Soja

Soja

"Ao ler o texto "Verdes querem demonizar a soja, diz Ipea" (Brasil, 23/1), tomei contato com alguns argumentos "vagabundos", apenas para mencionar um dos termos utilizados pelo próprio pesquisador do Ipea Gervásio Castro de Resende, que tenta justificar que não é possível estabelecer relação entre o plantio de soja e o desmatamento. Um dos argumentos é que a soja tem características que ajudam a floresta, facilitando a política ambiental. Segundo Gervásio, a construção de estrada para o escoamento da produção facilitaria também a fiscalização por órgãos ambientais. Ora, é óbvio que isso não condiz com a realidade e demonstra ingenuidade ou mesmo desconhecimento de aspectos básicos de biologia da conservação por parte do pesquisador. É fato sabido que as estradas, por menores que sejam, geralmente causam uma fragmentação de habitat, além de aumentarem o efeito de borda em ecossistemas ainda preservados. Vale ressaltar que as estradas também podem facilitar não somente a entrada de fiscais mas também a entrada de doenças e de caçadores. Infelizmente, com esses argumentos proferidos pelo pesquisador do Ipea, ficará cada vez mais difícil "botar economista no meio" (para usar outra expressão do pesquisador em sua entrevista) em assuntos que dizem respeito aos problemas ambientais brasileiros. Gostaria de salientar, no entanto, que considero uma lástima essa dicotomia que muitas vezes surge entre ecologia e economia, visto que ambas são ciências irmãs e, como tais, deveriam sempre andar de mãos dadas. Considero ainda que a discussão sobre o plantio da soja em várias regiões do país deva ser discutida e analisada de forma mais ampla e coerente, e não de modo evasivo e baseada em argumentos que não são compatíveis com a capacidade intelectual da maioria de nossos pesquisadores."

Gustavo Henrique Gonzaga da Silva, professor do Departamento de Ecologia da Unesp (Rio Claro, SP)

FSP, 26/01/2005, Painel do Leitor, p. A3