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'Somos sertanistas doidos que destoam do resto'

O Globo-Rio de Janeiro-RJ
Autor: Sidney Possuelo
12 de Out de 2004

Responsável pela Coordenação Geral de Índios Isolados da Funai, e agora um dos últimos sertanistas brasileiros de renome internacional, Sydney Possuelo afirmou que a morte de Apoena Meirelles representa uma enorme perda para o país e que será difícil substituí-lo no órgão.

O que representa para o indigenismo a morte de Apoena Meirelles?

SYDNEY POSSUELO: Quando desaparece um Apoena a perda é grande. Os povos indígenas perderam em qualidade e quantidade. Difícil arranjar outro. Ele fez um grande trabalho. Trabalhei com ele em várias ocasiões e havia divergências filosóficas, olhares distintos sobre a questão indígena, o que não nos separava.

Que divergências eram essas?

POSSUELO: Buscávamos proteger os índios, mas cada um a seu modo. O Orlando Villas-Bôas criou o Parque do Xingu e os Meirelles (pai e filho) tinham uma visão de integração rápida dos povos indígenas com a sociedade.

E qual é o pensamento do senhor sobre esse assunto?

POSSUELO: Lidamos com índios isolados, que não sabem o que é Funai, desconhecem que existe o Brasil, a América. São caçadores e vivem de uma agricultura arcaica. Eles não têm que ser incorporados a sociedade alguma. Nada de comunhão.

Essa diferença entre o pensamento do senhor e o do Apoena os afastou?

POSSUELO: De maneira alguma! Somos românticos, apaixonados pela causa. Temos a capacidade de sonhar, de mudar. Somos cada vez menos na sociedade, em número menor.

De qualquer maneira, o senhor e o Apoena fazem parte de uma geração de indigenistas que não existe mais.

POSSUELO: Hoje a sociedade está diferente. Antigamente as equipes de trabalho eram mais próximas. Hoje há esse boom da questão indígena e uma redescoberta da Amazônia, que está sendo destruída em nome da soja. O país está uma grande "sojeira". A floresta está sendo desgraçadamente destruída. Nós somos ecólogos loucos e sertanistas doidos que destoam do resto. (E.E.)

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