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SP ja produz semente e prepara plantio da soja transgenica

OESP, Agricola, p.G6-G7
04 de Mai de 2005

SP já produz semente e prepara plantio da soja transgênica
Até 20% da área cultivada deverá ser de grãos não-convencionais. Só não será maior por falta de sementes
José Maria Tomazela
Os silos e galpões da fazenda Lagoa Bonita, em Itaberá, no sudoeste de São Paulo, estocam alguns milhares de sacas das primeiras sementes transgênicas de soja produzidas comercialmente no Estado de São Paulo. Apostando na liberação, pelo governo brasileiro, do cultivo de grãos geneticamente modificados no País, o empresário rural Ariovaldo Fellet investiu na transformação da fazenda numa empresa de multiplicação e beneficiamento de sementes.
A propriedade, que há seis anos trocou o gado de corte pela agricultura, já vinha atuando na produção de sementes de cultivares convencionais. Os campos de produção da soja transgênica foram instalados há dois anos. A primeira safra comercial está em fase final de colheita. As sementes estão passando por um rigoroso controle de qualidade e devem estar à venda a partir de junho. Inicialmente, serão oferecidas de 10 mil a 12 mil sacas, suficientes para o plantio de 6 mil hectares. "A intenção é atender ao mercado regional", diz a engenheira agrônoma Andréa Fellet, que ajuda o pai na administração do negócio. Ela acredita que as sementes transgênicas serão comercializadas com facilidade.
"Temos recebido muitas consultas e os produtores estão bastante curiosos." Foram multiplicadas sementes dos cultivares mais adequados para a região sudoeste de São Paulo, com clima temperado e regime de chuvas bastante definido. São sementes para cultivo de sequeiro, mas com o desempenho bem melhor se as culturas forem irrigadas. Os cultivares CD 213 e CD 214, lançados pela Coodetec, e BRS 245, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), são de ciclo médio e boa produtividade. A BRS 245 rendeu, nos campos de semente irrigados, 3.700 quilos por hectare.
É a produtividade que se espera a campo, diz Andrea. "Com irrigação, não será difícil manter essa média." Para o próximo ano, a produção deve ser ampliada. "Vamos observar o mercado e tentaremos acompanhar o crescimento da demanda."
INEVITÁVEL
A fazenda tem capacidade para estocar até 130 mil sacas em galpões arejados, com pés-direitos de 12,5 metros. A produção é totalmente rastreada. Para a unidade de beneficiamento, os Fellet trouxeram o que havia de mais moderno no mercado. "Trouxemos também os profissionais mais experientes", diz Ariovaldo. Ele sabia que a entrada dos transgênicos no Brasil era inevitável. "Nossos concorrentes internacionais já estão muito à frente."
A filha agrônoma recomenda, porém, cautela para os agricultores que vão passar a cultivar a soja transgênica. "É melhor que o produtor faça uma área pequena de início, para ir avaliando o resultado." Uma boa dica é plantar nos terrenos mais infestados de ervas daninhas, já que uma das principais vantagens da soja transgênica é sua resistência ao herbicida mais usado.
Em todo o Estado de São Paulo, a estimativa é de um plantio de 15% a 20% de soja transgênica. O cultivo só não deve ser maior porque não haverá sementes. O Estado produziu, no ano passado, 30 milhões de sacas de soja convencional em área cultivada de 760 mil hectares. Em 2000, a produção era de 19,9 milhões de sacas em 533 mil hectares, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA). A soja transgênica deve entrar tanto nas regiões tradicionais de cultivo, como Orlândia, Assis e Barretos, como nas novas fronteiras do grão, como as regiões de Itapeva, Ourinhos e Presidente Prudente.
TESTE
O produtor Nelson Schreiner, da Estância Primavera, em Taquarivaí, região de Itapeva, vai começar com 50 hectares. Em outros 350, pretende manter a soja comum. "Quero ver como a transgênica se comporta." Ele pretende adquirir as sementes entre julho e agosto. O plantio será feito na primeira quinzena de novembro. Schreiner está preocupado com o custo da semente. "Estão falando em R$ 3,00 o quilo, o dobro do preço da convencional."
Ele também espera uma definição sobre a forma do pagamento de royalties à Monsanto, multinacional que tem a patente da transgenia para a soja. O filho agrônomo, Nelson Schreiner Júnior, não tem dúvidas sobre as vantagens do produto transgênico. "Fala-se numa redução de custo entre 15% e 20% por causa da tolerância ao herbicida, mas tem ainda a proteção do solo, outro ganho que não está sendo considerado." Com menos operações de controle das ervas daninhas, haverá redução na compactação do solo, acredita.

