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Sonho de papel anima sul da Bahia

OESP, Economia, p. B5
30 de Nov de 2003

Sonho de papel anima sul da Bahia
Maior investimento privado até agora no governo Lula, nova fábrica da Veracel traz esperança para moradores da região

Renée pereira
Enviada especial

Localizado à margem do Rio Jequitinhonha, a 40 quilômetros do mar, o pequeno vilarejo de Barrolândia, distrito de Belmonte, no sul da Bahia, vive momentos de expectativa com a chegada da nova fábrica de celulose da Veracel - o maior investimento privado do governo Lula até o momento, com investimento de US$ 1,25 bilhão.
Na lista dos maiores índices de hanseníase do Brasil, o povoado de 5 mil habitantes já sonha com as melhorias que a instalação da indústria poderá trazer. A prioridade é a rede de saneamento básico, que até hoje não chegou à vila, diz o comerciante Wilson Passos, de 54 anos.
Desde 1971 no povoado, ele explica que a falta de esgoto tem sido motivo de grande transtorno. "À noite, por exemplo, ninguém consegue nem assistir à televisão por causa dos mosquitos, que são atraídos pelas fossas instaladas nas casas." A esperança dele é que a fábrica traga novos empreendimentos para a região e promova o crescimento econômico do vilarejo, que já pensa em emancipação.
O sonho dos moradores, pelo menos em relação ao saneamento básico, pode estar perto de tornar-se uma realidade. A empresa, criada pela parceria da brasileira Aracruz com a sueco-finlandesa Stora Enso, deverá começar a construção da rede de esgoto no vilarejo a partir de janeiro. A estação de tratamento já foi iniciada em um dos alojamentos da fábrica e, após o término das obras da indústria, será doada à comunidade. O investimento da empresa na região é de cerca de US$ 7 milhões. Em contrapartida, o governo do Estado deverá pavimentar as estradas que ligam as cidades, melhorando a infra-estrutura necessária à companhia.
Mas não é só Barrolândia que se beneficiará das melhorias feitas para a instalação da indústria. Nove municípios - Belmonte, Canavieiras, Eunápolis, Guaratinga, Itabela, Itagimirim, Itapebi, Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália - aguardam ansiosos a conclusão da fábrica. Quando concluída, ela produzirá 900 mil toneladas de celulose e criará cerca de 10 mil empregos diretos e indiretos.
Para absorver toda a mão-de-obra da região, a empresa criou um centro de capacitação profissional, que ensina 5.500 pessoas com diferentes níveis de escolaridade e aptidão profissional. Segundo o coordenador do programa, Antônio José Bassini, o objetivo é empregar boa parte desses alunos quando a fábrica estiver concluída e também durante a obra. Ele explica que uma cláusula contratual assinada pela empresa dá preferência a estudantes do centro.
É a esperança de Fernando Ferreira, de 22 anos, aluno de caldeiraria, que vê na empresa uma forma de crescer profissionalmente. Hoje, ele trabalha em um hotel em Eunápolis, mas está descontente com o salário. "A cidade tem poucas oportunidades de emprego. Para crescer, só saindo daqui." Aliás, essa era a intenção de Ferreira antes de começar a estudar no centro de capacitação da Veracel, há dois meses. "Estava de malas prontas para ir para Cabo Frio, no Rio."
Como Passos esperava, novos empreendimentos já sondam a região para instalar unidades. A primeira a ficar pronta será a Eka Química, que fornecerá todos os produtos para branqueamento da celulose. A fábrica da Veracel está sendo construída na divisa de Eunápolis e Belmonte num espaço de 1,5 milhão de m2.
Será a maior indústria do gênero com linha única de produção e começará a operar em meados de 2005. Mas a capacidade de 900 mil toneladas de celulose só será alcançada em 2006, explica o diretor da Stora Enso no Brasil, Nils Grasftrom. Toda a produção da empresa será para a exportação, o que criará divisas anuais para o País da ordem de US$ 500 milhões.
Os 50% da Stora Enso vão abastecer as 30 fábricas da companhia instaladas na Europa, EUA e Ásia. Da mesma forma, a produção pertencente à Aracruz também seguirá para o exterior. A partir de 2010, a expectativa é que mais unidades sejam construídas no local com a mesma capacidade da primeira. "A construção de mais duas unidades dependerá da demanda do mercado mundial", diz Grasftrom. A fábrica também terá uma usina de biomassa para produzir cerca de 125 megawatts (MW) de energia com os cacos de madeira. A eletricidade abastecerá ainda a unidade construída pela Eka Química.
Segundo Grasftrom, o local para a instalação da indústria levou em conta as condições florestais da região, ótimas para a plantação de eucaliptos. Hoje a empresa tem 66 mil hectares de plantio da árvore no local, que absorvem 2 mil empregos diretos e indiretos. Entre os empregados está Elizamar Pereira. Ela é funcionária da empresa há nove anos, desde a época em que a Veracel ainda pertencia à Odebrecht. Elizamar é responsável pela primeira etapa de plantação da floresta de eucalipto. Ela seleciona os brotos que se transformarão em árvores e, no futuro, em papel.

OESP, 30/11/2003, Economia, p. B5

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