 2013. O sistema todo tem investimentos previstos da ordem de R$ 10 bilhões.

Conta a favor da State Grid o projeto em estudo pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) de utilização de linhas em corrente contínua, em 600 quilovolts (kV), para ligação da megausina com o Sudeste. A companhia detém a tecnologia de linhas de ultra-alta tensão, em 800 kV, em corrente contínua, já em operação na China.

Para o leilão, a State Grid estuda parcerias com o grupo Eletrobras, com quem já tem um acordo de intercâmbio de experiências, e outras estatais estaduais. A empresa também cogita fechar parcerias com elétricas privadas.

"As principais empresas do setor elétrico [brasileiro] têm conversado conosco. Temos convidado para conhecer nossas instalações. Mas como ainda não temos detalhes do projeto [de transmissão de Belo Monte], não temos como definir o parceiro", disse o diretor de investimentos da State Grid Corporation of China (SGCC), Sun Jinping.

A parceria com a Eletrobras, porém, corre o risco de não se concretizar. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estuda impedir que empresas com projetos de transmissão com mais de 180 dias de atraso participem novas licitações. Se aprovada, a medida atingirá Furnas, Chesf e Eletronorte.

Em geração, a State Grid pretende participar do leilão do tipo A-5 (com início de fornecimento de energia em 2017), marcado para 14 de dezembro. O foco da empresa é a usina de Sinop de 400 megawatts (MW), no rio Teles Pires (MT), onde a companhia já desenvolve um projeto de transmissão com a estatal paranaense Copel.

A chinesa também quer disputar a concessão da usina de São Manoel, de 700 MW, também no Teles Pires. A hidrelétrica, porém, ainda possui entraves no processo de licenciamento ambiental e só deve ir a leilão em 2013. Outro alvo do grupo é o complexo hidrelétrico do Rio Tapajós, que deve ser leiloado em 2014. Ao todo são cinco usinas, que somam mais de 10 mil MW de potência instalada e investimentos acima dos R$ 30 bilhões.

"Estamos abertos a futuras parcerias. Se o governo brasileiro disser que precisa e, se o Brasil necessita, nós podemos fazer [hidrelétricas]" diz Sun.

De acordo com o executivo, o volume de investimentos previstos pelo grupo no Brasil pode ser maior que os US$ 5 bilhões iniciais. "O governo brasileiro nos pediu um planejamento e nós elaboramos uma ideia. Mas esse número não é fixo", diz Sun. Tudo dependerá dos projetos que o governo colocará em licitação e em quantos a estatal chinesa sairá vencedora.

A State Grid chegou ao pais em 2010, ao comprar, por US$ 989 milhões, sete linhas da Plena Transmissoras. Em 2011, ela assumiu a construção de duas subestações em parceria com Furnas e de dois trechos do linhão da hidrelétrica de Teles Pires.

Em maio, após concluir a compra de 25% de participação na portuguesa Rede Eléctrica Nacional (REN), a State Grid anunciou a aquisição de mais sete linhas de transmissão no Brasil. Os projetos, num total de 2,8 mil quilômetros, pertenciam ao grupo espanhol Actividades de Construccion y Servicios (ACS).

Segundo Sun, o foco da empresa no Brasil agora são os projetos novos, e sempre em parceria com empresas locais. "Nosso objetivo é buscar cooperação e não competição", afirmou.

"A State Grid veio ao Brasil para ficar. Não é um capital especulativo", explica o presidente da filial brasileira, State Grid Brazil Holding (SGBH) Cai Hongxian. "Esse país [Brasil] precisa de investimentos", completa.

A State Grid também está analisando oportunidades de negócios no setor de distribuição de energia no Brasil. A companhia chegou a analisar os ativos do grupo Rede, mas não se interessou pelo negócio.

Com faturamento global de US$ 260 bilhões, a State Grid é a sétima maior empresa do mundo, em receita. E já ocupa a quinta colocação no ranking das maiores transmissoras de energia do Brasil.

O país é a principal operação da State Grid fora da China. A empresa tem operações nas Filipinas e em Portugal, além de escritórios em outros países, como Estados Unidos, Rússia e África do Sul. "Temos nove escritórios em outros países, mas o Brasil é o principal mercado estratégico a ser desenvolvido pela State Grid", afirmou Sun.

O repórter viajou a convite da State Grid Brazil Holding.

Valor Econômico, 26/10/2012, Empresas, p. B7

http://www.valor.com.br/empresas/2881136/state-grid-busca-parceiros-par…

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