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A soberania brasileira na Amazônia

OESP, Espaço Aberto, p. A2
Autor: SAMPAIO, Antonio Amaral de
20 de Nov de 2003

A soberania brasileira na Amazônia

Antonio Amaral de Sampaio

Anuncia se que as Força s Armadas, respondendo a instruções provindas do presidente da República, abrigariam a intenção de tornar mais efetiva e densa sua presença na Amazônia brasileira, onde o acentuado vácuo da ocupação humana como que convida à presença de narcotraficantes e até, sob o pretexto de defesa do meio ambiente e dos direitos dos povos indígenas, estimula a cobiça de governos estrangeiros.
Até agora dificuldades financeiras, reais ou fictícias, têm impedido que a defesa dessa vasta região receba do governo federal a atenção merecida. Tirante um restrito número de patriotas abnegados, entre os quais destaco o nome do general Rodrigo Otávio Jordão Ramos, ex-comandante militar da área, a problemática da proteção da Amazônia permanece ausente do debate que deve cercar as magnas questões nacionais. Já é tempo de que tal atitude comodista desapareça, pois, caso contrário, incide o País no risco de perder o domínio da área, colocada sob controle internacional, sob a esfarrapada desculpa do imperativo da preservação do meio ambiente e da cultura das populações nativas.
A conjuntura em que se debate a Colômbia, limítrofe da Amazônia brasileira em sua parcela de fronteira mais exposta, pode, eventualmente, vir a servir de pretexto a intervenção alienígena, concebida de sorte a eliminar a onipresente ameaça do narcotráfico e promover a indispensável restauração da plenitude da ordem pública naquele país vizinho e amigo. Com efeito, é conhecido o fenômeno que faz do narcotráfico colombiano séria ameaça às novas gerações de norte-americanos, que, no futuro, carecerão das qualidades características da plena cidadania.
Não deve ser abstraído o fato de que a inospitalidade do clima amazônico atua em favor da precariedade da presença militar na área. É mais fácil manter guarnições no Brasil meridional, onde o clima e as amenidades existenciais tornam a vida humana mais agradável, do que localizá-las no inferno verde, onde tudo é escasso, salvo os rigores do ambiente equatorial, que sempre conspiraram contra o conforto almejado por todos os seres humanos.
Parcela da carreira militar é construída a partir de sacrifícios: quanto maior o sacrifício, maior deve ser a retribuição estatal. Seria conveniente que o Ministério da Defesa, entregue neste momento a ilustre diplomata de carreira, pensasse em estabelecer critérios que induzam com seus atrativos a oficialidade das três Armas a servir na Amazônia. Bem sei que estamos longe dos tempos heróicos em que meu antepassado general Leovigildo de Paiva proclamava: Ao serviço da Nação, o sacrifício é um gozo. Mas, mesmo assim, cumpre criar incentivos à presença de corpos de tropa na vasta área que a tenacidade de nossos maiores e a vigilância do colonizador lusitano legou à geografia política brasileira.
É recente a excessiva preocupação que os países mais desenvolvidos, os chamados G8, têm demonstrado com referência à Amazônia. Como sempre, a intenção seria subtrair a região da competência do Estado brasileiro, a fim de melhor preservar o meio ambiente, a pseudocultura dos povos da floresta, entre os quais destaco as tribos ianomâmis, e o combate ao narcotráfico. No fundo, a motivação encontra na cobiça seu motor.
Certas forças alienígenas, em conluio com algumas ONGs e cultos religiosos suspeitos umas e outros subvencionados pelo capitalismo apátrida, com o até agora discreto respaldo de alguns governos de países do Hemisfério Norte, se inquietam em formular a mais espúria das doutrinas, apelidada de doutrina da ingerência, a fim de tentar justificar perante a opinião pública mundial a internacionalização da Amazônia, com argumento que o Estado brasileiro está desinteressado de exercer os atributos de sua soberania naquelas vastas regiões. Tudo isso constitui pretexto para esconder o apetite do capitalismo apátrida no que tange aos recursos minerais e à biodiversidade da floresta esquecida pelo poder federal. Em passado não muito recuado, tentativas similares já se haviam manifestado, tais como os projetos da multinacional Ford Motor Company concernentes à produção de borracha em Fordlândia e Belterra (PA), o mirabolante plano do futurologista Hermann Kahn, do Hudson Institute, da construção de um imenso lago artificial que submergiria as florestas, além da malograda iniciativa do aventureiro norte-americano Daniel Ludwig no Vale do Rio Jari, assim como o megaestelionato denominado Instituto Internacional da Hiléia Amazônica, em boa hora denunciado no Congresso Nacional pelo ex-presidente da República e na época, 1954, deputado federal Artur Bernardes.
Agora que o governo federal resolveu finalmente, depois de longa espera, conceber as verbas necessárias ao Projeto Sivam, de vigilância aérea do espaço amazônico, cumpre não deixar a obra pela metade. Que se revigore o Projeto Calha Norte, formulado durante o governo Sarney pelo general Rubem Bayma Denys, e se proceda à criação de mais Batalhões de Infantaria da Selva. Igualmente se aumente o número de unidades de Fuzileiros Navais encarregadas de controlar a rede fluvial, de sorte a obstar a ação do narcotráfico em demanda dos mercados do Hemisfério Norte e também controlar a ação dos falsos missionários alienígenas.

O embaixador Antonio Amaral De Sampaio é diplomata aposentado.
Este artigo constitui opinião pessoal

OESP, 20/11/2003, Espaço Aberto, p. A2

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