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Sivam um dos maiores sistemas de segurança do mundo

A Tribuna-Rio Branco-AC
Autor: Resley Saab
29 de Jul de 2002

Sexta-feira, 26 de julho, Aeroporto Internacional de Rio Branco. Na pista, o Bandeirantes da Rico Linhas Aéreas alinha a proa em uma das cabeceiras, gira seus motores em alta velocidade e sai do solo às 10h22.

O ciclo do vôo, que se iniciou, começa agora a ser acompanhado de perto por homens em terra, numa atividade, até pouco tempo atrás inconcebível na Amazônia e que hoje está sendo posta em prática no Acre.

Trata-se do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), ativado semana passada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em Manaus, mas cuja unidade em Rio Branco passa a cobrir a região em caráter definitivo daqui a dois meses.

Pela primeira vez, jornalistas tiveram acesso a uma base do Sivam, na região, e A Tribuna mostra com exclusividade parte do que é permitido divulgar desse trabalho, cuja missão principal é fiscalizar o espaço aéreo acreano e combater - em conjunto com as demais unidades da região -, as rotas de narcotráfico e outros ilícitos, permitindo também maior segurança a navegação aérea.

Na porta de entrada somos recebidos pelo sargento Anderson Patrick Teixeira, da Força Aérea Brasileira (FAB), um dos encarregados pelo comando da base. Cordial, o militar comunica a nossa intenção ao comando da Aeronáutica e dali a poucos minutos sai a autorização, com a ressalva de que assumamos um compromisso, o de não fotografar setores restritos.

Dentro da base, o ambiente é muito semelhante aos filmes de espionagem. Móveis bastante funcionais prateados e cabos e conexões por todo lado. Avisos em inglês e português do risco de radiação também estão fixados em algumas portas. Numa sala ao fundo ficam dois poderosos computadores que são alimentados com dados que vêm do radar, na parte externa.

Todos levam a assinatura da Raytheon, a poderosa companhia americana que é alvo de divergências e acusações de comprometer o setor estratégico brasileiro, para alguns, uma ameaça a soberania nacional. Críticas à parte, voltemos à nossa incursão. Com uma senha, Patrick abre todo o sistema para que visualizemos o espaço aéreo acreano pelo radar.

Já passa das 11 horas e na tela de fundo preto, incrivelmente surgem oito pontinhos brancos, verdes e vermelhos. Todos são aeronaves, voando num perímetro de até 251 milhas de Rio Branco (464 quilômetros). "Aqui podemos ter todas as informações possíveis do vôo em rota, observando desde a altitude e velocidade até o curso voado.

Se o piloto está mudando de destino dentro do trajeto declarado no plano de vôo, comunicamos esse procedimento à base de Manaus, onde fica a central de operações, que pode tomar providências", explica. Nos próximos meses, todo piloto será instruído a usar um código fornecido previamente para cada vôo.

"Ele será a identidade de cada aeronave no radar. Quem não o tiver será considerado clandestino". Essa, aliás, seria a condição favorável para um abate da aeronave em pleno ar, mas a lei ainda não está regulamentada no Brasil, embora já exista no Peru e na Colômbia. No Acre, além dos radares meteorológicos, há dois de fiscalização de rota, um em Rio Branco e outro em Cruzeiro do Sul. Este último, no entanto, é de uso tático e por isso móvel.

O aparelho está sobre um caminhão e se encarrega de detectar os eventuais vôos clandestinos que cruzam os céus do Juruá em direção ao Peru ou para dentro do País. Os dois radares cobrem perfeitamente todo o território acreano e parte da Bolívia e do Peru. Isso, segundo o militar, inviabiliza qualquer atividade ilícita.

A precisão desses aparelhos é tamanha a ponto de detectar e identificar um avião que esteja sobrevoando Porto Velho, a 11 mil metros de altitude. O teto mínimo de cobertura do equipamento é de 1.000 pés (300 metros). Mas, dificilmente uma aeronave consegue voar rasante por um trecho muito longo, por causa do relevo.

Supertucanos vão destruir pistas clandestinas
rastreadas em vôo no Acre

Duas aves raras poderão ser vistas nos céus acreanos, nos próximos meses. São os Supertucanos (versão melhorada do treinador Tucano), que estarão equipados com mísseis ar-ar e ar-terra e os R99A uma versão militar do jato corporativo ERJ 145, da Embraer, para vigilância radar.

Os Tucanos farão o trabalho de interceptação de aeronaves não-identificadas, mas principalmente, destruirão pistas clandestinas na região. "O Supertucano é uma aeronave que supera em muito os caças supersônicos na precisão de alvos em terra. Por isso, foi escolhido", diz o sargento Anderson Patrick.

Em Manaus, o presidente da comissão de instalação do Sivam, brigadeiro Teomar Quírico, informava que esses aviões ficam em Boa Vista e em Porto Velho e permanecem em estado de alerta para agir sempre que for necessário. Em paralelo, os aviões R99A se encarregam de detectar antecipadamente onde estarão essas pistas e as aeronaves que devem ser interceptadas.

"A base dessas aeronaves fica em Anápolis (GO), mas a cada dois meses eles estarão aqui conosco", diz o militar. Todo o projeto custou R$ 1 bilhão aos cofres públicos, para cobrir uma área de 9 milhões de quilômetros quadrados.

Vencedora do Sivam já teve ajuda do
governo dos EUA contra franceses

A disputa entre fornecedores americanos e franceses pelo sistema de controle de tráfego aéreo no Brasil dura três décadas, marcadas por lobby intenso e pela interferência dos dois governos em defesa de suas empresas.

Nesta semana, o jornal Folha de S. Paulo revelou que espionagem do governo dos EUA e a ajuda de um militar brasileiro garantiram à companhia norte-americana Raytheon a conquista do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), projeto de US$ 1,4 bilhão de proteção da região que foi inaugurado anteontem. Sua principal concorrente foi a francesa Thomson-CSA.

Nos anos 70, a Raytheon e o governo francês disputaram um contrato com a Aeronáutica. Em 1971, às vésperas da visita do presidente Emílio Garrastazu Médici a Washington, o astronauta William Anders, que deixara a Nasa e trabalhava como assessor da Casa Branca, tentou convencer o presidente Richard Nixon a pressionar o governo brasileiro a contratar a Raytheon para instalar o Cindacta (Centro Integrado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo).

O chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Marcos Antonio de Oliveira, nega favorecimento. "Nunca houve nada que pudesse ser interpretado como colaboração para nenhuma das empresas. Não foi só para ela, para nenhuma delas". Segundo o brigadeiro, o tratamento foi equânime

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