VOLTAR

Somente 21% dos produtores que usam agrotóxicos têm orientação

O Globo, Economia, p. 26
01 de Out de 2009

Somente 21% dos produtores que usam agrotóxicos têm orientação
No campo, 82% dos agricultores não concluíram o ensino fundamental

Cássia Almeida e Letícia Lins
Rio e Vitória de Santo Antão (PE).

Os agrotóxicos estão presentes em 30% das lavouras brasileiras, de acordo com o Censo Agropecuário. Porém, somente 21% desses produtores recebem orientação técnica regular sobre essa prática. Outro agravante no uso de venenos está na baixa escolaridade, já que no campo, 82% não concluíram o ensino fundamental.

E, desses, quase 40% são analfabetos.

- Cadê a extensão rural dos meus tempos de faculdade? Somente 22% dos estabelecimentos recebem orientação. No Sul , por exemplo, o percentual caiu - diz Antonio Florido, coordenador da pesquisa.

A formação técnica, como a terra, é privilégio de poucos.

Apenas 2,8% têm qualificação no campo. Assim, Paulo Bernardo da Silva, um pequeno produtor de Vitória de Santo Antão, no interior de Pernambuco, que está concluindo o curso técnico de agronomia, é quem ajuda os vizinhos. Como os seus colegas, ele já cometeu muitos erros na aplicação de defensivos agrícolas na região que é o maior cinturão verde da metrópole. Há dois anos, quase ninguém usava equipamentos de proteção nos roçados. Mas essa situação vem mudando.

- Tenho um colega que perdeu a lavoura toda, que era novinha, porque aplicou herbicida no lugar do inseticida, Há dois anos ninguém usava equipamento. Hoje, 90% se protegem - afirma.

Segundo Junia Conceição, economista da coordenação de Agricultura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os produtores correm risco sistematicamente: - É um produto complicado de ser usado. É caótico o uso.

E Brancolina Ferreira, também do Ipea, lembra que os grandes agricultores recebem orientação diretamente das multinacionais de defensivos: - Entre os pequenos, o agrotóxico é mais caro e nem bula tem. Além de termos uma bela indústria de contrabando, já que o Brasil perdeu a indústria que tinha.

Segundo Daniel Maia, ministro interino do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o próximo censo mostrará aumento na orientação técnica: - Em 2003, o orçamento para suporte técnico era de R$ 3,5 milhões. Em 2009, subiu para R$ 500 milhões. Ainda não vemos o efeito desse investimento nos números de 2006.

Agricultura orgânica está em 1,8% das fazendas
Em termos percentuais ainda é pequena a expressão da agricultura orgânica no Brasil: apenas 1,8%. Mas já são mais de 90 mil produtores no país. E a exportação é o caminho: 60% da produção vão para o Japão, Estados Unidos, União Europeia e mais outros 30 países. A criação de animais é o principal nicho desse tipo de agricultura. Representa 41,7% da produção.

- É uma alternativa que temos que pensar. Agregar valor a essa produção. É uma maneira de manter as pessoas no campo - diz Junia.

O censo também revelou que os jovens estão deixando o campo. Pelos dados coletados, somente 16,8% dos produtores têm até 35 anos de idade. Enquanto 37,8% têm 55 anos ou mais.

A qualidade de vida melhorou nas fazendas, ao se olhar o acesso à água e à luz. Os estabelecimentos com energia elétrica passaram de 39% em 1996 para 68,1% dez anos depois. A irrigação aumentou 39% nos estabelecimentos e 42% na área total

Quase um boi por brasileiro
Produção de soja aumentou 88% nos últimos dez anos

Tanto a pecuária quanto a agricultura tiveram expansão expressiva nesses últimos anos. Esse ganho veio da produtividade, já que foi reduzida a área total dos estabelecimentos.

A produção de soja, o principal item agrícola no país, aumentou 88%, alcançando 40,7 milhões de toneladas.

Na pecuária, havia quase um boi para cada brasileiro. O rebanho somava 171,6 milhões de cabeças, numa alta de 12%. Na produção de aves, o Brasil já soma 1,4 bilhão de galinhas, frangos e pintos. E o setor poderia ter crescido ainda mais não fosse a gripe aviária que apareceu na Ásia em 2006.

A carne de porco também ganhou espaço, dobrando a produção em dez anos, com um rebanho de 31,1 milhões de suínos no país.

A colheita de cana-de-açúcar, com o etanol, cresceu 48% no período. São 384,1 milhões de toneladas. Em 1970, antes do Proálcool, que foi criado em 1975, a produção limitava-se a 80 milhões de toneladas.

Outra cultura que teve uma expansão significativa foi a de milho. Em 2006, eram 42,2 milhões de toneladas, quantidade 65,5% maior que em 1996. (Cássia Almeida)

O Globo, 01/10/2009, Economia, p. 26

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.