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Sistema prevê desmate na Amazônia

FSP, Ciência, p. C11
08 de Jan de 2011

Sistema prevê desmate na Amazônia
Cientistas criaram um modelo matemático que promete apontar com precisão quais áreas serão desmatadas
Cerca de 3.700 km2 de floresta tem alto risco de serem desmatados; Pará se consolida como Estado mais vulnerável

Giuliana Miranda

A Amazônia ganhou uma espécie da bola de cristal para prever o desmatamento.
Cientistas do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), cujo monitoramento mensal de desmatamento é utilizado como referência no país, desenvolveram um novo sistema que consegue calcular os riscos à floresta.
O modelo matemático, que levou um ano para ser desenvolvido, combina fatores naturais, como o tipo de solo e a composição das florestas, a aspectos socioeconômicos de cada região. Também entram na conta os dados dos monitoramentos via satélite do Imazon.
O modelo indicou que, até julho de 2011, 3.700 km2 - quase duas cidades de São Paulo- serão ameaçados pelo desmatamento.
A maior parte disso, 67%, fica no Pará, que já lidera as estatísticas oficiais de desmatamento no país.
O segundo colocado no levantamento, Mato Grosso, vem bem depois, com 13% da área ameaçada.
"Os resultados seguiram o padrão de desmatamento que já vínhamos observando há alguns anos", disse à Folha Carlos Souza Jr, pesquisador e coordenador do programa de monitoramento da Amazônia do Imazon.
O estudo confirma as estradas como um dos maiores vetores de destruição da floresta. Regiões próximas à BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA), já começaram a ser degradadas e o processo tende a se intensificar.
Os cientistas avaliaram também as rotas não oficiais, em geral abertas irregularmente por madeireiros e especuladores. Segundo estimativas do Imazon, elas já cortam milhares de quilômetros floresta a dentro.
Sem qualquer regulação, essas rotas clandestinas podem provocar estragos até maiores do que as rodovias "oficiais" mais movimentadas da região.
A maioria das florestas vulneráveis, 59%, estão áreas privadas ou sob algum tipo de ocupação. Os assentamentos de reforma agrária vêm atrás, com 25%.
O menor risco está nas terras indígenas, que têm apenas 4% da área ameaçada.

INÉDITO

Já existiam alguns projetos de previsão do desmatamento, mas eles normalmente trabalham com intervalos maiores de tempo, o que dificultava o "contra-ataque" rápido à derrubada.
Na primeira edição, o modelo do Imazon calcula os números para o período de agosto de 2010 a julho de 2011. A confiança estatística é de até 95%.
"Nós já tínhamos ferramentas muito boas para monitorar o desmatamento, mas isso era pouco, porque não podemos voltar atrás e impedir o que já está feito" disse Souza Jr.
"Com a previsão do risco de desmatamento, nós podemos atuar antecipadamente para salvar a vegetação. O objetivo, claro, é que nós consigamos agir rápido e impedir que essas previsões se concretizem", afirmou ele.
Para Souza Jr, a ferramenta pode servir para orientar políticas públicas de combate ao desmatamento.
A íntegra do trabalho, assim como os mapas, estarão disponíveis a partir de hoje no site do instituto (www.imazon.org.br).

Desmatamento deve ser baixo, como em 2010

De São Paulo

Os cientistas conseguem identificar com grande precisão onde estarão 3.700 km2 de área de desmatada até julho de 2011. A estimativa deles é que entre agosto de 2010 e esse mês, 7.500 km2 terão sido derrubados.
Seria um pouco mais do que o desmatamento entre agosto de 2009 e julho de 2010 (os monitoramentos usam sempre o período entre esses meses como ano fiscal). Nesse intervalo, ele ficou em 6.450 km2 -o menor número já registrado pelo monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Mesmo acima das estimativas do governo, que projetava algo em torno de 5.000 km2, o resultado de 2010 foi considerado positivo pelos ambientalistas.
Isso porque, tradicionalmente, o desmatamento costuma se intensificar em períodos de economia aquecida e de eleições -a fiscalização afrouxa.
Assim como o Inpe, o Imazon também realiza monitoramentos periódicos da Amazônia por satélite. Embora muitas vezes usem métodos de análise diferentes, os resultados não costumam ser muito divergentes.
Em geral, tendências de queda ou alta dos desmate na Amazônia são identificadas de forma semelhante pelas instituições.
De acordo como governo brasileiro, a meta é reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% até 2020.
O Imazon ainda não divulgou o relatório final de 2010, mas os resultados preliminares também indicam queda no desmatamento em relação ao ano anterior.
O balanço completo do ano deve ser divulgado no mês que vem pelo instituto, junto com os primeiros números de 2011.
Procurado pela Folha, o Inpe, pela sua assessoria, disse que não teve acesso ao modelo matemático do Imazon e preferiu não comentar suas previsões.

FSP, 08/01/2011, Ciência, p. C11

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0801201102.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0801201103.htm

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