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Soja em queda desvaloriza preco das terras

FSP, Dinheiro, p.B10
26 de Jul de 2005

Valorização só acontece em áreas com lavouras de cana-de-açúcar e em regiões voltadas para reflorestamento
Soja em queda desvaloriza preço das terras
Cíntia Cardoso
Da reportagem local
O desaquecimento no mercado de soja já traz impactos para o preço das terras no Brasil. A valorização média em 12 meses -até junho deste ano- teve queda de 6%, segundo o Instituto FNP.
"As áreas que apresentam maior variação de preço são as de regiões com soja. Com a estiagem no Sul e a queda dos preços, muitos produtores estão endividados. Descapitalizados, eles não investem na compra de terras, o que pressiona o preço das terras para baixo", diz Pablo Paulino Lopes, engenheiro agrônomo do FNP.
O especialista afirma ainda que, nas regiões sojicultoras, as terras são negociadas em sacas de soja. Como o preço da commodity recuou, os preços da terra acompanharam a tendência. Em março do ano passado, a saca de 60 kg estava avaliada em R$ 50. Hoje, diz o FNP, está, em média, a R$ 28.
O desempenho da pecuária, que também passa por um momento de depreciação do valor da arroba do boi, também faz com que os preços das pastagens percam fôlego. Apesar de diversas áreas de pastagem no Brasil terem cedido espaço para atividades agrícolas, como lavouras de cana-de-açúcar, não houve valorização das pastagens bovinas restantes. "É possível que o crescimento contínuo das exportações bovinas, sem a devida reposição nos pastos, tenha esboçado uma diminuição da demanda por pastagens", diz relatório do Instituto FNP.
Mesmo com a velocidade de valorização menor do que a registrada nos anos anteriores, nos últimos 36 meses (até junho de 2005) o preço médio das terras no país registrou taxa de crescimento de 63%, acima da inflação acumulada de 49% no mesmo período, pelo IGP-DI.
Cana em alta
No Centro-Oeste, houve um pico de valorização de 122% no acumulado de 12 meses. A mesma taxa de valorização máxima que se observa para o Brasil inteiro.
De acordo com Lopes, as terras de cultura de cana-de-açúcar são as que continuam a obter volumes expressivos de valorização, especialmente em São Paulo e em algumas áreas de Mato Grosso. "O bom momento da cana está impulsionando os preços dessas terras", avalia Lopes. No Nordeste, zona tradicional de produção açucareira, as taxas de apreciação da terra não são tão altas porque as terras têm um relevo acidentado, o que torna o processo de mecanização mais difícil.
Boa parte desempenho positivo no setor sucroalcooleiro em São Paulo está atrelada aos prognósticos do crescimento da exportação de álcool. Quanto ao mercado interno, diz o FNP, o incremento das vendas de veículos bicombustíveis no Brasil também ajuda a sustentar a ampliação do mercado sucroalcooleiro.
Além da aquisição de terras, a fartura da atividade sucroalcooleira nas lavouras paulistas também tem impulsionado as vendas de tratores e de insumos.
No ranking dos preços de terras brasileiras, a cotação máxima no Sudeste atingiu R$ 23.136 por hectare. No Sul, o preço mais alto de terras chegou a R$ 27.220. Os valores são de junho deste ano.
Reflorestamento
Outro segmento que vê a valorização das terras é o de áreas destinadas ao reflorestamento. Sob a ameaça do "apagão florestal" previsto pela indústria em 2004, as empresas que necessitam da utilização de madeira chegaram a declarar que poderia haver falta de matéria-prima a partir de 2008. Essa situação causou uma busca de aquisição de terras para novos investimentos. Com isso, segundo avalia o FNP, "ocorreu uma valorização abrupta de terras de reflorestamento em todo o país, desde áreas recentes até onde já tinha ocorrido o primeiro corte. A pressão da indústria continua".
O relatório diz que, para essa atividade, há perspectivas de valorização de terras em Santa Catarina, noroeste de Minas Gerais, leste do Pará e oeste do Maranhão.
Próximo plantio
Em relação ao quadro geral no Brasil, a expectativa é a de um mercado estável nos preços de terra. Mas um fator que pode ditar o comportamento da cotação da terra nos próximos meses é o início da temporada de plantio da safra 2005/2006. Entre setembro e outubro, começam os plantios de cana-de-açúcar e de soja. "Essa safra vai ser complicada. A maioria dos produtores ainda está descapitalizada, endividada e com dificuldades de acesso a crédito", afirmou Lopes.
O Movimento Nacional de Produtores também concorda. Para a instituição, "o campo precisa de ajuda [governamental]" para preparar a próxima safra.

FSP, 26/07/2005, p. B10

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