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SP usa padrão frouxo para medir poluição

FSP, Cotidiano, p. C1
07 de Set de 2010

SP usa padrão frouxo para medir poluição
Parâmetros são mais brandos do que os da OMS, e ar teria classificações bem piores nos EUA ou na Europa
A Cetesb, a agência ambiental estadual, já discute adotar índices mais severos para adequar a medição

Eduardo Geraque
De São Paulo

Os parâmetros usados para classificar a qualidade do ar em São Paulo, os mesmos desde 1990, estão defasados.
Na prática, índices mais atuais e severos, como os da OMS (Organização Mundial da Saúde), indicam que os paulistas respiram um ar que afeta mais a saúde deles do que mostram dados oficiais.
O ar, ainda mais o de agosto, mais poluído do que o normal por causa da baixa umidade, que chegou a 12%, receberia uma classificação bem pior em lugares como os EUA e a União Europeia.
Mesmo na Cidade do México, com seus problemas crônicos de poluição, os padrões são mais rígidos.

MAIS BRANDO
O uso de normas mais brandas ajuda a explicar fatos como os do mês passado, o segundo mês mais seco desde os anos 1940.
Apesar de o governo dizer que a "qualidade do ar estava dentro da normalidade", só na Santa Casa de Misericórida de São Paulo, as internações por doenças respiratórias subiram 30% em relação ao mês de junho -no período, a poluição piorou por causa da baixa umidade.
"A questão ambiental, mesmo que indiretamente, está por trás de quase 80% dos casos de pneumonia registrados nas grandes cidades", diz Paulo Saldiva, médico e pesquisador da USP.
A medicina tradicional, diz ele, sem levar em conta critérios como os índices de poluição, não consegue explicar o motivo do aumento considerável no número de casos de doenças respiratórias nos grandes centros urbanos do mundo.

MUDANÇAS
Especialistas consultados pela Folha são unânimes em afirmar que os padrões da qualidade do ar em São Paulo precisam mudar.
A própria Cetesb, a agência ambiental paulista, estuda a questão. Um grupo transdisciplinar faz reuniões desde o começo do ano para discutir os novos índices de segurança da saúde pública dos paulistanos.
Enquanto a nova legislação mais severa não sai -e ainda não existe prazo para a decisão-, a realidade acaba ficando distorcida.
Os valores registrados no mês de agosto, e nos dois anos anteriores, ilustram o tamanho da discrepância.
Os dados oficiais de 2008 e 2009, nas 21 estações de medição que existem na metrópole, mostram que a qualidade do ar jamais atingiu um estágio considerado grave.
Porém, se o padrão da OMS estivesse sendo usado em São Paulo para a classificação da qualidade do ar, a situação seria diferente. Todas as 21 médias, nos dois anos, estiveram acima do padrão internacional.
No caso do material particulado, aquela poeira mais fina que penetra nos pulmões, o limite máximo admitido pela OMS é de 20 microgramas por metro cúbico.
Em São Paulo, o valor referência é 50. Os dois números fazem alusão ao limite máximo permitido para a média anual de poeira.
Os índices de ozônio registrados em agosto refletem a mesma situação. No caso da estação Ibirapuera, perto do parque, o ozônio ficou acima do aceitável pelo limite da Cetesb por 11 dias. Pelo padrão da OMS, a situação teria ficado grave em 19 dias.
A atualização dos índices de poluição teria consequências sociais e políticas.
Medidas de emergência, como ampliação do rodízio em dias mais poluídos e secos, teriam que ser tomadas com mais frequência pelo poder público.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0709201001.htm

Opinião
Atualização dos padrões revelaria uma situação fora de controle

Evangelina Vormittag
Especial para a Folçha
Paulo Saldiva
Especial para a Folha

São Paulo está longe de uma situação ambiental satisfatória da poluição do ar, ao contrário do que afirmam na mídia, por vezes, os especialistas de chapa branca.
Em 1997, os EUA regulamentaram em 15 microgramas por metro cúbico o padrão anual de qualidade do ar para a concentração média de material particulado fino (que fazem parte da poeira que está no ar).
A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda o padrão de 10 microgramas. Isso porque os cientistas descobriram que as partículas mais fininhas -cancerígenas e originadas na queima de diesel e gasolina- são as que interessam como referência de qualidade do ar.
Em grandes cidades americanas, dados mostram níveis médios anuais de poeira fina menores que 15 microgramas por metro cúbico.
Em São Paulo, as concentrações médias medidas pela Cetesb estão próximas ou acima de 20 microgramas por metro cúbico.
Elevada em relação ao padrão dos EUA e mais que o dobro do padrão da OMS.
Em suma, quando o governo mostra o painel da agência ambiental com luzinhas verdes e amarelas piscando alegremente, representando a qualidade do ar nos diversos pontos de monitoramento da cidade de São Paulo e do interior, ele está utilizando padrões desatualizados.
A atualização dos padrões de qualidade utilizados pelo governo mudaria a bizarra retórica oficial de que a situação está sob controle.

EVANGELINA VORMITTAG é presidente da ONG Saúde e Sustentabilidade.

PAULO SALDIVA é pesquisador da USP.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0709201002.htm

Outras cidades
Capitais do país avaliam mal poluição

A maioria das principais capitais do país não têm redes eficientes de monitoramento da poluição do ar. No caso do ozônio, um dos principais poluentes hoje em dia, Brasília, Recife e Rio de Janeiro medem bem pouco deste composto, diz o IBGE, em seus "Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2010".

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0709201003.htm

FSP, 07/09/2010, Cotidiano, p. C1

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