Ganho maior com grão convencional
Transgênico pode ser caminho sem volta” e beneficiaria quem fica na soja comum
O produtor Adilson Zambianco, de Itapeva, também vai destinar uma parte da área de 300 hectares para a soja transgênica. É uma tecnologia nova, ninguém quer ficar para trás.” O administrador da Fazenda São Paulo, de Taquarivaí, João Jacinto, ainda não se decidiu. Além da questão dos royalties, é preciso analisar o mercado. Será que a soja transgênica será vendida com a mesma facilidade?” Ele acredita que, se o grão transgênico dominar o mercado, pode passar a ser vantagem ter soja convencional para mercados exigentes, como o europeu.
O administrador diz que optar pelo grão modificado é um caminho sem volta. Depois que você instala a semente transgênica, fica difícil voltar a ter só a convencional.” A presença de uma pequena quantidade de grãos transgênicos numa carga de soja já é suficiente para que seja considerada fora do padrão convencional.
Os produtores pretendem driblar o alto custo do material genético produzindo suas próprias sementes transgênicas. Devo reservar uma parte para meu próprio cultivo”, diz Nelson Schreiner.
A agrônoma Andréa Fellet desaconselha esse procedimento. Segundo ela, quem adquire as sementes dos campos de produção autorizados compra pacotes genéticos que incluem as melhorias introduzidas ano a ano nos testes de campo. Quem usa sementes próprias deixa de absorver os ganhos tecnológicos.”
Pior que isso, segundo ela, é adquirir sementes piratas no mercado paralelo. São de origem desconhecida e o agricultor corre o risco de estar levando para sua fazenda semente que não produz e pode até ter doenças.”
Em Assis, uma empresa multiplicou sementes argentinas, mas os resultados não foram bons, diz o agrônomo Cristiano Geller, do Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR). Não estavam adaptadas para a região e a produtividade ficou bem abaixo do esperado.” Ele conta que os produtores estão animados com a perspectiva de reduzir os custos de produção usando material transgênico. Mas ainda não há oferta de sementes.” Distribuidores desse insumo na região ainda não sabem se terão disponibilidade de material para a próxima safra.
O agrônomo Yassuyuki Horio, da Cati Regional de Presidente Prudente, disse que os produtores estão animados com a possibilidade de reduzir custos. A soja é uma lavoura cara, exige grande aplicação de insumos, por isso, quando se fala em redução de custo, é normal o interesse.”
Mas ele alerta que os experimentos com soja transgênica já realizados na região não foram tão animadores. A soja modificada sentiu mais a seca.” Ele também recomenda que o produtor precisa ter cautela. Vamos devagar”, diz.
MILHO TAMBÉM
Os agricultores paulistas estão na expectativa do lançamento das sementes de milho transgênico com resistência à lagarta-do-cartucho, um dos principais problemas da cultura no Estado. Atualmente, há apenas o controle químico da praga. As lavouras precisam ser pulverizadas até seis vezes durante o ciclo para evitar perdas.
Mesmo com todas essas pulverizações, ainda há ataques e perda de produtividade”, diz Nelson Schreiner Júnior. A semente já foi desenvolvida, mas ainda não está no mercado brasileiro comercialmente. Segundo Schreiner, o material traz um gene que confere à planta resistência total à praga. A lagarta não ataca.” Com isso, há ganho de produtividade, além da economia nos tratos culturais.
Algumas empresas distribuidoras de sementes já realizaram pesquisas entre os agricultores sobre uma possível adesão ao milho transgênico. A expectativa é a de que os cultivares sejam lançados antes do início do plantio da safra 2005/2006

Legislação federal define regras para plantio
ORIENTAÇÕES: A Secretaria de Agricultura orienta os agrônomos das Casas da Agricultura e órgãos de assistência ao agricultor sobre os procedimentos necessários para o cultivo de transgênicos. Antes de decidir pelo plantio, o agricultor deve se inteirar sobre a legislação federal que estabelece responsabilidades para o produtor. Ele deve assinar um atestado de conduta em que se compromete a identificar a produção e autorizar testes que comprovem a procedência do produto. As cargas de soja transgênica devem ser identificadas com uma faixa amarela. Em SP, o registro e a fiscalização dos produtores compete à Delegacia Federal do Ministério da Agricultura (Mapa). Para plantar soja transgênica, o produtor precisa se cadastrar no Mapa, informando a área cultivada, local da cultura e produção estimada. E assinar um Termo de Responsabilidade e Ajustamento de Conduta, comprometendo-se a vender toda a produção para a indústria. O cadastramento pode ser feito na Superintendência do Ministério em SP, ou nos Correios.

OESP, 04/05/2005, p. G6-G7

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