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SP segue exemplo de MT e investe em educação indígena

Midianews-Cuiabá-MT
23 de Out de 2003

São Paulo decidiu seguir o exemplo pioneiro de Mato Grosso no investimento em Educação Indígena. A partir de agora, passa a contar com 61 professores índios no Magistério. A formatura foi no Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo paulista. Os novos docentes vão ministrar aulas na educação infantil e séries iniciais de ensino fundamental (1ª a 4ª Série). Pertencem às etnias kaigang, krenack, terena, guarani e tupi guarani e vão trabalhar em 24 comunidades indígenas de 14 Municípios, atendendo a 700 alunos, de 7 a 14 anos de idade.

Em Mato Grosso, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) participa de um projeto pioneiro na América Latina na oferta de curso superior a professores de várias etnias. O 3o Grau Indígena, oferecido em parceria com a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e a Fundação Nacional do Índio (Funai), com apoio do MEC, da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e da Prefeitura de Barra do Bugres (167 km de Cuiabá), é o único curso do gênero no Brasil e visa proporcionar formação superior aos professores indígenas que já atuam nas escolas das aldeias no ensino fundamental e médio. A chamada "Universidade Indígena" atende 200 professores de 36 etnias, sendo 180 de Mato Grosso e 20 de outros Estados.

Implantado em 2001, o projeto tem duração de cinco anos nas áreas de Línguas, Artes e Literaturas, Ciências Matemática e da Natureza e Ciências Sociais. Para atender à demanda na universidade, serão oferecidas 50 novas vagas por ano para o curso do 3o Grau Indígena. De acordo com o coordenador do Projeto do 3o Grau Indígena, Elias Januário, há aproximadamente 236 índios à espera de novas vagas em Mato Grosso. Além dessa iniciativa, a Seduc está discutindo o projeto "Hayiô", que visa à formação inicial dos povos indígenas e também desenvolveu o Projeto Tucum, que foi o ponto de partida na formação de muitos índios que estão cursando hoje o 3o Grau.

A excelência da formação dos professores vem rendendo frutos. Recentemente, o professor Josimar Xawapare'ymi Tapirapé, da Escola Estadual Indígena Tapi'itãwa, do Município de Confresa (1.160 km a Nordeste da Capital), foi selecionado como um dos doze finalistas do Prêmio Professor Nota 10, promovido pela Revista Nova Escola, da Editora Abril. O trabalho do professor Josimar concorreu com mais 4 mil trabalhos inscritos de todo o País. Ele relata sua experiência de pesquisa sobre a língua tapirapé, feita com os alunos da 3ª Fase do primeiro ciclo, durante a qual foram criadas novas palavras para substituir palavras do português que estão sendo emprestadas para nomear objetos antes não pertencentes à cultura tapirapé, como óculos, avião, bicicleta, etc.

DESTAQUE - O 3o Grau Indígena, uma iniciativa do Governo de Mato Grosso, foi motivo de destaque para o Brasil no Segundo Encontro Regional sobre Educação Superior dos Povos Indígenas da América Latina, realizado no México, entre os dias 24 e 26 de setembro. O encontro foi promovido pelo Governo mexicano e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e reuniu representantes de Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas que desenvolvem projetos com os povos indígenas, Organizações Não-Governamentais (Ongs) e lideranças indígenas de 11 países da América Latina e do Canadá.

O Brasil foi representado pelo professor Elias Januário, coordenador do Projeto de Formação de Professores Indígenas (3o Grau Indígena), que explicou como funciona o projeto. Segundo o professor, a reação da platéia foi muito positiva. "O Brasil foi o único País que apresentou uma proposta de formação de professores indígenas já em andamento. Os representantes dos outros países ficaram surpresos de ver que estamos colocando em prática as idéias que eles ainda estão discutindo do ponto de vista teórico", comentou o coordenador do 3o Grau Indígena, demonstrando a sua própria surpresa de constatar o avanço brasileiro em relação a outros países da América Latina.

DEMANDA REPRIMIDA - Mato Grosso é o segundo Estado no ranking brasileiro de número de etnias, com 38 povos e nove referências de grupos isolados. Mais de 25 mil índios habitam o equivalente a 17% das terras do Estado, distribuídos em 56 terras indígenas, já reconhecidas ou em faze de regulamentação fundiária. As línguas faladas pertencem aos troncos lingüísticos Mocro-Je, Tupi, Aruak e Karib.

Os números da Educação também são grandiosos, embora a defazagem de docentes ainda assuste os gestores da Secretaria Estadual de Educação (Seduc). São 150 escolas indígenas municipais e 18 estaduais. Nas últimas, a gestão das escolas é feita por professores índios, que somam 475 profissionais de diferentes formações.

Desses, 179 cursaram o Projeto Tucum, um curso de formação de magistério específico para professores indígenas. Outros 56 integram o Projeto Xingu - Urucum Pedra Brilhante, previsto para terminar em 2005. Mais 43 professores cursam o Projeto de Formação de professores Mebêngôkrê, Paraná e Tapayuna Goronã. O restante cursa o 3o Grau Indígea, ministrado pela Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), no campus de Barra do Bugres (167 KM de Cuiabá).

Esses professores garantem educação para exatos 8.950 alunos índios. Mas existe uma demanda reprimida de formação para pelo menos outros 261 professores, ainda não habilitados, que aguardam o início do Projeto Hayio, previsto para o próximo ano.

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