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Sivam ainda e pouco aproveitado na Amazonia

O Globo, O Pais, p.17
24 de Out de 2004

Sivam ainda é pouco aproveitado na Amazônia
Equipamentos que custaram US$1,4 bilhão até hoje não são usados para combate a desmatamento e garimpo ilegal
MANAUS. Catorze anos depois de começar a ser projetado, e há quase dois anos em funcionamento, o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) tem sido pouco usado pelos órgãos do governo. Planejada para ser grande fonte de informações sobre as mais diversas áreas da Amazônia brasileira, a parafernália que custou quase US$1,4 bilhão já poderia estar sendo explorada em larga escala no combate ao narcotráfico, a garimpos ilegais e ao desmatamento na floresta, mas está subutilizada.
Os aparelhos têm servido muito mais às Forças Armadas do que aos órgãos civis. A Força Aérea Brasileira (FAB) é quem mais aproveita, principalmente para controlar o espaço aéreo amazônico. Do lado civil, a capacidade dos equipamentos de fazer mapas, imagens aéreas de alta definição e até análises geológicas ainda é pouco conhecida, apesar de órgãos como Ibama e Incra estarem começando a explorar os serviços.
Na última semana, foram feitos os testes finais de integração da rede, que inclui desde radares até aviões de vigilância de última geração. Sob a responsabilidade da FAB desde o início do projeto, o sistema agora troca de comando. O nome Sivam sai de cena. Tudo passa a ser parte do Sipam, o Sistema de Proteção da Amazônia, pilotado pela Casa Civil da Presidência da República.
Para os militares, o lamento por perder o controle oficial sobre um projeto desenvolvido por eles soma-se às críticas à subutilização da tecnologia.
— Nós da Força Aérea estamos usando o conhecimento proporcionado pelo sistema para fazer o que nos compete. Falta mais ação dos órgãos do governo para fazer o mesmo — critica o brigadeiro-do-ar José Orlando Bellon, subchefe do Estado-Maior da FAB e um dos responsáveis pela execução do Sivam.
Para utilizar os serviços do sistema, basta aos órgãos fazer o pedido ao Censipam, centro responsável por gerenciar o Sipam. Para citar um exemplo da baixa demanda, das 500 horas de vôo dos aviões-radar que o Censipam pode oferecer este ano, até semana passada apenas 109 haviam sido usadas.
— A demanda ainda está abaixo do esperado. Há órgãos que não perceberam até hoje o que o sistema pode oferecer — admite o diretor-executivo do Censipam, Edgar Fagundes.

Após 2 anos, 98% dos equipamentos estão instalados
Sivam tem 19 radares fixos, 6 móveis e mais de 10 meteorológicos
SERRA DO CACHIMBO (PA). Na selva amazônica, em uma grande clareira desponta a estrutura de ferro que dá sustentação a um dos principais elementos do sistema planejado para vigiar a Amazônia. O radar que gira na Serra do Cachimbo, sul do Pará, está ali cumprindo uma tarefa crucial: ao mesmo tempo em que ajuda as torres de controle aéreo a coordenar o tráfego legal de aviões civis, inclusive os de carreira, serve para monitorar o zigue-zague de aeronaves clandestinas que todos os dias cruzam o céu da Amazônia.
Por uma antena parabólica de pouco mais de um metro de diâmetro, os dados são transmitidos em tempo real para um centro de controle em Manaus e, ao mesmo tempo, para os computadores do Centro de Defesa Aérea Brasileira, em Brasília. Ao todo, 19 radares fixos espalhados pela Amazônia desempenham a mesma função. Além deles, há ainda seis radares militares móveis, que podem ser deslocados para qualquer ponto da floresta ou fora dela, e mais de dez radares meteorológicos, plataformas fluviais de coleta de dados, detectores de raios e estações para receber dados de satélites.
Tudo o que é captado por esses equipamentos converge para os três centros regionais de vigilância, em Manaus (AM), Belém (PA) e Porto Velho (RO), que são coordenados por uma central em Brasília. Para os mesmos lugares, seguem ainda informações provenientes de uma rede de centenas de telefones via satélite distribuídos em aldeias, povoados isolados e postos da Funai e do Ibama.
O sistema também tem olhos no céu, por meio de cinco aviões com radares de vigilância aérea e três com equipamentos de sensoriamento remoto, capazes de fazer mapas, análises geológicas e até gravar em vídeo a ação de alvos em terra.
Após dois anos de funcionamento, 98% dos equipamentos estão instalados. As informações são processadas e reunidas num sistema informatizado que, se bem usado, possibilita um raio-x de toda a Amazônia. O objetivo do projeto é possibilitar que os dados sirvam para vigilância ambiental e territorial, monitoramento de comunicações suspeitas, acompanhamento do clima e para planejamento de operações na região.
O US$1,4 bilhão, financiado com capital externo, começa a ser pago pelo Brasil ano que vem. Desde seu início, em 1990, o projeto é alvo de polêmicas. A principal delas surgiu quando a empresa americana Raytheon venceu a concorrência contra a francesa Thompson, em disputa repleta de acusações de irregularidades. (R.R.)
O repórter Rodrigo Rangel viajou a convite da Comissão Coordenadora do Sivam

O Globo, 24/10/2004, p. 17

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