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Sócio da Aipa, João Paulo Capobianco, é secretário executivo do Instituto Socioambiental

Boletim Urtiga, n. 100, p. 9
30 de Nov de 1995

Sócio da Aipa, João Paulo Capobianco, é secretário executivo do Instituto Socioambiental

Ele revela que a vida de ambientalista não está fácil. O número de conselhos estaduais e federais. de projetos de lei tramitando e de sacanagens aumentou assustadoramente. Há ainda as discussões sobre certificação florestal, ISO 14.000, patenteamento, que têm importância monstruosa. "Congresso Nacional, Assembléia Legislativa, institutos de pesquisa e empresas estão trabalhando, o que exige o acompanhamento crítico dos ambientalistas. "
Resultado: a responsabilidade do ecologista aumentou exponencialmente enquanto que a capacidade institucional em alguns casos diminuiu, pela redução dos recursos financeiros. "O pior é que, com tanto trabalho, é quase impossível ser ecologista de fim de semana. Continua atuando na área quem se profissionaliza", diz. Muito requisitado pela imprensa. Capô - como é mais conhecido - conhece o jargão do jornalista. Ele lamenta que, se na cobertura econômica e política. a imprensa gera notícias, no campo do meio ambiente, ela fica esperando alguém dar um gancho quente. oÉ como se aguardasse o crime, para escrever a respeito. A problemática ambiental é complexa e de fundo, mas o tratamento dado à notícia quase sempre é superficial. " Assuntos, não faltam: "de um lado há problemas ambientais urbanos. De outro, queimadas na Amazônia, que recuperaram velocidade neste ano. Na política externa. o Brasil está atrasado com convenções internacionais", exemplifica.
Dois "cases". Primeiro: rodízio voluntário de veículos, realizado em São Paulo, em agosto. Na visão de Capô, a imprensa cobriu com competência, partindo da poluição atmosférica, para discutir até a necessidade do transporte coletivo. Mas, passada a semana, o assunto desapareceu da mídia. Segundo - lei das patentes. O noticiário se fecha no debate em tomo da pirataria, do direito de propriedade intelectual, mas não faz cobertura crítica do que isso significa para países de terceiro mundo. Por não se especializar o jornalista acaba repassando informações parciais e unilaterais.
Falando da Europa, o médico José Wennemann, que visitou a sede da Aipa em outubro, comenta que por lá o espaço da mídia para questões ambientais também diminuiu. O que chama atenção, diz ele, são as catástrofes ambientais descobertas com a abertura política na Europa do Leste. Indústrias antigas produziram a poluição do ar, da água, do solo. Agora, o esforço está na recuperação das áreas contaminadas. Vice-presidente do Lateinamerika-Zentrum que, com a União Européia, patrocina o Urtiga, ele conta que a imprensa européia também trata de questões globais, como os efeitos da redução da camada de ozônio na estratosfera. Pessoalmente, ele sente falta de notícias sobre o que o cidadão pode fazer no dia a dia. Um exemplo pessoal: filtro do cigarro não é biodegradável. Mas apesar de todo desenvolvimento, a única saída do fumante europeu que não quer poluir o chão, é guardar o toco do cigarro no bolso. Se a mídia tratasse de casos aparentemente pequenos como estes, talvez surgissem respostas das indústrias. Quanto ao Brasil, Dr. Wennemann aposta que a mídia pode ter um papel fundamental, se destacar a importância da preservação .ambiental, apesar de todas dificuldades econômicas.

Boletim Urtiga, n. 100, nov 1995, p. 9

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