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Soja transgênica avança no País

OESP, Agrícola, p. G12
29 de Mar de 2006

Soja transgênica avança no País
Alguns Estados já adotaram a tecnologia; em outros, produtores ainda testam pequenas áreas

Niza Souza

Na segunda safra com o plantio liberado, a soja transgênica deve atingir 30% da área plantada com soja no Brasil. Com exceção do Rio Grande do Sul, onde mais de 90% das lavouras de soja são transgênicas, no restante do País a maioria dos produtores ainda resiste ao plantio. Segundo analistas, a resistência faz parte da cultura do agricultor, que prefere, antes, fazer cultivos experimentais.
O presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), Ywao Miyamoto, acredita que o plantio de soja transgênica no País deve ficar na margem de 30%. "Os números do setor estão confusos, porque muitos produtores plantaram sementes piratas, para não pagar royalties", diz.
No Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o plantio transgênico está consolidado, conforme o coordenador da Equipe Sul do Rally da Safra 2006, Fábio Meneghin. "Nesses Estados, quase 100% da soja é transgênica." A diferença é visível em comparação com o Paraná, onde o governo proíbe o plantio da soja transgênica. Mesmo assim, a área deve chegar em média a 20%. "As lavouras do Paraná estão com alta incidência de plantas daninhas", diz Meneghin.
Em Mato Grosso do Sul, o plantio de soja transgênica deve atingir 50% da área, principalmente na metade sul do Estado. Mas Meneghin alerta: "Vimos muito material 'saco branco', ou seja, multiplicação pirata de sementes. E não dá para saber como vai ser essa produção." No norte do Estado, ele diz que as variedades transgênicas estão sendo usadas mais para limpeza de mato do que como redução de custos.
No Centro-Oeste, a equipe coordenada pelo consultor André Pessoa notou maior presença de variedades transgênicas em Goiás. Visualmente, diz Pessoa, cerca de 50% da soja é transgênica. Em Mato Grosso, ressalta, a incidência é um pouco menor, em torno de 30%. Em São Paulo, nesta safra o plantio de soja transgênica cobriu apenas 15% da área, mas deve chegar a 30% na próxima safra, de acordo com o consultor Guilherme Bastos, da Agroconsult.
LIMPEZA
Os principais atrativos da soja transgênica é a precocidade e a resistência ao glifosato, herbicida para controlar plantas daninhas na lavoura. Para o consultor da Ímpar Consultoria, André Demartini De Nadai, o ideal é usar a variedade transgênica como uma ferramenta de manejo em áreas com problema de resistência ao mato. "Em área limpa não compensa." As variedades RR (roundup ready) resistem ao glifosato. Usando essa variedade por dois anos, o produtor reduz a população de plantas daninhas por um bom período e pode voltar a plantar a soja convencional.
Quanto à produtividade, acreditava-se que as variedades transgênicas eram menos produtivas. Mas, a princípio, pelo levantamento feito pelo rally, esse mito deve ser derrubado. "Não percebemos desempenho diferente. Pelo contrário, a variedade transgênica reduz o custo de produção, com aplicação de herbicida, e facilita o manejo", ressalta Pessoa.
ECONOMIA
Produtores que optaram pela soja transgênica estão satisfeitos. O sojicultor Donald da Silva Freitas, de Luziânia (GO), plantou 67% da sua área com a soja RR. Só não plantou 100% porque não tinha semente disponível no mercado. Nestas áreas, economizou R$ 80 por hectare. "Este ano tivemos maior pressão da ferrugem. Fizemos três aplicações de fungicida. O que reduziu custos foi o plantio transgênico", diz. O gasto com o pagamento de royalties foi de R$ 20 por hectare. "Fazendo as contas, compensou", diz.
Esta é a segunda safra que o produtor Jônadan Min Ma, de Uberaba (MG), planta soja transgênica. Ele já aumentou a área para 200 hectares. Para a próxima safra, ele acredita que deve chegar a 50% da área plantada com soja na fazenda. "A maior vantagem é o menor custo de produção. Reduzi de R$ 80 a R$ 100 por hectare, sem mexer na produtividade", diz.
EXPERIMENTAL
Em Zacarias (SP), o agricultor João Aparecido Lucas reservou uma pequena área, de cerca de 70 hectares, para "experimentar" o plantio de soja transgênica. Ainda não começou a colheita, mas a facilidade no manejo agradou. "Passei herbicida duas vezes e a lavoura está limpinha. E, pelo visual, a produção será boa", diz. Para a próxima safra, ele deve plantar 100% da área com transgênicos.
Na Fazenda Maruque, em Itaberá (SP), o plantio com variedades transgênicas ainda é experimental. Dos 3 mil hectares de soja, diz o gerente Edson Cagnin, foram plantados 150 hectares de transgênica. "Em comparação com a soja convencional, o manejo é muito mais fácil. Em vez de usar três herbicidas, usamos apenas um", diz o gerente. Com isso, o custo reduziu-se R$ 70 por hectare. Descontando os royalties, de R$ 30/hectare, ainda houve R$ 40 de economia. A colheita ainda não começou, mas Cagnin acredita que a produtividade será semelhante à soja convencional.
Viagem a convite da Agroconsult, para cobrir o Rally da Safra (www.rallydasafra.com.br)

OESP, 29/03/2006, Agrícola, p. G12

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